📝RESUMO DA MATÉRIA
- Semelhante ao tabagismo, o uso de cigarros eletrônicos ou vape está associado a um aumento do risco de insuficiência cardíaca
- Aqueles que usaram cigarros eletrônicos em qualquer momento da vida tiveram 19% mais chances de desenvolver insuficiência cardíaca em comparação com aqueles que nunca usaram
- Comparado aos não fumantes, os vapers também têm maior probabilidade de ter um ataque cardíaco ou doença arterial coronariana
- Uma epidemia de jovens está enfrentando uma lesão pulmonar associada ao uso de cigarros eletrônicos ou vape, conhecida como EVALI, que pode levar à hospitalização e à morte
- Os cigarros eletrônicos não devem ser considerados uma ferramenta para parar de fumar, pois em geral eles contêm nicotina e são projetados para que você continue a usá-los – assim como os cigarros
🩺Por Dr. Mercola
É um mito que os cigarros eletrônicos (e-cigarros) sejam mais seguros para a saúde do que os cigarros normais. Semelhante ao tabagismo, o uso de cigarros eletrônicos ou vapes, em qualquer momento da vida, está associado a um maior risco de insuficiência cardíaca, de acordo com uma pesquisa publicada pelo American College of Cardiology.
É uma descoberta preocupante para 4,5% dos adultos norte-americanos – dentre eles, 11% com idade entre 18 e 24 anos – que utilizam esses produtos. Entre os estudantes do ensino médio e fundamental, o uso de cigarros está em seu nível mais baixo de todos os tempos. Em vez disso, os cigarros eletrônicos – também conhecidos como vapes e canetas vaporizadoras – são o produto de tabaco mais utilizado, com mais de 1 em cada 4 utilizando-os todos os dias e 1 em cada 3 utilizando-os em pelo menos 20 dos últimos 30 dias.
Talvez atraídos pelos sabores de frutas e doces – 9 em cada 10 jovens usam cigarros eletrônicos com sabor – ou pela falsa ideia de que são seguros, os jovens que usam cigarros eletrônicos podem estar se colocando em risco de enfrentar uma vida inteira com problemas de saúde.
Cigarros eletrônicos aumentam o risco de insuficiência cardíaca em 19%
Usando dados de saúde dos Institutos Nacionais de Saúde, os pesquisadores acompanharam 175.667 pessoas com idade média de 52 anos por 45 meses. Aqueles que usaram cigarros eletrônicos em algum momento da vida tiveram 19% mais chances de desenvolver insuficiência cardíaca em comparação com aqueles que nunca usaram.
O Dr. Yakubu Bene-Alhasan, médico da MedStar Health em Baltimore e principal autor do estudo, destacou: “Cada vez mais estudos estão associando os cigarros eletrônicos a efeitos nocivos e descobrindo que eles podem não ser tão seguros quanto se pensava”. “A diferença que observamos foi significativa. Vale a pena considerar as consequências para a sua saúde, sobretudo no que diz respeito à saúde do coração.”
A insuficiência cardíaca é uma condição crônica e progressiva em que o músculo cardíaco é incapaz de bombear sangue e oxigênio suficientes para atender às necessidades do corpo. Embora o coração não tenha parado de funcionar, sua capacidade de bombear é mais fraca que o normal ou ele não consegue se encher de sangue o suficiente. O aumento do risco pelo uso de vapes foi significativo para insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP), mas não para insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFER).
A insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada, ou insuficiência cardíaca diastólica, ocorre quando o músculo cardíaco se contrai normalmente, mas os ventrículos não relaxam como deveriam durante o enchimento do coração. Na insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida, também conhecida como insuficiência cardíaca sistólica, o músculo cardíaco não se contrai de forma eficaz e a quantidade de sangue bombeada para o corpo é inferior ao normal.
Estudos em animais também revelaram que o uso de cigarros eletrônicos causa mudanças no coração semelhantes às que ocorrem na insuficiência cardíaca. Estudos humanos anteriores associaram fatores de risco para o desenvolvimento de insuficiência cardíaca ao uso de cigarros eletrônicos.
