📝RESUMO DA MATÉRIA

  • Seu endotélio é o grupo coletivo de células que revestem seus vasos sanguíneos, representando cerca de 1% de sua massa corporal e uma área de superfície de 5.000 m²
  • O endotélio está envolvido em diversas doenças, como doenças cardíacas, diabetes e insuficiência renal crônica
  • Framboesa negra reduz inflamação e melhora a função endotelial, além de diminuir risco de doenças cardiovasculares
  • Consumir chá-verde está ajuda no aumento na dilatação mediada por fluxo (FMD) da artéria braquial, uma medida da função do endotélio
  • Romã, extrato de semente de uva e alho são outros compostos naturais que ajudam a saúde endotelial

🩺Por Dr. Mercola

Seu endotélio é o grupo coletivo de células que revestem os vasos sanguíneos. Representando cerca de 1% da massa corporal e uma área de superfície de 5.000 m², o endotélio foi descrito como um “órgão endócrino multifuncional colocado entre a parede do vaso e o sangue circulante.”

Uma única camada de células endoteliais reveste a superfície interna de todo o sistema vascular, separando o sangue da parede do vaso. Esta “barreira tecido-sangue” é semipermeável e é crucial na regulação da transferência de moléculas, assim como na homeostase vascular.

Embora a disfunção endotelial seja um indicador de diversas doenças, incluindo doenças cardiovasculares, há muitas opções naturais para proteger o endotélio e mantê-lo saudável.

A importância do seu endotélio para a saúde

Embora fosse considerado uma simples barreira, o endotélio é agora considerado um órgão endócrino dinâmico fundamental para a saúde humana. Segundo o International Journal of Biological Sciences:

“O endotélio já foi considerado o “invólucro de celofane” da árvore vascular, com função apenas de proporcionar permeabilidade seletiva à água e aos eletrólitos. Porém, os avanços desde 1980 trouxeram à compreensão das funções complexas desse grande órgão endócrino. As células endoteliais vasculares revestem todo o sistema circulatório, desde o coração até os menores capilares.

Essas células têm funções muito distintas e únicas, cruciais para a biologia vascular. Essas funções incluem filtração de fluidos, como nos glomérulos dos rins, tônus ​​dos vasos sanguíneos, hemostasia, recrutamento de neutrófilos e tráfego hormonal.”

As células endoteliais, além de servirem como barreira física, elas metabolizam, sintetizam e liberam compostos vasoativos e outros que afetam o tônus ​​vascular, a pressão arterial, o fluxo sanguíneo, a coagulação, a fibrinólise, a inflamação, as reações imunológicas, entre outros.

Segundo uma revisão do World Journal of Cardiologia, “Qualquer perturbação que afete a capacidade e o equilíbrio do endotélio como barreira física e de metabolizar, sintetizar e liberar essas substâncias causará disfunção endotelial, contribuindo para o desenvolvimento e progressão de doenças cardiovasculares.” Além disso, o endotélio está envolvido em diversas doenças, incluindo:

Doença vascular periférica

Derrame

Problemas cardíacos

Diabetes

Resistência à insulina

Insuficiência renal crônica

Crescimento tumoral e metástase

Trombose venosa

Doenças infecciosas virais

Opções naturais para a saúde endotelial

Um estilo de vida saudável, com dieta e exercício físico, apoia a função endotelial, mas algumas substâncias da natureza também podem ser benéficas.

Framboesa preta — As antocianinas, os flavonóides mais abundantes nas framboesas pretas, possuem efeitos anti-inflamatórios e antiangiogênicos, que ajudam a prevenir a angiogênese, podendo promover o câncer. O extrato de framboesa preta teve efeitos antiangiogênicos e anti-inflamatórios nas células endoteliais microvasculares intestinais e nas endoteliais microvasculares esofágicas humanas.

A framboesa preta também aumentou as células progenitoras endoteliais circulantes (EPCs) e melhorou os riscos cardiovasculares após 12 semanas, em um estudo realizado em pacientes com síndrome metabólica. Outras pesquisas realizadas em pessoas com síndrome metabólica, também revelaram que a framboesa preta reduziu muito as citocinas inflamatórias, melhorando a função endotelial vascular.

Estudos realizados em animais também sugerem que a framboesa preta reduziu os marcadores de inflamação, melhorou a função endotelial e reduziu os fatores de risco de doenças cardiovasculares. Flavonóides como os das framboesas pretas até aliviam a disfunção da barreira endotelial vascular induzida por produtos finais de glicação avançada.

Acredita-se que o metabolismo dos flavonóides esteja envolvido em sua função benéfica para a saúde cardiovascular, visto que, o metabolismo aumenta a eficácia vascular dos flavonóides, “resultando numa diversidade de estruturas de bioatividade variável nas células endoteliais humanas.”

