Lançado em 1992 pela finada Midway, Mortal Kombat surgiu para agitar as casas de fliperamas da época ao apresentar um game de luta com imagens digitalizadas de pessoas reais e recheado de violência sem limites, seguindo um caminho diferente do seu principal rival, Street Fighter II.
Pouco tempo depois o jogo foi lançado para videogames caseiros como o Mega Drive e Super Nintendo, aumentando ainda mais a sua popularidade e marcando para sempre toda uma geração de jogadores com os seus famosos Fatalities, golpes que ofereciam aos vencedores dos combates uma regalia: acabar com o seu oponente da forma mais violenta possível.
Porém, como acontece com muitos games durante a sua concepção, inúmeras mudanças e curiosidades ocorreram até o seu lançamento oficial, como o próprio nome da franquia. Confira aqui com Game On algumas dessas histórias.
Nascia o projeto
Vendo o sucesso arrebetador de Street Fighter II: The World Warrior da Capcom em 1991, a Midway, uma empresa norte-americana fundada no final da década de 1950 e mais conhecida pela distribuição de máquinas de pinball e de arcades japoneses nos Estados Unidos como Space Invaders e Pac-Man, requisitou a dois jovens programadores um jogo de combate para ser lançado no próximo ano.
Assim, o programador Ed Boon e o artista John Tobias foram contratados e mal sabiam eles que estavam prestes a deixar seus nomes para sempre na história dos videogames.
A primeira ideia da dupla foi a de tentar realizar um antigo sonho de criar um jogo de luta semelhante ao Karate Champ, game lançado em 1984 pela Technos e Data East, mas com grandes personagens digitalizados.
Outros dois profissionais foram recrutados para ajudar nesse projeto, o também artista John Vogel e o designer de som Dan Forden, o que era basicamente toda a equipe inicial de desenvolvimento do que viria a ser o Mortal Kombat.
Entra Van Damme
Foi apresentada para Midway uma ideia de um jogo de luta com tema de ninjas, porém ela foi rejeitada pelo estúdio, que ao invés disso, sugeriu um jogo baseado no filme que estava em produção Soldado Universal, que poderia ter uma versão digitalizada do protagonista, Jean-Claude Van Damme.
No entanto, o plano de usar Van Damme e o seu filme acabou não dando certo, e então eles decidiram voltar ao projeto original com os ninjas.
Vale lembrar que no final, o ator foi parodiado no jogo na forma de Johnny Cage (com quem ele compartilha as iniciais de seu nome, JC), um ator de filmes de artes marciais, que teria inclusive um golpe inspirado em uma cena do filme O Grande Dragão Branco (ou Bloodsport, no original em inglês) – o icônico soco na virilha.
Após voltarem para o conceito inicial, a equipe passou a buscar especialistas em lutas. Tobias chamou seu amigo praticante de artes marciais Daniel Pesina (que teve sua imagem digitalizada para os personagens Johnny Cage, Sub-Zero, Scorpion e Reptile), que então trouxe seu irmão Carlos Pesina (Raiden) e o amigo Richard Divizio (Kano).
Liu Kang, personagem inspirado em Bruce Lee, foi interpretado pelo coreano Ho Sung Pak, campeão de Wushu/Kung Fu e mais conhecido por trabalhar como dublê e coreógrafo em filmes de ação. Ele também interpreta o vilão e chefe final Shang Tsung.
Sonya Blade foi a única presença feminina no game, inserida já próximo da finalização de desenvolvimento do jogo. A personagem foi interpretada por Elizabeth Malecki, dançarina e instrutora de aeróbica.
O logotipo do Dragão
Here’s a recently discovered image of the very first drawing of #MortalKombat’s dragon icon. I designed the icon as both a symbol of our game and its fictional tournament… (thread) #MK30 pic.twitter.com/vVIDr4K9aP
— John Tobias (@therealsaibot) September 22, 2022
Recentemente John Tobias publicou em suas redes sociais o primeiro esboço do ícone do dragão, que viraria tanto um símbolo do jogo quanto do torneio fictício, com seu próprio significado e tradição na história.
