O desenvolvimento de jogos costuma ser cercado por problemas, a ponto de algumas pessoas afirmarem que todo título que chega ao mercado pode ser considerado um pequeno milagre. Porém, a manutenção de suas criações também é algo que pode exigir muito dos estúdios e nos últimos dias a CD Projekt Red demonstrou isso com o Cyberpunk 2077 e o Gwent: The Witcher Card Game.
Começando pelo RPG futurista com visão em primeira pessoa, o designer sênior de missões, Philipp Weber, falou sobre o motivo que os levou a cancelar o modo multiplayer, algo que era muito esperado por algumas pessoas. Ao conversar com o site Eurogamer, ele afirmou que, no fundo, tudo não passou de uma questão de no que eles precisavam focar.
“Nós realmente precisamos olhar para quais eram as prioridades para o Cyberpunk [após o lançamento],” disse Weber. “A prioridade era que a experiência principal rodasse em um estado muito bom para as pessoas. E essencialmente, a mudança de prioridades significou que outros projetos de pesquisa e desenvolvimento tivessem que desaparecer.”
O designer admitiu que enquanto a empresa estava criando o jogo, eles estavam fazendo muitas coisas ao mesmo tempo, e num determinado momento tiveram que parar, decidir o que era mais importante e garantir que aquilo ficasse realmente bom.
Embora a confirmação do cancelamento de tal modo tenha sido feita em março de 2021 pelo presidente da CD Projekt Red e todos saibamos que o projeto passou por sérios problemas, as palavras de Weber dão uma visão diferente para a decisão. Naquela ocasião, Adam Kiciński havia usado como justificativa a criação de uma tecnologia que os permitiria adicionar multiplayer em todos os futuros jogos da empresa, passando a impressão de que a situação estava sob controle.
No entanto, ao dizer que tiveram que focar em melhorar o jogo que entregaram em dezembro de 2020, Philipp Weber confirmou um artigo publicado pelo jornalista Jason Schreier, em que este relatava as longas jornadas de trabalho enfrentadas pelos funcionários da empresa polonesa e a confusão geral no gerenciamento do projeto.
Algo que também contribui para mostrar o quão problemático foi o lançamento do Cyberpunk 2077 e como o estúdio esteve empenhado em melhorá-lo pôde ser visto nas versões para PlayStation 5 e Xbox Series S|X. Foi apenas em fevereiro de 2022 que o título chegou a esses consoles e por mais incrível que possa parecer, só em 2023 a CD Projekt Red lançará uma edição Jogo do Ano para ele, com o pacote trazendo a expansão Phantom Liberty.
Sim, essa não passa de uma jogada de marketing, afinal hoje em dia quase todo jogo é relançado com a marca “GOTY” para tentar garantir a venda de mais algumas cópias. Porém, não há dúvida de que se aquelas pessoas não tivessem passado tanto tempo para garantir que o jogo ficasse o mais próximo possível de como deveria ter sido lançado, essa expansão poderia ter chegado bem antes ao mercado.
Gwent: deixando as cartas nas mãos dos jogadores
Já o caso do Gwent: The Witcher Card Game é ainda mais interessante que o do Cyberpunk 2077. Lançado em 2018 e distribuído gratuitamente, ele nasceu do jogo de cartas presente no The Witcher 3: Wild Hunt e conquistou a admiração da crítica pelo seu alto nível de qualidade e pelo potencial para se destacar no cenário dos eSports.
Então, ao anunciar os planos para 2023, o diretor do jogo revelou que este será o último ano de atualizações para o Gwent. Com isso, a partir de 2024 o título passará a ser mantido por uma pequena equipe, mas o que realmente chama a atenção é quem cuidará do balanceamento das cartas: a comunidade!
“Com as cartas que planejamos adicionar ao jogo no próximo ano, em 2023, nós basicamente estamos planejando fechar o pool de cartas com todas as ideias que queremos adicionar, todas as mecânicas que queremos ver, com quase tudo o que gostaríamos de ver no Gwent,” declarou Vladimir Tortsov. “Com este número fixo de cartas disponíveis no Gwent, faremos o possível para garantir que ele esteja em bom estado.”
Ao todo, a ideia é adicionar 72 cartas neste ciclo de encerramento e a partir daí será dado início ao Project Gwentfinity. Ele funcionará com um sistema de progressão sazonal, além de trazer mudanças de balanceamento que ocorrerão através de votações realizadas com os jogadores. E embora a ideia possa despertar alguma desconfiança, o estúdio garante que haverá medidas para garantir a integridade do jogo.
Mesmo admitindo o quão heterodoxa pode ser essa medida, Tortsov disse estar confiante de que deixar algo tão importante sob os cuidados do público é o caminho certo a seguir. “Queremos dar a vocês, a comunidade do Gwent, as ferramentas e oportunidades certas para guiar as mudanças de balanceamento do jogo daqui em diante.”
Segundo o diretor, tais ferramentas estarão disponíveis dentro do próprio jogo, permitindo assim que possamos interagir com o título “não apenas jogando, mas decidindo que direção ele deve seguir em termos de equilíbrio, quais cartas problemáticas precisam ser nerfadas, quais devem ser buffadas e coisas assim.”
Normalmente, quando um estúdio opta por abandonar o desenvolvimento de um jogo, o que mais vemos são pedidos para que o código-fonte seja liberado e assim os jogadores possam mantê-lo vivo. Com o Gwent: The Witcher Card Game não acontecerá exatamente isso, mas a CD Projekt Red parece ter encontrado uma maneira de não deixar órfãos os fãs do jogo de cartas.
Mesmo não sendo um daqueles que se se dedicam ao título, estou muito curioso para saber como esse experimento se desenrolará e se de fato o estúdio conseguirá garantir que a experiência se mantenha interessante, justa e principalmente, divertida. Talvez o seu sucesso até sirva de inspiração para outros jogos que serão inevitavelmente deixados de lado pelos seus criadores, mas admito que posso estar sendo muito otimista com tudo isso.
Fonte: terra.com.br/gameon