A inclusão do breaking e do caiaque cross nas competições das Olimpíadas de 2024 não são as únicas novidades do evento. Pela primeira vez, o Comitê Olímpico Internacional (COI) possui uma agenda específica sobre inteligência artificial (IA).
Pode ser que você esteja se perguntando: qual a relação entre a IA e os Jogos? E por que o Comitê precisa regular essa tecnologia?
As razões são muitas. O objetivo, de acordo com o presidente do COI, Thomas Bach, é “definir o curso para o futuro da IA no esporte com liderança responsável, abraçando a mudança e preservando os valores olímpicos”.
A agenda do Comitê leva em consideração as mudanças rápidas nas tecnologias de IA, e busca organizar as formas em que as ferramentas podem ser utilizadas para ajudar no desempenho de atletas, garantir o fair play (jogo limpo), otimizar as operações do evento e transformar a experiência do espectador.
“Embora não controle todas as aplicações de IA, o COI dará o exemplo, promovendo e apoiando programas e iniciativas de IA confiáveis que enriqueçam os Jogos Olímpicos e promovam a justiça e a sustentabilidade dentro do Movimento Olímpico”, diz o COI na Agenda.
IA no desempenho dos atletas
Para os atletas, individualmente, existem diversas aplicações. Uma delas usa bancos de dados de desempenho, características físicas e habilidades para identificar talentos.
Outra importante utilização da IA é na identificação de padrões ocultos no desempenho dos atletas. Com base nesses dados, as ferramentas podem ajudar os treinadores a propor treinos mais adequados e dar instruções personalizadas para auxiliar na prevenção e reabilitação de lesões.
Essas ferramentas podem compor um sistema de treinamento mais econômico e acessível do que os tradicionais, às vezes exigindo apenas um smartphone. A agenda define que é essencial que o acesso a essas ferramentas seja igualitário, e se propõe a garantir a conscientização sobre o tema.
IA para quem assiste
Segundo o COI, outra área que pode se beneficiar do uso da IA é a arbitragem. Não que sejam absolutamente novas: até a tecnologia “semi automatizada” de impedimento da Copa do Mundo da FIFA usa IA.
Mas a agenda de IA do COI regula como essas tecnologias devem ser utilizadas para tornar as decisões de pontuação mais transparentes e objetivas. Por exemplo: no Campeonato Mundial de Ginástica de 2023, uma ferramenta de suporte à arbitragem foi empregada em todos os aparelhos. Baseada em IA, a aplicação combina estritamente os movimentos da ginasta com o livro de regras.
Assim, quem sabe fica mais fácil para os espectadores leigos entenderem as diferenças sutis de pontuação dos ginastas?
A tecnologia de rastreamento de movimento baseada em IA também ajudará os comentaristas e os espectadores a acompanhar as posições dos atletas durante a corrida de canoa, maratona, caminhada de corrida, ciclismo de estrada e de mountain bike, maratona de natação, remo, vela e triatlo.
IA na organização logística dos Jogos
Segundo o COI, ferramentas de IA também serão usadas para melhorar a eficiência, reduzir custos e aumentar a sustentabilidade nas Olimpíadas. Assim, aplicações de IA podem ser usadas para coisas como a otimização do transporte, o treinamento da força de trabalho e a venda de ingressos.
IA nos conteúdos digitais
Não consegue acompanhar tudo? As Olimpíadas também terão uma ferramenta oficial de IA para compilar automaticamente os melhores momentos de 14 esportes. A ideia é analisar e resumir os conteúdos publicados pela imprensa, com comentários automatizados.
Já do outro lado da tela, o COI estima que os Jogos Olímpicos mobilizem meio bilhão de comentários nas redes sociais. Ferramentas de IA serão utilizadas para identificar e avisar as plataformas sobre publicações nocivas, com a intenção de proteger os atletas.
“Há muitas oportunidades fantásticas para o envolvimento dos atletas, mas, infelizmente, a violência online é inevitável”, disse a chefe da Unidade de Esporte Seguro do COI, Kirsty Burrows, durante o evento de lançamento da Agenda. “Esse é um desafio crucial para nós, pois ambientes esportivos seguros também precisam significar ambientes digitais seguros.”
Os dados coletados devem ser utilizados para “entender melhor a violência on-line no esporte e desenvolver políticas e intervenções baseadas em dados para ajudar a criar ambientes física e psicologicamente seguros para os atletas.”, afirma Burrows.
IA nas filmagens dos eventos
Cada lance e movimento de atletas durante as Olimpíadas é registrado em vídeo em diversas câmeras. Para organizar os milhares de registros, o COI, em parceria com a empresa chinesa Alibaba, criaram um sistema de armazenamento na nuvem, chamado OBS Cloud.
De acordo com o COI, a solução “oferece uma alternativa ao investimento pesado para os detentores de direitos de mídia e as cidades-sede, pois o conteúdo relacionado aos Jogos Olímpicos pode ser transmitido pela nuvem, reduzindo efetivamente a pegada de carbono.”
Segundo Yiannis Exarchos, CEO da OBS, eles irão “fornecer um número recorde de sistemas de replay multicâmera com reconstrução de alta qualidade na nuvem, baseada em IA, para criar modelos tridimensionais e mapeamento de pontos de vista adicionais em 21 esportes e modalidades. Isso proporcionará replays mais atraentes de mais ângulos de câmera.”
Fonte: abril