De acordo com o Tobias, a inspiração para usar um dragão como símbolo do torneio veio de “Dragon Attack“, um dos nomes que estavam sendo cogitados antes de “Mortal Kombat” ser o escolhido. Por sua vez, o nome Dragon Attack veio do amor de Ed Boon pela banda Queen e a música de mesmo nome.
Já a inspiração para o design do ícone do dragão começou quando John Vogel viu uma estátua de dragão dourado chinês em cima da mesa do gerente geral da Midway, Ken Fedesna. Vogel chegou a emprestar essa estátua para digitalizá-la e usá-la nos planos de fundo do jogo.
Essa mesma estátua também inspirou Tobias a fazer os desenhos e arte do painel lateral do gabinete do arcade. Foi desse esboço do gabinete que Tobias retirou a aparência do dragão para usar no ícone.
I saw the dragon statue and thought of using an Asian inspired dragon design as part of our coin-op cabinet’s side panel art. Here are my sketches… (6/9) pic.twitter.com/Lx9MCPCW1m
— John Tobias (@therealsaibot) September 22, 2022
“Eu estava pensando em criar um ícone para representar o torneio fictício, mas também para marcar o jogo com um símbolo… como o ‘S’ do Superman ou o símbolo do morcego do Batman”, disse ele no post.
O desenho também é uma tentativa de replicar o símbolo Yin Yang, que representa o equilíbrio entre as forças opostas.
Definindo um Nome
Escolher um nome para o jogo não foi uma tarefa fácil para a equipe, sendo que durante seis meses de desenvolvimento vários nomes eram sugeridos, mas nenhum agradava totalmente. Alguns dos nomes sugeridos foram Kumite, Dragon Attack, Death Blow e Fatality.
Tudo mudou quando um dia alguém escreveu “Combat” na prancheta para os nomes no escritório de Ed Boon e uma outra pessoa colocou um K sobre o C, só para ser meio estranho.
Foi quando o designer de pinball e amigo de Boon e Tobias, Steve Ritchie, viu a palavra “Kombat” no escritório de Boon e disse a ele: “Por que você não o chama de Mortal Kombat?”, um nome que Boon relembra que “ficou na cabeça” e é utilizado até hoje.
Fatalities vieram depois
Os famoso Fatalities foram uma grande inovação de Mortal Kombat para os jogos de luta, com a explosão de miolos e corpos mutilados por todo lado que agradou o grande público em cheio.
Porém esse conteúdo ultraviolento não foi planejado originalmente e só foi inserido no jogo posteriormente, enquanto o desenvolvimento do projeto progredia.
Segundo Boon, desde o início eles queriam fazer o jogo se destacar dos outros games de luta por meio de “golpes malucos, como bolas de fogo e movimentos mágicos”, o que também levou a uma escalada na violência.
O conceito de Fatalities, em particular, evoluiu da mecânica de “tontura” nos jogos de luta, mas fazendo que isso acontecesse no final da luta, depois de um vencedor já estar decidido.
Inicialmente, o Fatality seria usado apenas no chefão final, Shang Tsung, mas felizmente os desenvolvedores decidiram que seria mais bacana se o jogador pudesse fazer isso com todos os oponentes.
Criação do ESRB
O lançamento de Mortal Kombat no Mega Drive e Super Nintendo em 1993 veio acompanhado de várias polêmicas, especialmente a do console da Sega, que mantinha toda a violência e mutilações do arcade, ao contrário da versão censurada e “careta” imposta pela Nintendo para o SNES.
Políticos e pais revoltados estavam horrorizados com a violência do jogo (e de outros títulos também) e sua influência nas crianças e jovens, o que levou o Congresso dos Estados Unidos a criar o ESRB (Entertainment Software Rating Board), uma organização que analisa, decide e coloca as classificações etárias indicativas para jogos eletrônicos comercializados na América do Norte.
Mortal Kombat foi desenvolvido em 10 meses de 1991 a 1992, com uma versão de teste sendo lançada limitada no meio do ciclo de desenvolvimento.
Agora, 30 anos depois, o nome da franquia se tornou uma marca reconhecível em todo o mundo, sendo difícil imaginar a série com um nome diferente. Você já conhecia essas curiosidades sobre Mortal Kombat? Deixe o seu comentário em nosso canal no Discord.