Sophia @princesinhamt
Tecnologia

Novo Mario + Rabbids valoriza a esquisitice e diversão

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Não é sempre que se tem o privilégio de testar com antecedência um novo videogame estrelado pelo mítico Super Mario. A oportunidade é ainda mais rara quando o jogo em questão não foi criado pela empresa dona do personagem, a toda poderosa Nintendo.

A convite da Ubisoft, viajei a San Francisco para jogar Mario + Rabbids: Sparks of Hope, o mais novo símbolo da parceria entre a empresa francesa com a japonesa Nintendo, que apesar de ceder o nome e imagem de seu principal mascote, não está envolvida no projeto. Toda criação, produção e lançamento ficaram a cargo da Ubisoft, assim como foi o caso do jogo anterior da série, Mario + Rabbids: Kingdom Battle – este, também lançado para o Nintendo Switch em 2017 e descrito pela própria Ubisoft como “um jogo tático esquisito”.

A união improvável de universos e corporações com filosofias distintas gerou um resultado surpreendente para um jogo de nicho com uma premissa tão peculiar. No final de agosto, a Ubisoft celebrou a marca de 10 milhões de jogadores do primeiro Mario + Rabbids, um sucesso que justifica ainda mais a existência de Sparks of Hope. A diferença, neste caso, se deu na maior liberdade para criar e renovar a ideia inicial. 

Assim como seu predecessor, Sparks of Hope também é um jogo de combate tático por turnos que se orgulha de sua esquisitice, além de trazer novidades.  O enredo, tão bizarro quanto esquecível, dá destaque a uma entidade maligna chamada Calamita (Cursa no original) que deixa uma trilha de destruição em sua busca obsessiva pela energia dos sparks – seres místicos resultantes da mistura entre os rabbids, os coelhinhos- malucos-mascotes da Ubisoft, e as lumas, as estrelinhas mágicas da Nintendo introduzidas em Super Mario Galaxy, de 2007. Estreando no novo game, os sparks concedem poderes especiais aos personagens e podem ser combinados e trocados de acordo com as estratégias.

Em primeiro momento, Sparks of Hope pode ser entendido como uma sequência direta de Kingdom Battle, mas a própria Ubisoft não enxerga desta forma:  “Nós não tratamos este jogo como se fosse uma continuação. Queríamos criar algo que fosse diferente do primeiro, ou a Nintendo não aceitaria”, explica o produtor-chefe Xavier Manzanares, dando a entender que as mudanças apresentadas em Sparks of Hope são frutos de uma liberdade adquirida ao longo de oito anos da colaboração bem-sucedida entre as duas marcas.

Muitas coisas só ocorreram no novo game por conta da confiança que a Nintendo tem em nós agora”, conta o produtor, que também liderou o projeto de Kingdom Battle. “Por exemplo, nós não conseguiríamos propor os sparks durante a criação do jogo anterior. As lumas são muito importantes para o universo do Mario, assim como os rabbids são muito importantes para a Ubisoft. Mas juntá-los em uma criatura só é algo que exige muita confiança.

Sem limites dessa vez

Essa maior liberdade de atuação da Ubisoft acaba se espelhando  literalmente na nova jogabilidade, que ampliou as possibilidades de deslocamento durante as partidas. Diferente de Kingdom Battle, não há mais um “grid” delimitando o local onde cada personagem deve se posicionar a cada rodada. Agora, é possível circular com menos restrições por regiões demarcadas, o que torna a briga mais dinâmica, mesmo que os ataques ainda sejam alternados. 

Comandando um time de três personagens, o jogador deve se movimentar pelo campo de batalha, alcançar um ângulo de visão que possibilite o ataque (ou defesa), selecionar alguns dos poderes e habilidades disponíveis e atacar os soldados inimigos. Também é possível combinar movimentos com os parceiros para o bom e velho trabalho de equipe, proporcionando saltos a locais inatingíveis. O objetivo é sempre o mesmo: limpar o território de hordas de vilões (e em certas fases, um big boss) e seguir em frente para o próximo desafio. 

Para a formação do time, estão disponíveis alguns dos personagens mais famosos da Nintendo (Mario, Luigi, Peach e Bowser) e um elenco de rabbids da Ubisoft (em hilárias versões que fazem “cosplays” dos parceiros mais famosos). Cada herói tem direito a uma série de escolhas a cada rodada, que envolvem estratégia de combate, movimentação e a opção de utilizar os poderes mágicos dos diferentes sparks. As habilidades e armas são específicas, o que torna a escolha do elenco mais do que mera preferência cosmética. Para os “nintendistas”, pode até parecer interessante formar um dream team com Mario, Luigi e Peach, mas os recursos inusitados dos rabbids podem fazer falta em disputas mais complexas. A curva de aprendizado é alimentada por recursos típicos de RPGs, como níveis de experiência e pontos que podem ser trocados por skills em uma árvore de habilidades.