“Acho que esta pesquisa já deveria ter sido feita há muito tempo, considerando o quanto os cigarros eletrônicos ganharam popularidade”, disse Bene-Alhasan. “Não queremos esperar muito para descobrirmos que isso pode ser prejudicial e, até lá, muitos danos já podem ter sido causados. Com mais pesquisas, conseguiremos descobrir muito mais sobre as potenciais consequências para a saúde e melhorar a informação ao público”.
É mais provável que você tenha um ataque cardíaco se usar vape
Bene-Alhasan descreveu o estudo apresentado como “um dos estudos mais abrangentes” para avaliar a relação entre cigarros eletrônicos e insuficiência cardíaca até o momento. No entanto, pesquisas anteriores revelaram que usar vape aumenta o risco de doenças cardíacas.
O estudo apresentado na Sessão Científica Anual do American College of Cardiology de 2019, descobriu que os fumantes adultos de cigarros eletrônicos têm um risco muito maior de doenças cardíacas e problemas de saúde mental do que os não fumantes, mesmo depois de controlar fatores de risco conhecidos, como índice de massa corporal e pressão alta. Comparados aos não fumantes, os vapers tinham:
- Uma probabilidade 34% maior de ter um ataque cardíaco
- Uma probabilidade de 25% uma de doença coronariana
- 55% mais probabilidade do que não fumantes com os mesmos fatores de risco de sofrer de depressão ou ansiedade
Dr. Mohinder Vindhyal, o autor do estudo e professor assistente da Escola de Medicina da Universidade de Kansas em Wichita, disse em um comunicado à imprensa:
“Quando o risco de ataque cardíaco aumenta em até 55% entre os usuários de cigarros eletrônicos em comparação com os não fumantes, eu não gostaria que nenhum dos meus pacientes nem meus familiares usassem vape. Quando investigamos mais a fundo, descobrimos que não importa a frequência que alguém usa cigarros eletrônicos, se todos os dias ou apenas em alguns, pois ainda há maior probabilidade de ter um ataque cardíaco ou doença arterial coronariana”.
Além disso, de acordo com o American College of Cardiology, os cigarros eletrônicos podem ser tão prejudiciais ao coração quanto fumar cigarros. Ele observou: “A pesquisa mostrou que o uso de cigarros eletrônicos ou tabaco normal levou a níveis semelhantes de rigidez na aorta, a principal artéria do coração. Ambos aumentaram a pressão arterial.”
Como funcionam os cigarros eletrônicos?
Os cigarros eletrônicos fornecem nicotina, aromatizantes e outros produtos químicos na forma de aerossol, que os usuários inalam. Para imitar o ato de fumar sem queimar tabaco, os cigarros eletrônicos contêm uma bateria que alimenta um atomizador – um elemento de aquecimento para vaporizar o líquido eletrônico.
O e-líquido é o fluido que fornece o sabor e, em muitos casos, o teor de nicotina dos cigarros eletrônicos. Embora a maioria dos cigarros eletrônicos contenha nicotina, muitos usuários jovens afirmaram não estar cientes disso. Os cigarros eletrônicos JUUL, que têm o formato de um pendrive USB, podem conter tanta nicotina quanto 20 cigarros tradicionais em um único pod.
O e-líquido é mantido dentro de um cartucho, que pode ser recarregável. Muitos cigarros eletrônicos possuem um sensor que detecta quando uma pessoa dá uma tragada e ativa o aquecedor. Outros possuem um botão manual que os usuários devem pressionar para ativar o dispositivo. Quando isso ocorre, o calor da bobina do atomizador vaporiza o e-líquido no cartucho, criando um aerossol ou “vapor”.
O vapor é inalado e exalado, liberando o vapor no ar, que se parece um pouco com fumaça, mas na verdade é uma névoa de partículas finas.
Compostos tóxicos são comuns em vapes
O que há no líquido e no vapor do cigarro eletrônico? Alguns dos compostos tóxicos dos cigarros eletrônicos e suas possíveis consequências para os humanos foram descritos por uma revisão na revista Life:
Cigarros eletrônicos podem prejudicar a função imunológica
Os neutrófilos, um tipo de glóbulo branco, servem como um mecanismo de defesa inicial do sistema imunológico. Eles circulam no corpo, capturando e neutralizando bactérias e outros patógenos que podem causar doenças. Uma equipe da Universidade de Birmingham coletou neutrófilos através de amostras de sangue de voluntários saudáveis que não fumaram nem usaram vape.
