O desvalorizado peso argentino faz com que o dólar americano se torne a moeda mais desejada, do Ushuaia até Salta. Atualmente, há na Argentina pelo menos 17 tipos de câmbios atrelados à moeda americana, mas os que afetam diretamente o bolso do turista são dois: o oficial e o paralelo (mais conhecido como blue). O oficial é a taxa que você vai encontrar em casas de câmbio “normais”, como as do aeroporto de Ezeiza ou do Aeroparque – e que será sempre a pior cotação.
Neste texto, o foco será o câmbio de dinheiro em espécie no paralelo, que na prática dobra o seu poder compra. Também abordaremos uma novidade que surgiu em dezembro de 2022 e que deverá fazer com que os cartões de crédito voltem a ser um meio de pagamento vantajoso. Até então, as operadoras de cartões convertiam os gastos pelo câmbio oficial, o que encarecia a viagem. Agora, o Banco Central da Argentina definiu que os gastos feitos no país com cartões estrangeiros terão uma cotação mais próxima do blue, batizado como “dólar tarjeta”, o que melhora bastante para o viajante, principalmente aquele que não quer perder tempo enfrentando filas para ter uma cotação ligeiramente melhor. Ainda assim, é possível conseguir cotações mais favoráveis para além dos cartões. Acompanhe.
Como saber a cotação do dia?
De reais para pesos argentinos, você descobre neste link o câmbio oficial do dia e, neste outro link, o câmbio no paralelo (blue). Em 15 de dezembro, por exemplo, 1 real comprava 30 pesos no câmbio oficial; no paralelo, estava cotado a 60 pesos.
Onde trocar dinheiro em Buenos Aires?
Em Buenos Aires, um lugar muito comum para a troca do dinheiro blue são as “cuevas”. Você vai ouvir “câmbio, câmbio” a todo momento que estiver andando pela calle Florida, principal artéria comercial da cidade. A negociação pode acontecer na rua ou em lojas, que hoje em dia nem metem medo como era o caso há uma década. Qual a maior chatice dessas transações? A necessidade de negociar o valor do câmbio e a possibilidade de receber alguma nota de peso falsa no momento da troca.
Há opções de câmbio blue mais seguras para além das “cuevas”?
Mais seguras e dentro da legalidade são as lojas da Western Union (rede Pago Fácil), que pagam uma cotação muito próxima do blue e quase sempre o dobro do câmbio oficial: em 15 de dezembro, 1 real valia 62 pesos no aplicativo da WU (contra os 30 pesos do oficial).
Como fazer operação de câmbio pela Western Union?
Pelo aplicativo, que tem versão tanto para Android quanto iOS. É simples: você baixa e abre o app, clica em “Enviar dinheiro”, preenche os dados, escolhe Argentina como país de envio e elege a quantia. Na hora você já sabe a cotação e o valor não varia. Na sequência, surge na tela “Como seu destinatário quer receber o dinheiro?”. Clique “Em uma loja”. Na sequência, “Como você gostaria de pagar?”. A maneira mais rápida de receber é clicando em “PIX ou transferência bancária”. Nessa hora também aparece a taxa de serviço (no caso de mil reais, são 30 reais) e o IOF de 1,1%. Também aparece o prazo de entrega: em minutos (a WU antes anunciava no aplicativo que levaria 3 dias úteis, mas na prática o dinheiro sempre ficou disponível em questão de minutos quando o envio é via PIX).
Preencha os dados do destinatário nos campos que vêm na sequência, sem abreviações – as informações precisam bater com o documento, que no meu caso foi o passaporte. Há relatos de pessoas que abreviaram e não conseguiram sacar. No caixa me perguntaram um endereço e um número de telefone em Buenos Aires e acabei fornecendo os dados do hotel em que eu estava.
Há desvantagens da Western Union?
Algumas. Tenha em mente que pelo menos uma parte do seu primeiro dia na Argentina será dedicado a isso. Por ser uma modalidade conveniente, legal e segura, turistas do mundo inteiro aderiram ao esquema, o que pode significar filas consideráveis ou, no pior dos casos, o dinheiro da loja acabar. Uma das maiores agências da Western Union em Buenos Aires, com vários guichês de atendimento, fica na esquina da Avenida Córdoba com a calle Montevideo, a 10 minutos de caminhada da livraria El Ateneo Grand Splendid. Quando estive lá, a fila saía pela porta e dobrava a esquina. Pelo aplicativo da WU, notei que havia uma loja no quarteirão seguinte, na calle Paraná, e lá a fila estava muito menor. Procurei a assessoria de comunicação da Western Union para entender sobre a falta de dinheiro, e a explicação foi que as lojas costumam ter uma quantidade maior de papel moeda na parte da tarde por elas também funcionarem como uma espécie de casa lotérica e receberem pagamentos de contas. Outra dica: quanto mais nas bordas do Microcentro estiverem as agências, menores tendem a ser as filas e maiores as chances de dinheiro em caixa. As lojas fecham aos domingos e muitas ao meio-dia aos sábados (confira no aplicativo).
