Para superar traumas e medos, é preciso ter também criatividade. Em Brasília, um hospital faz com que crianças coloquem pontos e gesso em bonecos para perder o medo de cirurgias e procedimentos médicos. O método que envolve brincadeiras e muita conversa surte bons efeitos e transforma momentos de apreensão em diversão.
A Rede Sarah, especializada no atendimento a vítimas de politraumatismos e problemas locomotores, há duas décadas busca alternativas para minimizar o sentimento de medo que circula no ambiente hospitalar. O projeto que utiliza bonecos com gesso e suturas reproduzindo em brincadeiras o que se passa nas cirurgias.
A presidente da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, a neurocientista Lúcia Willadino Braga, disse que com o projeto a criança se torna agente do próprio tratamento, compreendendo as etapas pelas quais vai passar do preparo às cirurgias, por exemplo.
O espírito lúdico
Em meio às brincadeiras com o gesso e às suturas, a criança é tratada pelo profissional de saúde que, tranquilamente, explica cada fase.
O pequeno paciente, em geral, reproduz nos bonecos o que vive.
“Enquanto está brincando, ela libera neurotransmissores e fica feliz. Estudos desenvolvidos aqui dentro mostram que essa técnica promove uma recuperação mais rápida”, disse a neurocientista.
A vida real
Sthefany Lauany, 9 anos, é um exemplo.
A criança nasceu com mielomeningocele, uma má-formação da coluna vertebral e da medula espinhal que ocorre durante a gestação.
Internada no mês passado para uma osteotomia, cirurgia que corrige o alinhamento das pernas.
No hospital, Sthefany escolheu uma boneca de pano que a acompanhou durante todo o tratamento e irá com ela para casa no dia da alta.
Com a boneca nas mãos, a criança suturou e colocou gesso nas duas pernas, assim como foi feito com ela.
“A boneca deixou a Sthefany mais tranquila. Ela se apegou ao brinquedo e ficou bem tranquila. Ela se distraiu e ficou entretida, sem prestar atenção no que eles estavam fazendo”, disse a mãe, Jeobina Resende Tomé.
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Brincando se aprende
Com as brincadeiras e os bonecos, sob orientação dos psicólogos e enfermeiros, as crianças superam os medos, as angústias e as dores que rondam as cirurgias.
Davi Ribeiro da Silva, 12 anos, submetido a uma delicada cirurgia na bacia, estava com medo do procedimento.
Com muita conversa e espírito lúdico, o menino foi se acalmando.
“Orientação é sempre bom, a gente fica mais tranquilo, e eles dão muita informação”, disse a mãe do menino, Andrelurdes Ribeiro da Silva.
Athos Bulcão, grande parceiro
Morto em 2008, Athos Bulcão, pintor, escultor, um artista completo, é o símbolo de Brasília e está presente em todos os cantos da cidade.
Athos Bulcão ajudou a criar o projeto dos brinquedos da Rede Sarah. Ele projetou 59 desenhos diferentes que estão em armários de brinquedos de todas as unidades da rede.
Nos armários, os pacientes encontram também bonecos cadeirantes e opções com réplicas perfeitas de seus gessos de imobilização criados na oficina ortopédica do Sarah. As cirurgias são etapas constantes na Rede Sarah.
“Quem já colocou gesso sabe que retirar ele ou pontos não causa dor. Mas às vezes as pessoas ficam com medo”, disse a neurocientista.
Com informações do Metrópoles
Fonte: sonoticiaboa