O HackTown, um dos principais festivais de inovação, negócios e criatividade do país, voltou a movimentar a pacata cidade mineira de Santa Rita do Sapucaí. Entre 1 e 4 de agosto, cerca de 30 mil pessoas acompanharam mais de mil atividades entre palestras, conferências, sessões de networking e workshops que se espalharam por todo o município que é conhecido como o “Vale da Eletrônica” e abriga mais de 150 empresas de base tecnológica. Estive lá para conferir de perto e, neste texto, trago um pouco do que mais me marcou.
O evento chama a atenção pelo formato e pela multidisciplinaridade dos conteúdos, indo de tecnologia à arte, passando por temas como autoconhecimento e espiritualidade. Descentralizado, o HackTown se desdobra pela cidade, que tem 40 mil habitantes e fica excepcionalmente agitada nestes dias, com a realização de feiras e shows.
O Inatel (Instituto Nacional de Telecomunicações) e a ETE FMC (Escola Técnica de Eletrônica) concentram boa parte das atrações, mas restaurantes, escolas, praças e até ginásios também são palcos para apresentações e demonstrações.
Teatro da inovação
Foi em um bar, por exemplo, que acompanhei uma das conversas mais relevantes que vi nesta edição do HackTown, sobre o chamado teatro da inovação. Pessoas em nível executivo de grandes empresas se reuniram para distinguir inovação real de aparente.
O painel teve as participações de Marco Cezarino, cofundador da Embraer-X; Ornella Nitardi, gerente de inovação aberta e ecossistema digital da BASF; Beatriz Claudino, gerente sênior de inovação aberta e transformação digital na Suzano; e Rodrigo Meza, especialista de inovação aberta na Eurofarma. A mediação foi de Angelica Mari, jornalista e CEO da Futuros Possíveis.
Em tom descontraído, os participantes compartilharam situações comuns nas organizações que costumam levar à frustração na busca pela inovação. Por exemplo, as famosas maratonas de ideias que agitam o ambiente, engajam pessoas, não resultam em nenhum produto viável e que, mesmo assim, voltam a acontecer no ano seguinte. Ou então o protótipo que até ganha vida, mas é menos priorizado na esteira de produtos e fica esquecido em algum canto.
Outras situações comuns são apresentações no PowerPoint que encantam com frases de impacto, mas não têm consistência, ou os rankings que valorizam o volume de projetos em detrimento dos resultados comprovados. E o que dizer do conhecido ciclo infinito de contratação de consultorias que, mal escolhidas ou mal orientadas, não surtem o efeito desejado? São todos ingredientes do “teatro da inovação”.
As causas para a inovação que fica na “espuma” são diversas, segundo os participantes. Entre elas está o ego inflado das pessoas que lideram projetos, que pode levar a decisões emocionais e pouco embasadas, e a falta de clareza dos objetivos. Por isso, as dicas dos especialistas incluem recorrer ao pragmatismo em uma estratégia certeira sobre a que lugar se quer chegar com cada inovação para, a partir daí, adotar passos coerentes rumo ao final esperado. Nesta jornada, é essencial evitar desvios de rotas que possam levar a direções indesejadas.
Do pragmatismo ao acaso
Não só de tecnologia e inovação vive o HackTown. Distante do pragmatismo, a palestra “Por uma vida sem propósito” buscou promover o valor das incertezas em uma sociedade fortemente guiada por metas. Conduzida pela psicóloga Elza Tamas, a conversa propôs uma visão para além da busca estressante pelo propósito.
Na “sociedade do cansaço”, como definiu o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, a dica de Elza é viver mais no presente do que no futuro e experimentar novos caminhos e possibilidades, como sair para uma caminhada sem destino ou passear na cidade natal como turista. A lógica é a seguinte: abrir espaço para o acaso ajuda a ampliar a consciência e convida a operar em outros espectros.
Ajuste de rota
A equidade de gênero também teve espaço no HackTown. Este foi o tema de um painel que tratou do redesenho organizacional necessário para que as mulheres tenham mais protagonismo no futuro do trabalho.
A conversa reuniu Grazi Mendes, diretora de diversidade, equidade e inclusão na Thoughtworks para América Latina; Mary Ballesta, head de estratégia e operações na F1rst, do Grupo Santander; Sabrina Mendes, cofundadora da consultoria de gênero Chicas; e Vick Napolitano, gerente do programa de pessoas na Pismo/VISA. O painel também foi moderado por Angelica Mari.
Segundo as participantes, o caminho para obter o protagonismo feminino no mercado de trabalho passa pelo reconhecimento dos erros cometidos no passado com o objetivo de fazer ajustes de rota. A percepção compartilhada é a de que este movimento começa pelas próprias mulheres, liderando a transformação da forma como desejam, e precisa ser apoiado por homens. Às empresas, cabe não apenas “abraçar” esta agenda, mas integrá-la ao modelo de negócio, vinculada a metas e remunerações, para avançar com o tema de forma consistente.
O futuro quântico
Apontada como uma das novas fronteiras da tecnologia, a computação quântica é capaz de resolver problemas complexos que os computadores atuais não conseguem – e em menos tempo. A tecnologia ainda está em estágio inicial de desenvolvimento, apesar de a teoria relacionada a ela remontar aos idos de 1900. Ainda assim, já há aplicações pelo mundo.
A apresentação de Erico Teixeira, head de tecnologias quânticas do CESAR (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife) no HackTown mostrou que a computação quântica pode ser utilizada para finalidades variadas, como a melhoria do gerenciamento do fluxo de trânsito e do controle do tráfego aéreo, a descoberta de novas moléculas que podem levar a novos medicamentos, e a detecção aprimorada de fraudes no setor financeiro.
Os desafios para o desenvolvimento desta tecnologia não são poucos, porém. A começar pelo alto custo de utilização. Afinal, o preço de um computador quântico pode superar os US$ 20 milhões. Outras barreiras são o aperfeiçoamento do hardware; a adaptação dos novos algoritmos para a compatibilidade com os existentes; a formação técnica de profissionais; a criação de soluções de software; e a dificuldade de análise do retorno sobre investimento feito pelas empresas, uma vez que os benefícios podem levar anos para chegar.
A corrida pela computação quântica é liderada pela China, que investiu US$ 15 bilhões em 2022, à frente da União Europeia (US$ 7,2 bilhões) e dos Estados Unidos (US$ 1,9 bilhão), segundo dados da consultoria McKinsey. No Brasil, ainda damos os primeiros passos em direção a este futuro, com o investimento de R$ 60 milhões anunciado em 2024 pela Embrapii – Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial.
E vem aí o GazzSummit Agrotechs
O GazzSummit Agrotechs é uma iniciativa pioneira do GazzConecta para debater o cenário de inovação em um dos setores mais relevantes do país. O evento será realizado no dia 15 de agosto com o propósito de conectar e promover conhecimento para geração de novos negócios, discussão de problemas e desafios, além de propor soluções para o setor.
O GazzSummit promove a disseminação de tecnologias e práticas de inovação que possam levar a cadeia produtiva ainda mais longe. Uma programação intensa de 10 horas de conteúdo, e mais de 25 palestrantes, espera os participantes que poderão interagir com players importantes do ecossistema como grandes empresas, cooperativas, produtores, entidades públicas, startups e inovadores. Garanta já a sua vaga.
Fonte: gazzconecta