O episódio dantesco das malas recheadas de cocaína que levou um casal de turistas de Goiânia injustamente para cadeia por mais de um mês na Alemanha já entrou para a história como um dos maiores escândalos da aviação e do turismo no Brasil.
Não basta mais torcer para que a mala chegue a salvo no destino, sem zíper arrebentado e com tudo dentro, agora é torcer para que ela não tenha sido interceptada por algum cartel.
O que choca ainda mais nesse episódio que aconteceu com Kátyna e Jeanne é que poderia ter acontecido com qualquer pessoa. As duas não foram ingênuas por terem topado levar encomenda de estranhos, elas foram vítimas de uma quadrilha que atua cotidianamente nos bastidores de Guarulhos. E um dos maiores absurdos do episódio é ver nas câmeras de segurança que não foi nada complicado para um funcionário burlar o raio-x e levar as malas com a droga diretamente para o porão da aeronave.
Sorte que as câmeras mostraram tudo, da saída do prédio do casal em Goiânia à troca sorrateira das etiquetas em São Paulo, feita de um ângulo que as câmeras não pudessem registrar, mas registraram. Sem a prova visual, a história teria sido outra.
Se nos últimos tempos fomos ensinados a não andar pela rua com aplicativo de banco instalado no celular, agora ninguém mais deveria despachar uma mala sem fotografá-la de todos os ângulos, tanto a parte interna quanto a externa, e enviar as imagens para conhecidos e para a nuvem. Outro momento que passará a ser mais clicado é quando a mala estiver sendo pesada no check-in, num ângulo que enquadre a bagagem, a balança e o peso nominal. Outro hábito que não poderá mais ser negligenciado é inspecionar muito bem a mala ao retirá-la da esteira de bagagem. O uso de tags eletrônicas de identificação, como a Apple AirTag e o Galaxy SmartTag deve se intensificar. Há um mercado sedento em oferecer produtos para um público acuado.
A crise de confiabilidade que esse episódio pode causar nas viagens internacionais não é pequena, ainda mais quando o Brasil está em um caminho promissor de retomada do turismo.
O trauma vivido por Kátyna e Jeanne talvez seja irreparável. Viajar de novo para o exterior, caso um dia encontrem forças, deverá se tornar um inferno uma vez que o nome delas deverá fazer parte de alguma lista da Interpol. Ter que reviver o episódio a cada fila de imigração mundo afora é o mesmo que revitimizá-las.
Todos estaremos mais vigilantes daqui pra frente, amedrontados e alguns talvez instituam um hábito que a essa altura deveria ser mais comum: viajar apenas com mala de mão.
Fonte: viagemeturismo