Chá-verde — Consumir chá-verde está ajuda no aumento na dilatação mediada por fluxo (FMD) da artéria braquial, uma medida da função do endotélio.

“O efeito benéfico do chá-verde na função endotelial pode ser atribuído ao seu alto teor de flavonoides. Como foi demonstrado, o galato de epigalocatequina, uma das principais catequinas do chá, melhora a função endotelial em pessoas que apresentam doença arterial coronariana,” segundo os pesquisadores no European Journal of Preventive Cardiology.

O chá verde também aumenta a produção de óxido nítrico pelas células endoteliais, podendo aumentar a função vascular através de vias anti-inflamatórias. Segundo os cientistas do European Journal of Preventive Cardiology:

“A função endotelial é crucial para o bom funcionamento do sistema cardiovascular, e sua disfunção é fundamental para a progressão da aterosclerose. O efeito benéfico do chá-verde no risco cardiovascular pode ser explicado pela melhoria da disfunção endotelial… o chá-verde apresenta benefícios para a função endotelial em pessoas saudáveis.”

O chá-verde também é rico em quercetina. O consumo de extrato de polifenol de uva vermelha rico em quercetina levou a um aumento na dilatação das artérias mediada pelo fluxo, em um estudo com 30 homens com doença coronariana, o que pode sinalizar uma melhora na saúde endotelial. Também ajudam a reduzir a pressão arterial e a prevenir a hipertrofia cardíaca, na qual os músculos cardíacos ficam mais espessos, por inibirem a agregação plaquetária e possuírem propriedades vaso-relaxantes.

Extrato de semente de uva — O extrato de semente de uva contém proantocianidinas antioxidantes, um tipo de polifenol que também trás benefícios para a função endotelial, protegendo assim a saúde do coração. Escrevendo na revista Nutrients, cientistas da Universidade Médica e Odontológica de Tóquio observaram:

“Foi demonstrado nos últimos anos, que o comprometimento da função endotelial é crucial nos estágios iniciais da aterosclerose, ligando fatores de risco cardiovasculares, como hipertensão, dislipidemia, diabetes mellitus e tabagismo crônico, à disfunção endotelial.

O óxido nítrico (NO), um fator relaxante dependente do endotélio, também é fundamental no controle da PA [pressão arterial]. Portanto, a preservação da função endotelial normal e a regulação da PA são de fato importantes na prevenção da progressão para DCV.”

No estudo com adultos de meia-idade com pré-hipertensão, os participantes receberam extrato de proantocianidina de semente de uva em doses baixas ou altas ou um placebo por 12 semanas. O extrato de semente de uva melhorou a elasticidade vascular, enquanto o extrato de semente de uva em altas doses também reduziu a pressão arterial.

Romã — Devido ao seu elevado teor de polifenóis, a romã ajuda contra o estresse oxidativo, sendo muito importante na disfunção endotelial. A romã contém compostos anti-hipertensivos, antiaterogênicos, anti-hiperglicêmicos e antiinflamatórios que protegem a saúde do coração, melhorando a função endotelial.

Ao descrever seu papel protetor na disfunção endotelial, pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo em Vitória, Brasil, explicaram:

“Mostramos que os componetes da romã (por exemplo, taninos, flavonóides, fitoestrógenos, antocianinas, alcalóides, etc.), apresentam efeitos benéficos no sistema cardiovascular, melhorando parâmetros como o estresse oxidativo e o sistema antioxidante enzimático, reduzindo a reatividade formação de espécies de oxigênio e atuação anti-inflamatória.”

Muitos dos polifenóis benéficos da romã, estão em sua casca, sendo por esse motivo que o pó de casca de romã é um dos meus suplementos favoritos.

Uma pesquisa demostra que a casca da romã contém mais da metade da quantidade de antioxidantes que a polpa da fruta, os fenólicos, os flavonoides e as proantocianidinas, e que a capacidade de proteção das LDL contra a oxidação na casa é muito superior à polpa.

Outra pesquisa descobriu que o extrato de casca de romã rico em polifenóis melhorou a disfunção endotelial em ratos, modulando a microbiota intestinal.

Alho — É um poderoso antioxidante que ajuda no combate de espécies reativas de oxigênio (ROS) em seu corpo. Em um estudo, o extrato de alho envelhecido reduziu as ERO, ajudando a prevenir a disfunção endotelial. Para apoiar a saúde do coração e proteger contra eventos relacionados ao coração, como ataque cardíaco, as propriedades terapêuticas do alho podem atuar em sinergia.

