Existe uma velha máxima no mercado automotivo, conhecida por muitos: “Evite comprar carro fora de linha. Eles perdem preços muito rápido”. Pois o fato é que há dados de mercado que provam que isso é lenda. Novo estudo traz boas notícias para quem pretende comprar modelos que já não são produzidos. Confira.
Comprar carro de segmento fora linha pode ser melhor negócio do que seminovo atual
A plataforma de compra e venda de veículos Mobiauto já havia feito um levantamento no ano passado que apontava o contrário do que diz a máxima citada acima, e trazia boas notícias aos donos de carros descontinuados, mostrando que as perdas nas cotações eram bem aceitáveis.
Mas o que dizer de carros que pertencem a segmentos fora de linha? Mais do que a saída de produção do carro em si, a paralisação de oferta de modelos daquela categoria mostraria o desinteresse do consumidor brasileiro pelo tipo de carroceria em questão, certo? Talvez esta seja apenas mais uma lenda.
Station wagons (peruas), minivans (ou monovolumes) e hatchbacks médios são segmentos que praticamente desapareceram do mercado brasileiro. Exceção feita a uma ou outra oferta esporádica de modelos importados, a verdade é que não se tem mais nenhum modelo dos segmentos mencionados que alcance um volume significativo de venda. O Chevrolet Cruze, que era um sobrevivente, teve o seu sepultamento decretado recentemente.
O departamento de Dados e Estatísticas da Mobiauto levantou, neste mês, as cotações de preços de vários exemplares das três categorias mencionadas. Inicialmente, foram apurados os valores médios entre janeiro e maio de 2022 que, posteriormente, foram comparados com os registrados em igual período deste ano.
Surgiu uma boa notícia: na média, esses carros perderam somente 3,29% no último ano. Foram pesquisados 26 veículos dos três segmentos, com anos/modelos que variam entre 2013 e 2022, compondo um total de 112 carros apurados. Como critério, os analistas da Mobiauto só consideraram para o estudo veículos com número expressivo de anúncios, tanto no primeiro período como no segundo.
Quando separados por categorias, outra surpresa: as depreciações médias revelam uma ótima performance das peruas e das minivans, sobretudo por se tratar de veículos com aposentadoria registrada há mais tempo do mercado de veículos 0km, e também pelo forte apelo para uso familiar que conservam.
Confira os percentuais médios de desvalorização de cada categoria:
Station wagons – 2,40%
Minivans – 2.71%
Hatches médios – 7,01%
O economista Sant Clair de Castro Jr., consultor automotivo e CEO da Mobiauto, que coordenou o trabalho, acredita que o estudo esteja derrubando um paradigma:
“Isso podia acontecer nos anos 1980, quando só tínhamos quatro montadoras. Hoje, com mais de 50 marcas e algumas centenas de carros diferentes, os modelos de segmentos descontinuados possuem clientela fiel e há quem não abra mão do carro preferido. Observamos esse fenômeno diariamente com os clientes de peruas, que são os veículos que menos perderam valor, por sinal”, afirma Castro Jr.
Mas por qual motivo esses carros teriam sucumbido como 0km e mantido o interesse do consumidor no segmento de usados?
“No caso dos carros novos, a resposta é bem simples: foi o fenômeno dos SUVs. Eles têm ampliado a participação ano a ano e centralizam muito qualquer faixa de mercado acima dos R$ 120 mil”, analisa o especialista. A sobrevivência no mercado de usados viria de um relaxamento em relação às perdas percentuais menores que são inerentes a esse mercado.
“Quando você adquire um carro 0km, já sabe que a perda nos dois primeiros anos será maior. Já a compra do usado, e sua futura revenda, pressupõe diversos outros fatores, como o estado geral do veículo, a quilometragem, os opcionais. Ou seja, o risco de perder dinheiro no 0km é muito maior. Por isso que se mantém a liberdade de comprar o seminovo que mais agrada, mesmo que seja de um segmento fora de linha, como as peruas e minivans”, afirma Castro Jr.
Os resultados do levantamento surpreenderam. De um total de 112 modelos avaliados, 25 obtiveram o êxito de anotar valorização de um ano pra cá, tendo a minivan Nissan Grand Livina 2013 como campeã, com 16,76% de alta.
Mas por que uma valorização tão acentuada nesse modelo? “Simples: ela tem somente dez anos de uso, um custo final acessível, ao redor de R$ 40 mil, e possui sete lugares”, opina Castro Jr. “E o melhor de tudo isso: reina praticamente sozinha nesse nicho de mercado.”
Confira os dez veículos mais valorizados do levantamento – preço atual (valorização):
- Nissan Grand Livina 2013 – R$ 41.372,22 (16,76%)
- Mercedes-Benz A250 2018 – R$ 219.375,47 (11,20%)
- Fiat Bravo 2013 – R$ 45.060,29 (8,77%)
- VW SpaceFox 2017 – R$ 60.688,76 (7,03%)
- Citroën C4 2014 – R$ 41.466,32 (6,83%)
- Volvo V60 2013 – R$ 82.730,00 (5,88%)
- VW Passat Variant 2014 – R$ 86.007,06 (4,89%)
- Kia Soul 2016 – R$ 80959,89 (4,78%)
- Ford Focus Hatch 2019 – R$ 73.902,10 (3,98%)
- VW Golf Variant 2016 – R$ 93.892,88 (3,73%)
O especialista ressalta o fato de haver oito montadoras listadas entre os dez modelos do ranking. “Isso significa que o fenômeno ‘fora de linha’ realmente não incomoda mais. Não se trata de um mérito de uma ou outra marca. É uma conquista geral de praticamente todo o mercado, tanto que você encontra de tudo: carro nacional ou importado e veículos dos três segmentos pesquisados”, destaca.
Confira agora os dez carros que mais se desvalorizaram:
- Chevrolet Spin 2022 – R$ 96.629,08 (-17,67%)
- Citroën C4 Picasso 2018 – R$ 94.184,00 (-17,01%)
- Chevrolet Cruze Sport 2022 – R$ 110.370,37 (-16,70%)
- MINI Cooper 2019 – R$ 182.281,90 (-13,67%)
- MINI Cooper 2022 – R$ 260.750,00 (-12,64%)
- Volvo V40 2019 – R$ 11.8.298,00 (-10,99%)
- Kia Soul 2019 – R$ 90.211,84 (-10,87%)
- Chevrolet Spin 2021 – R$ 91.707,63 (-10,59%)
- Fiat Palio Weekend 2015 – R$ 45.822,36 (-10,41%)
- Honda Fit 2021 – R$ 93.621,29 (-10,20%)
Segundo destaca Castro Jr., as variáveis são as mesmas: há carros produzidos no Brasil ou vindos de fora e persiste a presença de peruas, minivans e hatches. Onde estaria a diferença?
“Repare no ano/modelo da lista acima. São carros bem mais novos. Se os campeões de valorização tinham, em média, oito anos de uso, esses modelos que se saíram mal na pesquisa possuem pouco mais de três anos. É o tal movimento de um carro desvalorizar mais logo depois que é comprado”, explica o especialista.
Fonte: garagem360.com.br