A duas horas de carro de Nova Orleans, St. Francisville não tem nada de sinistra: ruas floridas e arborizadas são endereço de construções muito bem preservadas dos séculos 18 e 19. Dentre tantas, a Myrtles é sem dúvidas uma das bonitas, com uma varanda que contorna toda a casa ornamentada por grades de ferro em formato de cachos de uva. Para completar, a mansão ainda fica no meio de um lindíssimo jardim com lago e árvores frondosas.
Mas não se engane: Myrtles é considerada uma das casas mais mal-assombradas dos Estados Unidos. Os relatos sobrenaturais envolvendo-a já foram tema de episódios dos programas de televisão Unsolved Mysteries (2002) e Ghost Hunters (2005) e, mais recentemente, da série Arquivos do Inexplicável, lançada em abril de 2024 na Netflix. Ainda assim, há quem visite e até durma na propriedade, que foi transformada em pousada na década de 1970. E eu fui uma delas!
Os tours são divididos entre diurnos e noturnos, mas não há diferença entre eles a não ser o fato de que as visitas depois do pôr do sol são mais concorridas – que povo corajoso, não? Eu DE – TES – TO tomar sustos e estava realmente com receio de que o passeio noturno tivesse brincadeiras de mau gosto, com gente puxando o meu pé ou pulando na minha frente do nada como naquelas casas mal-assombradas de parques de diversões. Mas não tem nada disso.
Uma guia, fantasiada com um vestido de época preto, conduziu a mim e ao restante do grupo pelos cômodos que compõem o andar térreo da casa enquanto contava a história real da construção e os seus supostos casos sobrenaturais. Havia, sim, um semblante deveras sinistro no rosto da moça e um tom mais narrativo na visita, mas não passa disso.
Resumindo e evitando os spoilers, dá para contar que a maior parte dos casos está relacionado às mortes que já aconteceram em Myrtles. Muitas delas foram de crianças, que teriam se transformado em fantasmas pregado peças nos visitantes.
Mas o fantasma mais conhecido da casa – e a história de mais mau gosto porque é fruto de uma época em que o racismo era naturalizado no sul dos Estados Unidos – é o de Chloe, uma mulher escravizada que teria se envolvido com o patrão, Clark Woodruff. Depois que Clark parou de demonstrar interesse por ela, Chloe ficou com medo de ser mandada para trabalhar nos campos de algodão e passou a tentar escutar conversas escondida atrás da porta. Clark teria flagrado-a fazendo isso e cortado uma de suas orelhas como forma de castigo. Como vingança, ela envenenou a esposa e as filhas do patrão.
Dizem que o fantasma de Chloe gosta de roubar brincos e que ela sempre pega apenas um, e não o par, já que só tem uma orelha. Durante a visita, é possível ver uma caixa de vidro onde estão expostos todos os brincos perdidos e encontrados na propriedade ao longo dos anos. E olha, são realmente muitos.
A guia também chama atenção para um espelho com uma mancha estranha no canto direito, que pode lembrar o perfil de uma mulher. Reza a lenda que a superfície já foi limpa de diversas formas, mas que a mancha sempre volta a aparecer quando o espelho é colocado de volta àquele lugar.
No andar de cima, que não pode ser visitado durante os tours, ficam os quartos que recebem os hóspedes. Em geral são quartos comuns, com móveis e decoração antigos, mas há um especialmente sinistro decorado com bonecas.
Se eu dormi ali? Claro que não! Pensando nos hóspedes medrosos como eu, os atuais donos da propriedade construíram no terreno da Myrtles uma porção de chalés e vilas charmosíssimas em torno do lago – e, o que é melhor, com uma distância confortável de todos os fantasmas e assombrações.
A acomodação onde eu fiquei era uma verdadeira mansão com cinco quartos, piscina e churrasqueira. Deitada na minha cama de rainha, eu já nem lembrava mais da tal da Chloe.
Mas entendo perfeitamente quem preferir não se hospedar em Myrtles. Nesse caso, vale pelo menos fazer uma visita: o lugar é realmente muito bonito, com um pátio central florido e cheio de mesinhas espalhadas.
Dentro do complexo também fica o restaurante 1796, que prepara carnes no fogo a lenha, e o aconchegante Elta Coffee, que tem sempre cookies quentinhos saindo do forno.
Serviço
Onde? 7747 Blues Highway, em St Francisville, a duas horas de carro de Nova Orleans, no estado da Louisiana.
Quando? Os tours diurnos acontecem de segunda a sexta-feira, às 9h, 12h e 15h; e aos sábados e domingos, de hora em hora, sendo o primeiro às 9h30 e o último às 16h30. Já os tours noturnos, mais concorridos, acontecem de domingo a quinta-feira, às 19h; e às sextas-feiras e sábados, às 18h, 19h e 20h.
Quanto? Os tours diurnos custam US$ 15 e os noturnos, US$ 25. Hóspedes não pagam para fazer o tour diurno. Para se hospedar em Myrtles, as diárias partem de R$ 1.200; reserve aqui.
Fonte: viagemeturismo