A irregularidade da chuva provocada pelo fenômeno do El Niño, apontada como principal desafio na safra de soja 2023/24, continua tirando o sono dos agricultores mato-grossenses. Depois de comprometer boa parte das lavouras mais precoces por falta de umidade no solo, a ameaça agora é nas cultivares mais tardias favorecendo a proliferação da mosca branca e elevando custos que não estavam programados.
Algumas propriedades estão utilizando avião para tentar controlar a pressão dos insetos. O aumento da mosca branca nas lavouras é o tema do Patrulheiro Agro desta semana.
O operador de pulverizador em Tangará da Serra, Welker Nogueira, comenta que nas folhas infectadas, aumentaram as baterias de aplicação. Se no ano passado utilizavam quatro aplicações, neste ano o número passou para sete.
“Se sair no meio da lavoura batendo você vai ver que o foco dela está grande. Vai ser um ano de muita preocupação para os produtores. Aqui passaram mais de 40 dias sem chuvas. Foi nessa época que veio atrasando tudo, já não tem como fazer nada. Aí dá força para esses insetos”, frisa.
O gerente de produção, Adriano José da Silva, também enfrenta dificuldade para controlar a proliferação dos insetos. Nesta safra, as lavouras ocuparam 4.350 hectares na propriedade e quase um mil hectares tiveram que ser replantados por causa da estiagem prolongada.
“Nós replantamos uns 600 hectares que vai dar em média 40 sacas. Como o pessoal plantou cedo começou a chegar a mosca branca. Então, para as áreas que foram de replantio é duro, porque elas vem nas áreas mais novas e começam a dar infestação e a pressão está alta. A gente teve que entrar até com aplicação de avião, porque o terrestre tem bastante área para fazer”, comenta Adriano.
A expectativa é fechar a safra com média de sete aplicações de inseticidas específicos para mosca branca, três a mais que na safra passada.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Lucas Beber, disse que o vazio sanitário adiantado em 15 dias ajudou na proliferação da mosca branca.
“O vazio sanitário é uma defesa sagrada, que tem um manejo para evitar a proliferação de pragas e, principalmente, a ferrugem asiática em um ano seco como esse. A gente está aqui com uma folha onde dá para perceber que tem muita ninfa de mosca branca, e ela já começou a escurecer, ou seja, formar fumagina que é o principal problema da mosca branca na planta da soja”, pontua Beber.
Para especialistas, a principal explicação para o aumento populacional da praga na plantação de soja este ano pode estar relacionada à falta de umidade no solo provocada pela influência do fenômeno El Niño, que acabou afetando negativamente a ação dos microorganismos que controlam a praga no campo.
Pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril, Rafael Major Pitta, explica que a melhor opção para os agricultores é que o controle seja feito conforme a amostragem.
“Para a mosca branca é de 10 ninfas vivas por folíolo ou 30 ninfas vivas por trifólio. Baseado nesse critério o produtor naturalmente vai reduzir o número de aplicações. Eu recomendo que se faça o controle da praga na soja, mesmo que esteja fechando o ciclo, porque assim a gente reduz a infestação na segunda safra”, finaliza.
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Fonte: canalrural