Os pesquisadores expuseram esses neutrófilos a 40 baforadas de vape sem sabor, o que é considerado uma baixa quantidade de exposição diária. Metade das amostras foi exposta a vapor com nicotina, enquanto a outra metade foi exposta a vapor sem nicotina.
A exposição não matou as células, mas prejudicou a sua mobilidade, tornando-as incapazes de proteger o corpo de forma eficaz. Aaron Scott, professor associado de ciências respiratórias na Universidade de Birmingham e principal autor do estudo, explicou:
“Descobrimos que após uma exposição curta e de baixo nível ao vapor do cigarro eletrônico, as células permanecem vivas, mas não conseguem mais se mover de forma tão eficaz e são incapazes de realizar suas funções normais de proteção. E os mesmos efeitos negativos do vapor dos e-líquidos que continham nicotina também foram observados no vapor dos e-líquidos que não continham nicotina.
Os cigarros eletrônicos são uma ferramenta comprovada de menor risco para ajudar os fumantes a parar de fumar, mas nossos dados se somam às evidências atuais de que os cigarros eletrônicos não são inofensivos e destacam a necessidade de financiar estudos de longo prazo sobre vapes”.
O acúmulo de microfilamentos, em específico a F-actina, pode explicar o fenômeno. As altas concentrações de F-actina, resultou em células menos capazes de se mover e funcionar, quando os neutrófilos foram expostos ao vapor dos cigarros eletrônicos. O tabagismo convencional também é conhecido por afetar os neutrófilos.
Os resultados podem ter implicações significativas para a saúde pulmonar dos usuários de cigarros eletrônicos, uma vez que os neutrófilos protegem os pulmões movendo-se do sangue para o local de possível lesão.
Também é possível lesão pulmonar associada ao uso de cigarro eletrônico ou vaping, conhecida como EVALI. Isso se refere a uma doença pulmonar grave que ocorre em pessoas que usam cigarros eletrônicos, sugerindo ser devido ao acetato de vitamina E e outros compostos dos produtos. Em 2020, ocorreu um surto de pelo menos 2.807 casos de EVALI nos EUA, a maioria exigindo hospitalização, além de casos de mortes relatados.
“Em sua essência, a EVALI é uma doença grave que afeta sobretudo os pulmões e resulta em um número considerável de hospitalizações e mortes em uma população jovem e saudável nos Estados Unidos”, afirmou Meghan Rebuli, professora assistente do Departamento de Pediatria da Escola de Medicina da Universidade da Carolina do Norte, em um comunicado de imprensa.
“Essa epidemia é causada em grande parte pela natureza não regulamentada e em rápida evolução da indústria de cigarros eletrônicos e destaca a necessidade de ação contínua por parte dos pesquisadores e das agências governamentais”.
Evite cigarros eletrônicos como uma ferramenta para parar de fumar
Lembre-se de que os cigarros eletrônicos são projetados para que você continue a usá-los – assim como os cigarros. Em geral, eles também contêm nicotina, o que significa que seu uso pode levar ao vício e à dependência prolongada da nicotina – como os cigarros. A National Academies of Sciences observou que os cigarros eletrônicos podem fazer com que os jovens vapers façam uma transição para o uso de tabaco.
Trocar o cigarro tradicional pelo vape é o mesmo que trocar um veneno por outro. A melhor maneira de parar de fumar – sejam cigarros tradicionais ou cigarros eletrônicos – é focar em tornar seu estilo de vida positivo e saudável. O movimento diário regular é importante, assim como uma alimentação saudável.
Uma excelente ferramenta de apoio para lidar com os desejos que surgem ao parar de fumar, é a Técnica de Libertação Emocional (EFT). Isso pode ajudá-lo a reprogramar as reações do seu corpo aos desejos, ajudando-o a parar de fumar com sucesso. Aplicativos baseados em mindfulness são outra ferramenta que você pode usar para ajudar a reduzir a atividade na área do córtex cingulado posterior (CCP) do cérebro. Nos fumantes, o CCP é ativado em resposta a sinais específicos ligados ao tabagismo.
Fonte: mercola