Afinal, vale usar cartão de crédito ou débito da minha conta no Brasil?
Usar cartão deixou de ser uma desvantagem. Até o início de dezembro de 2022, não valia em absoluto porque as operadoras de cartões tinham como base para o fechamento das faturas o câmbio oficial. Na tentativa de fazer com que a moeda americana circule menos no mercado paralelo, o governo argentino quer incentivar que turistas passem a fazer mais pagamentos com cartões. Para isso, definiu que irá utilizar um câmbio mais favorável nas faturas, o chamado “dólar tarjeta”, muito próximo ao blue e que a Mastercard e a Visa já aderiram: em 15 de dezembro, 1 real valia por volta de 50 pesos no cartão (esse valor já tem descontado o IOF de 6,38%). Conclusão: se considerar que em 15 de dezembro 1 real valia 30 pesos no oficial, 50 pesos no cartão (dólar tarjeta) e 62 pesos na Western Union, a WU ainda é o meio mais vantajoso para a troca de dinheiro, agora seguido de perto pelo cartão de débito/crédito. Para o dia a dia, ainda vale trocar dinheiro em espécie em cuevas ou na Western Union.
A Visa e a Mastercard possuem calculadoras online onde é possível saber o câmbio do dia para compras no cartão (o resultado não inclui o IOF). Na simulação feita em 15/12, a Visa já trazia o valor do dólar tarjeta (R$ 1 = 58 pesos), enquanto a Mastercard apresentava o valor do câmbio oficial (R$ 1 = 32 pesos). Pelo que apuramos, cartões Mastercard apresentam no ato da compra o valor do câmbio oficial e creditam a diferença entre o oficial e o tarjeta cinco dias depois.
Diária de hotel vale pagar com dinheiro ou cartão?
Já estava em vigor na Argentina um benefício que devolvia 21% do imposto IVA, equivalente ao nosso ICMS, para quem pagasse diárias de hotéis no cartão. Antes de dezembro de 2022, com a fatura do cartão fechada pelo câmbio oficial, perdia-se dinheiro. Agora, mesmo com o 6,38% de IOF, passou a valer mais a pena pagar hotéis no cartão do que trocar no blue para pagar em pesos. Vá de cartão.
E dólares em espécie?
A moeda americana não só é bem aceita, mas muitíssimo desejada em lojas, restaurantes, hotéis e tem a cotação mais favorável de todas. Os argentinos preferem fazer suas poupanças em dólares por conta da inflação, então se você tiver as verdinhas em casa, leve-as. Para valores a partir de US$600 é possível conseguir uma cotação muito próxima do blue para trocas feitas nas agências do Banco de la Nación Argentina tanto de Ezeiza quanto do Aeroparque (certifique-se de estar viajando com o passaporte). O esquema não vale para câmbio de reais e só é vantajoso se você pretende gastar acima de US$600 (voltar para o Brasil com pesos não é um bom negócio por conta da inflação). Caso você não tenha dólares, prefira levar reais para trocar por pesos blue in loco ou no esquema da WU pelo aplicativo.
E comprar pesos no Brasil?
Será sempre o pior dos negócios por se tratar de câmbio oficial.
É seguro andar com dinheiro em Buenos Aires?
Há uma sensação esquisita de sair de uma agência com um bolo de notas: mil reais na cotação de 15 dezembro equivalem a 62 mil pesos – foi uma quantia parecida com essa que eu troquei, guardei no cofre do hotel e fui “sacando” aos poucos. Não dá pra negar que há um efeito psicológico positivo em se ter uma moeda fraca no bolso: a perspectiva de perder mil pesos é muito menos dramática do que perder cem dólares. Ainda assim, nos sete dias que passei em Buenos Aires não tive em nenhum momento a apreensão que sinto quando caminho por São Paulo. Atravessar a capital portenha a pé continua sendo um dos programas mais agradáveis e tranquilos de se fazer.
Para Bariloche, o esquema de levar dinheiro é o mesmo?
No caso da Western Union é um pouco mais complicado porque há poucas lojas em Bariloche e a superlotação no inverno faz com que o dinheiro esgote rapidamente. O melhor é que a sua viagem não dependa totalmente da transação na WU e que você também leve cartões e reais em espécie para trocar na cidade – há várias “cuevas” espalhadas pela calle Mitre. A boa notícia é que no auge da temporada de esqui o real vira moeda corrente e é facilmente aceito a uma cotação melhor que a oficial.
E Mendoza?
Na calle General San Martín, quase ao lado do prédio onde funciona a central de informações turísticas da cidade, costuma haver uma concentração de ‘arbolitos’, mas não espere um mercado consistente para a troca de moeda no paralelo como é o caso de Buenos Aires. Reais dificilmente são aceitos no comércio. Há diversas lojas da Western Union nas proximidades da Plaza Independencia.
Fonte: viagemeturismo