O que te faz gargalhar? Diversos pesquisadores já se debruçaram para tentar responder o que estaria por trás dos risos. Recentemente, um estudo examinou mais de cem artigos e apresentou uma hipótese interessante: a risada pode ter sido uma ferramenta para nos ajudar a sobreviver.
Carlo Bellieni, professor da Universidade de Siena e responsável pelo estudo, condensou o ato de rir em três etapas principais, que ele descreve como “perplexidade, resolução e um sinal de esclarecimento”.
Para ele, rir não vem apenas de uma percepção de que as coisas estão fora dos eixos – trata-se de encontrarmos uma situação que subverte nossas expectativas de normalidade. Um desenho em que o personagem só cai do penhasco quando olha para baixo, ou que deixa seu rival com a cabeça em formato de panela ao acertá-lo, são exemplos de situações que fogem da realidade.
Primeiro, precisaríamos de uma situação que pareça estranha, que provoque um sentimento de incongruência. Depois, a preocupação provocada pela situação deve ser resolvida e superada. Por fim, viria a risada, como um sinal para avisar os outros de que não há o que temer – uma forma de alívio.
“O riso pode muito bem ser um sinal que as pessoas usam há milênios para mostrar aos outros que a ameaça percebida passou. É por isso que rir é muitas vezes contagioso: nos une, nos torna mais sociáveis, sinaliza o fim do medo ou da preocupação,” escreve Bellieni para o site de divulgação científica The Conversation.
Sabe quando você ri de um perrengue que passou anos atrás? Na época ele pode ter causado medo ou estresse, mas hoje você acha engraçado porque a situação já foi resolvida e não há mais o que temer.
O riso também tem uma forte importância para a nossa fisiologia. Assim como chorar, o riso é um mecanismo de liberação para o corpo. Os centros cerebrais que regulam o riso também controlam emoções, medos e ansiedade. Ele é capaz de conter o estresse ou a tensão de uma situação e deixar o corpo mais aliviado.
Por causa disso, o humor também é usado como ferramenta em diversos ambientes. Em hospitais, ele pode ajudar os pacientes, melhorando a pressão arterial e as defesas imunológicas, além de auxiliar no controle de depressão e ansiedade.
O humor também é usado para enfatizar conteúdos ensinados. Quando seu professor de física faz uma piada com a fórmula ao invés de apenas ditá-la, ele mantém a atenção da turma e torna o aprendizado mais relaxado e eficiente. Em uma sala de aula, o humor também reduz a ansiedade, aumenta a participação e a motivação.
Por que as pessoas se apaixonam por alguém que as faz rir?
Segundo Bellieni, é algo mais complexo do que simplesmente “ser engraçado”. O riso desencadeado pelas piadas nos ajuda a superar os anseios de uma situação estranha ou desconhecida – e ao nos inspirar a superar nossos medos, nos sentimos mais . “Se o riso de outra pessoa provoca o nosso, então essa pessoa está sinalizando que podemos relaxar, estamos seguros – e isso cria confiança”, afirma.
Talvez o riso tenha sido mantido pela seleção natural para ajudar os humanos a sobreviver. Sob os olhos da evolução, esse comportamento talvez fosse essencial para construir a consciência de perigo e autopreservação, ajudando grupos a comunicarem momentos de tensão e segurança. Risadas e piadinhas criam laços e vínculos de confiança entre os indivíduos, o que culminou na formação das nossas sociedades atuais.
Fonte: abril