Mas o modo single player de Sparks of Hope não vive só de batalhas táticas. Para desvendar seu enredo, o jogador deve explorar mundos abertos, interagir com personagens coadjuvantes e procurar desafios para ganhar acesso a novos estágios. A mistura temática é bem intencionada, mas na maior parte do tempo você se verá zanzando sem rumo pelos cenários, procurando pela próxima batalha ou algo novo para fazer. 

Os caminhos dessas regiões – que remetem a cenários clássicos dos jogos Nintendo, como os arredores do Reino dos Cogumelos ou um castelo em uma região nevada (estes foram os dois mundos disponíveis no teste em San Francisco) – nem sempre são óbvios, e é fácil perder tempo precioso procurando por um pouquinho de ação. A graça de Sparks of Hope está mesmo na imprevisibilidade das batalhas táticas, mesmo que a maioria delas seja muito parecida entre si ou resolva-se sem muitos problemas (caso o jogador já tenha dominado as técnicas do jogo).

Parece Nintendo… mas não é

Admito que senti uma estranheza durante minhas quatro horas de teste com Sparks of Hope. Apesar da nítida impressão de que jogava um game criado pela Nintendo, algo parecia não se encaixar. Visualmente, a Ubisoft fez um belo trabalho em recriar o espírito dos jogos 3D do Super Mario, principalmente nos momentos iniciais de calmaria no quintal do castelo do Reino dos Cogumelos. Mas chega a ser chocante perceber que o Mario de Sparks of Hope está limitado a andar e é incapaz de saltar ou fazer acrobacias. E mesmo ao som de uma trilha sonora inspirada e diante de ambientes lindos e detalhados, parece faltar certa inventividade e a vivacidade típicas dos mundos abertos idealizados pela Nintendo. Ainda que não comprometa a experiência, isso serve como sinal de que não se deve descrever Sparks of Hope como mais um “game do Super Mario”.

Ao encarar a missão de ser um produto estrelado por personagens Nintendo e criado pela Ubisoft, Sparks of Hope carrega seus contras, como os que mencionei no parágrafo anterior. Mas o lado positivo é notar como a Ubisoft se esforçou ao máximo para diminuir a estranheza, respeitando a cartilha da Nintendo enquanto adicionou delicadamente seus toques peculiares. O primeiro game já foi suficientemente subversivo ao incluir recursos polêmicos em games do Mario, como armas de tiro, algo que também é explorado neste jogo (felizmente, o arsenal não se presta ao realismo e prefere homenagear a ficção-científica). O enredo também é pontuado por momentos surrealistas que desafiam a típica inocência das histórias nintendísticas, estimulando minhas risadas espontâneas durante os diálogos nonsense das cenas animadas.

Os rabbids desse jogo têm um senso de humor bem específico, com nuances e contrastes, algo que não corresponde ao humor tradicional dos games do Mario”, define o produtor Xavier Manzanares. “A interação entre esses personagens resultou em algo bem específico da Ubisoft, de um modo que talvez não ocorresse em um jogo criado pela Nintendo.” 

Fácil de jogar, difícil de dominar

Mesmo como um representante inovador de um gênero muito nichado, Sparks of Hope se sai bem ao quebrar as barreiras tradicionais dos jogos táticos. Trata-se do típico game “fácil de jogar, difícil de dominar”, o que faz deste um exemplar dos mais democráticos: ao mesmo tempo em que seu ritmo suave facilita a vida dos novatos, a jogabilidade renovada é estimulante o suficiente para quem jogou Kingdom Battle até cansar. Simples na aparência, a brincadeira das batalhas por turnos evoca ares de um xadrez empoderado, lúdico porém complexo, que fica mais instigante a cada nova rodada e encanta por suas divertidas possibilidades e pelo carisma de seus protagonistas. Afinal, todos concordam que qualquer game fica mais cativante com a presença de Mario e sua turma.

Por fim, um detalhe dos mais bem-vindos para os consumidores brasileiros: apesar de não finalizada, a versão de Sparks of Hope testada pelo Game On se encontrava totalmente localizada, com texto e diálogos legendados em português, satisfazendo na maneira inteligente com que adapta expressões e cria todo um vocabulário próprio. Desde então, “estrelita” se tornou a minha palavra inventada favorita.

Mario + Rabbids: Sparks of Hope chega em 20 de outubro com exclusividade para o Nintendo Switch.

*O jornalista viajou a convite da Ubisoft.

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