Como você se sente ao receber um elogio? Quais pensamentos vêm à mente? Que padrões de resposta costuma dar? Como tende a reagir? Para muitos, receber um elogio pode parecer algo forçado, irreal e ilusório. Uma necessidade do outro em lhe agradar, sem que aquela seja uma fala verdadeira e otimista. Existe uma grande dificuldade de aceitação perante o elogio quando, no fundo, acreditamos firmemente que não somos merecedores de tal enaltecimento.
Existe uma grande dificuldade de aceitação perante o elogio quando, no fundo, acreditamos firmemente que não somos merecedores de tal enaltecimento.
Assim, acabamos reagindo de maneira padronizada a estes momentos, impedindo que o poder e o intuito do elogio se façam em nossas vidas.
Quando elogiamos alguém, temos a intenção de fazer com que o outro tenha consciência de suas qualidades e saiba que tem nossa admiração. O elogio tem por objetivo ajudar a pessoa a perceber seus feitos, suas qualidades e pontos fortes, para que suas potencialidades sejam exercidas e desenvolvidas. Quando temos consciência de quais são nossas forças, podemos utilizá-las da melhor forma, usufruindo de nossos dons e talentos para criar o melhor para nós, melhorar e ajudar a ajustar os pontos de dificuldade. É uma forma de nos desenvolvermos a partir do que temos de mais positivo.
Quando a dificuldade é reconhecer as próprias qualidades, é preciso um trabalho focal em cima desta questão. Precisamos olhar para o que nos prende e impede de acreditar em nós mesmos, pois esta falta de credibilidade em si gera ainda mais insegurança e faz com que nossas potencialidades não sejam desenvolvidas, apuradas e manifestadas com plenitude.
Evitar elogios é mecanismo de defesa para impedir sofrimento
Por trás da dificuldade em receber um elogio, você pode se perguntar o que lhe faz não acreditar no que está sendo dito. Muitos passam por esta dificuldade em aceitar que o outro está sendo sincero e não apenas tentando lhe agradar com mentiras e exageros. A crença que há de si mesmo é tão forte que qualquer movimento de fora que seja contrário ao que se acredita é visto como falso e exagerado. Desta forma, cria-se um círculo vicioso no qual a crença de que você não é bom o bastante o faz não acreditar no elogio, podendo fazer com que se sinta iludido e tão pequeno a ponto do outro querer lhe agradar com adjetivos falsos. Por sua vez, a insegurança aumenta ainda mais, reforçando a crença de que não é bom o bastante. É uma armadilha sutil que nos pregamos, sabotando nossa própria felicidade.
A dificuldade em receber um elogio e suas reações consequentes são um mecanismo de defesa em busca de amenizar e evitar qualquer tipo de ilusão e sofrimento. O pensamento pode passar por algo do tipo: “Eu não sou bom mesmo, não vou ser trouxa em acreditar no que ele está me dizendo. Essa pessoa não vai me iludir. Eu sei que não sou isso”. Esta é uma defesa para evitar um possível sofrimento, baseado na possibilidade do outro iludir você para depois lhe machucar e fazer com que caia de volta à realidade. Para que isso não aconteça (e você tem certeza de que acontecerá), você evita acreditar em qualquer elogio para não correr o risco de se machucar ou ser rejeitado. O pensamento também pode vir na forma de: “ele não sabe o que diz. Quando perceber que eu não sou nada disso, vai me rejeitar”. E para evitar que essa possível rejeição se concretize, você mesmo já se rejeita, assumindo a ideia de que não é bom o bastante e deixa logo claro, para si e para o outro, que não há chances para ilusões e consequentes rejeições. Estes são só alguns exemplos dos inúmeros artifícios que usamos para nos sabotar e reafirmar as crenças negativas sobre nós mesmos.
Todo esse mecanismo acontece, em boa parte, de maneira inconsciente. Muitas vezes mal nos damos conta do que está por trás do desconforto gerado por um elogio. Por trás dessa dificuldade, existe alguma crença a respeito de si próprio. Uma crença de que não é bom o bastante, de que não é merecedor, de que não é capaz ou que não tem como corresponder ao elogio.
Qual crença negativa você tem a seu respeito?
Para lidar melhor com isso, pare e reflita sobre qual crença você tem a seu respeito. O primeiro passo para trabalhar alguma questão interna é saber o que é esta questão, de onde ela vem e como ela foi parar aí. Então se pergunte:
- O que você acha de si mesmo?
- De que maneira você passou a acreditar nisso?
- Quem, dentro de você, está lhe dizendo isso? Seu pai, sua mãe, sua professora?
- Qual é a voz dentro de você que lhe diz que não é bom o bastante, que não merece ou não é capaz?
- Olhe à sua volta. Isso no qual você acredita parece lhe fazer sentido? Muitas vezes, a crença é tão forte que é difícil até de compreender se ela faz sentido ou não.
- O que você acha que pode acontecer caso você acredite neste elogio?
- Qual crença lhe trava para acreditar que o outro pode, sim, achar algo positivo de você e agradecê-lo de coração por lhe mostrar seu ponto forte?
Muitas vezes é difícil sair sozinho deste círculo vicioso de baixa autoestima e autossabotagem. Neste caso, um suporte psicoterapêutico é importante para lhe ajudar a compreender seus mecanismos de defesa e a realidade por trás de toda a crença criada. A psicoterapia favorece o autoconhecimento e a autorreflexão, para um olhar amplo e aprofundado a respeito de si mesmo, além de fornecer ferramentas para lidar com estas questões que aprisionam. A partir da compreensão de nossos mecanismos de defesa podemos, então, romper com o padrão e decidir fazer diferente, buscando novos caminhos para uma vida mais leve e prazerosa, na qual você reconhece e desenvolve suas próprias qualidades e potencialidades. É preciso poder olhar para o ponto original onde a crença foi criada para, assim, ter a possibilidade de desmistificar e ressignificar esse padrão dentro de si mesmo. Assim, abre-se um espaço interno para que o novo atue em sua vida e você possa vivenciar os elogios e seus pontos fortes de maneira mais produtiva, leve e saudável.
Fonte: personare