A indústria automotiva passa por dias conturbados no Brasil. Depois da aprovação do programa Mover (Mobilidade Verde e Inovação), no final de junho, veio o pedido da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) para antecipar a alíquota máxima dos eletrificados importados imediatamente, o que a elevaria para 35%, ante 25% para modelos híbridos, 20% para híbridos plug-in e 18% para os 100% elétricos.
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Como se não bastasse, agora aparece a discussão sobre a regulamentação da reforma tributária, que inclui carros elétricos e híbridos no chamado “imposto do pecado”, citando a fabricação e descarte da bateria como fatores poluentes. O assunto foi aprovado na Câmara dos Deputados e segue para o Senado antes da sanção do Presidente da República.
Pelo visto, todo o lobby das fabricantes e o que o governo está propondo deve acabar agravando o problema das exportações em baixa e da produção estagnada já no curto prazo. Em junho, as vendas de automóveis e comerciais leves produzidos no Brasil caíram 28,3%, ligando o sinal amarelo, ao mesmo tempo em que a produção está estagnada, uma vez que o acumulado de janeiro a junho de 2023 é quase o mesmo de 2024 (1,132 milhão ante 1,138 milhão), de acordo com dados da própria Anfavea.
Híbridos flex indicam o caminho certo?
A grande pergunta que se faz diante desse cenário é: será que os híbridos flex, do jeito que vão ser fabricados pela indústria automotiva do Brasil, interessam para o mercado, tanto interno quanto o externo? Pois é, nem é preciso dizer que para Europa, Estados Unidos, Japão, China, entre outros gigantes o que produzimos aqui e o que deve ser produzido em breve, não interessa. São mercados que dão prioridade para alta tecnologia e elevados níveis de segurança e eficiência.
Para outros mercados em desenvolvimento, como México, Colômbia, Chile, Argentina, Uruguai, entre outros, as exportações dependem de assuntos ligados aos combustíveis, taxações, normas de emissões, legislação em geral, além da qualidade dos híbridos feitos no Brasil, uma vez que a maioria será micro-híbrido, ou seja, apenas com um pequeno motor elétrico, acoplado ao virabrequim, que auxilia o térmico em algumas situações para reduzir o consumo e as emissões.
Até mesmo para o mercado interno, os híbridos flex nacionais podem não ser tão bem aceitos quanto se espera. Isso porque quem compra carro zero quilômetro hoje no Brasil tem um nível de exigência bem alto, haja vista a boa quantidade que migrou para os importados 100% elétricos, ou híbridos plug-in de alta tecnologia, tipo de veículo que não está programado para ser fabricado por aqui.
Investimentos em xeque e frota envelhecida
Além disso, mudar as regras no meio do jogo é algo que afasta investimentos, até mesmo parte dos R$ 130 bilhões que foram anunciados pelas fabricantes instaladas no Brasil, que está optando por um tipo de eletrificação mais simples que pode não interessar o suficiente tanto para dentro quanto para fora do país.
Com o alto preço dos veículos fabricados no Brasil, o que se deve em parte a elevada carga tributária, o volume de vendas internas de modelos novos tem caído bastante, o que acaba aumentando a dependência do mercado externo para as contas fecharem.
Se não se chegar a um equilíbrio em relação aos tributos, além de mais incentivos ao emprego de tecnologias de ponta nos carros nacionais, corremos o risco de ficarmos isolados do mundo e com uma frota cada vez mais envelhecida. Não é à toa que o mercado de carros usados e seminovos está indo de vento em popa.
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Fonte: autoo