Enquanto uma preparação de alho e ervas bloqueou a progressão da aterosclerose 1,5 vezes em mulheres na pós-menopausa, com o benefício durando 12 meses, a suplementação de AGE pode aumentar a microcirculação, ajudando a prevenir o processo aterosclerótico. Além disso, de acordo com uma revisão publicada na revista Antioxidants:

“Graças aos efeitos sinérgicos de seus componentes nutricionais e fitoquímicos, com base nas pesquisas atuais, o alho pode reduzir muito o risco de aterosclerose, hipertensão, diabetes, hiperlipidemia, infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral isquêmico. 

São em geral acompanhadas de estresse oxidativo, disfunção endotelial e citocinas inflamatórias, por exemplo, a aterosclerose e a inflamação vascular. O alho tem um papel potencial na prevenção e tratamento da aterosclerose e do infarto do miocárdio, do ponto de vista dietético.”

A capacidade de reduzir os níveis de pressão arterial está entre os efeitos protetores do alho. O alho preto envelhecido (ABG), pode ser benéfico, porque contém mais antioxidantes que o alho normal. Embora não se saiba de fato como o alho pode reduzir a pressão arterial, os cientistas observaram que o extrato de ABG ajuda a melhorar a vasodilatação e os níveis de óxido nítrico sintase endotelial (eNOS), entre outros benefícios.

Enzimas fibrinolíticas — A ligação entre as enzimas e o endotélio foi destacada durante a pandemia de COVID-19. Estudos sugeriram que danos ao endotélio contribuíram para o desenvolvimento de coágulos sanguíneos, ou trombose, nos vasos sanguíneos de pacientes em situações graves de COVID-19.

Quando os médicos da Escola de Medicina de Yale começaram a realizar testes de coagulação em seus pacientes, descobriu-se que os níveis do fator Von Willebrand (VWF), uma proteína de coagulação liberada pelas células endoteliais, estava elevada, sugerindo que as células endoteliais danificadas podem estar liberando grandes quantidades de VWF, levando à formação de coágulos.

“Foi mostrado que a endoteliopatia está presente no COVID-19 e pode estar associada a doenças sérias e até mesmo morte. Segundo os investigadores, a identificação precoce da endoteliopatia e estratégias para reduzir sua progressão podem melhorar os resultados na COVID-19.”

Em condições saudáveis, as células sanguíneas podem passar através do endotélio que reveste os vasos sanguíneos, mas quando expostas a infecções virais e outros agentes inflamatórios, o endotélio torna-se pegajoso e liberta FVW. O resultado final é uma cascata de coagulação e inflamação, ambas características da COVID-19 grave.

No European Heart Journal afirma-se: “COVID-19, nas fases complicadas mais avançadas, representa uma doença endotelial.” E por isso as enzimas são importantes. Os pesquisadores relataram 3 estudos de caso de pacientes com insuficiência respiratória grave por COVID-19 que foram tratados com ativador de plasminogênio tecidual (TPA), uma enzima serina protease encontrada em células endoteliais que está envolvida na fibrinólise ou na quebra de coágulos sanguíneos. Todos os 3 pacientes se beneficiaram do tratamento.

Além do COVID-19, outro estudo envolveu 1.062 pessoas com hiperlipidemia leve e/ou aterosclerose leve. Eles utilizaram a enzima nattokinase, que “administrou a progressão da aterosclerose e da hiperlipidemia com uma melhora significativa no perfil lipídico.”

Foi observada redução significativa na espessura íntima-média da artéria carótida, uma medida da extensão do espessamento arterial relacionado à disfunção endotelial, com taxas de melhora variando de 66,5% a 95,4%.

É importante entender que essas enzimas para terapia fibrinolítica, precisam ser ingeridas com o estômago vazio, no mínimo 1 antes ou 2 horas após as refeições que contêm proteínas. Lumbrokinase é quase 30 vezes mais forte que nattokinase e 300 vezes mais forte que serrapeptase; caso esteja utilizando uma enzima fibrinolítica, minha forte preferência e recomendação pessoal é utilizar lumbroquinase.

A saúde endotelial depende de um estilo de vida saudável

Proteger a saúde endotelial é parecido com proteger a saúde do coração, pois envolve um estilo de vida abrangente e saudável. Um estilo de vida sedentário, tabagismo, excesso de álcool e alimentos ultraprocessados ​​podem afetar a saúde endotelial de maneira negativa, enquanto o exercício e os alimentos frescos e integrais, incluindo frutas cítricas e vegetais verde-escuros, são protetores.

Além das substâncias naturais acima, a coenzima Q10 (CoQ10), um antioxidante solúvel em gordura, também atua no endotélio, dilatando os vasos sanguíneos e reduzindo a pressão arterial. A CoQ10 está ligada a melhorias na disfunção endotelial. A suplementação com CoQ10 ou sua forma reduzida de ubiquinol é útil em alguns casos, porque aos 65 anos, seu corpo em geral produz apenas metade da quantidade que produzia aos 25.