Nem mesmo a chuva durante todo o fim de semana foi capaz de diminuir a beleza do distrito de Camisão, em Aquidauana, Mato Grosso do Sul, entrada do Pantanal. Os paredões da Serra Santa Bárbara e o Morro do Chapéu concedem uma beleza única para a paisagem do cerrado, a pouco mais de 2 horas de distância da capital de Mato Grosso do Sul, Campo Grande.
Não é difícil de imaginar que o lugar atraia aventureiros em busca de banho de rio, cachoeiras e subidas íngremes até o Morro do Paxixi.
Entre esses atrativos, para o espanto de alguns, está a primeira vinícola de Mato Grosso do Sul, o Terroir Pantanal, um empreendimento que investiu no turismo e na gastronomia para fomentar a produção de vinho no estado.
Apesar de bem estruturada na região sul do país, a produção de vinho no Centro-Oeste, conhecido pelo calor e aridez em determinados períodos do ano, é novidade. Há dois anos, o empresário Gilmar França decidiu que iria desbravar Camisão para criar uma espécie de Toscana pantaneira – foi durante uma viagem a região italiana que ele voltou inspirado a criar o primeiro vinho daqui.
Agora, dois anos após a inauguração – mais centrada no turismo, na plantação da videira e na gastronomia – que ele finalmente vai iniciar a segunda fase. Até julho de 2024, França planeja colher os frutos, literalmente, e começar a produção do vinho genuinamente “pantaneiro”, ou melhor, aquidauanense.
“Nós vamos dar início às obras da nossa sede de vinificação. Aqui a gente tem dois ambientes, esse onde nós estamos, a gente chama de Pavilhão das Experiências, esse aqui já está concluído, e nós estamos iniciando aqui do lado, o projeto da Sede da Vinícola, onde vai ser feito o processamento dos vinhos, onde vão ficar as barricas de carvalho francês, as adegas. Nossos parreirais já estão formados e a gente está trabalhando agora para esse desenvolvimento, para que a obra fique pronta até julho do ano que vem afim de receber essa produção”, pontua.
França explica que esta nova obra terá 2 mil metros quadrados. “Onde vai ser feito todo o processo de esmagamento da uva, de maturação nas barricas, e onde estarão as adegas para o vinho ficar descansando até chegar no mercado, até o consumidor”, frisa. A produção inicial será de 100 mil garrafas por safra, adega para armazenamento de 150 mil garrafas e 120 barricas de carvalho francês, além de loja, laboratório próprio, adega de degustação, wine bar e espaço de apoio administrativo.
Para ele, o que antes era sonho começa a virar realidade. “É um projeto de longa data, venho trabalhando nisso há muitos anos. Cada ano que passa a gente desenvolve etapas novas, né? Então, agora a gente está encerrando a parte do pavilhão das experiências e iniciando as obras da vinícola. Então é uma etapa nova que a gente começa e a gente vai vendo o sonho se realizar”.
Isso só é possível graças ao plantio e produção de uva de dupla poda ou poda invertida. Enquanto nos países mais frios, o inverno é o momento de dormência da planta e o verão o de colheita, nas regiões quentes, a dupla poda permite que o período de maturação do fruto ocorra no inverno, que não costuma ser rigoroso como no hemisfério norte.
Segundo o empresário, a videira como qualquer outra planta precisa de sol, de água e de calor. “A fruta que é um pouco mais delicada, porque a fruta precisa produzir um bom vinho, precisa de uma amplitude térmica, ela precisa de ausência de água na época da vinificação. Então, você tem que buscar essas características no terroir pra que você realmente possa expressar e produzir um bom vinho”, ressalta.
O Secretário de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação, Jaime Verruck, esteve no lançamento do projeto de vinícola Terroir Pantanal, realizado no sábado (26). Para ele, esse manejo faz toda a diferença e já é realidade em várias regiões quentes do mundo.
“Tecnicamente, aqui não dá uva, essa era a grande questão. Mas hoje no Brasil tem todo um sistema que chama dupla poda, que é o mesmo usado no Vale de São Francisco, que é o mesmo usado em São Paulo, Guaspari e outras vinícolas, então que usam esse sistema de dupla poda que permite que regiões como a nossa, que não tem uma variação climática tão significativa, produzam uva. Então acho que esse foi o primeiro grande desafio, foi encontrado aqui um microclima adequado para a produção de uva”, frisa.
Segundo ele, assim como França, existem outros empresários interessados em produzir uva e vinho em MS. “Nós temos um empreendimento com as mesmas características, ainda não implantado no município de Bodoquena. Nós temos na Serra da Bodoquena, uma estrutura muito parecida em termos geográficos daqui, um empreendedor que também já está desenvolvendo o projeto, inclusive as mesmas consultorias que o Terroir Pantanal teve”, adianta.
Villas Terroir
Além das novidades na produção do vinho, França aproveitou o evento para anunciar a construção de dez acomodações para turistas, um pedido antigo de quem visita o local. O Villas Terroir terá quartos com uma ou duas suítes, piscinas privativas e vista para a serra. A ideia é que além da experiência gastronômica, os visitantes possam dormir no local – e ter mais tempo para aproveitar o vinho sem o perigo de pegar a estrada de volta a Campo Grande. A previsão de conclusão é de 24 meses.
Segundo Verruck, é interessante que a vinícola tenha começado justamente fomentando o turismo e a gastronomia local. “Ele já recebeu mais de 10 mil pessoas ao longo desse período que está aqui. Com a produção de vinho, com certeza, vai aumentar ainda mais o fluxo. E está mudando a região, hoje a gente vê claramente o fluxo de turismo, o perfil de turista, as pessoas que visitam Campo Grande que querem vir aqui também”.
Por enquanto, quem visita o Terroir Pantanal tem a opção de experimentar quatro tipos de espumantes, todos com ipês do artista sul-mato-grossense, já falecido, Isaac de Oliveira no rótulo.
“Nosso lançamento são quatro rótulos de espumantes, sendo dois rosés e dois tradicionais. Os rosés são Malbec Rosé e o Moscatel Rosé. Já os tradicionais são o Brut Chardonnay e o Moscatel, que é aquele mais docinho também. Eles estão disponíveis na experiência Terroir”, pontua a sommelier, Sandra Montanha.
Como ainda não ocorre a vinificação no local, os vinhos são feitos em uma vinícola em Alto Feliz, na Encosta Sul da Serra Gaúcha.
Fonte: primeirapagina