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Tecnologia

Gênero e intencionalidade: desvendando o impacto das escolhas no comportamento

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Nesta semana, participei de um evento com CEOs de diversas empresas promovido pelo Grupo Mulheres no Executivo e uma palavra chamou minha : intencionalidade.
No dicionário, intencionalidade refere-se a algo que tem caráter orientado, adaptado ao futuro imediato, com conteúdos da consciência. Do latim: voltar-se para um determinado fim, propósito.
A intencionalidade é atribuída principalmente a estados mentais, como percepções, crenças ou desejos, razão pela qual é considerada como a marca característica do mental por muitos filósofos. Mas além da filosofia, a discussão sobre intencionalidade no evento trouxe a reflexão sobre ações afirmativas para diminuir o gap de mulheres em cargos de liderança de alta gestão.
O nível de escolaridade feminina é superior à masculina em todas as faixas – do básico à pós-graduação. As mulheres são mais de 54% dos matriculados em mestrado e no Brasil. Entre a população com 25 anos ou mais, elas somam mais de 21% das pessoas que têm o nível superior completo, contra 16,8% dos homens.
Além da educação, na sociedade, as mulheres vêm ocupando o lugar de protagonismo no consumo e nas famílias. 85% da decisão de compras é das mulheres, metade dos lares brasileiros são mantidos e chefiados por elas. Mas, no de trabalho, a diferença salarial entre homens e mulheres continua em 22% e elas ocupam apenas 15% das diretorias de grandes empresas.
Sempre que trato deste tema em meus artigos, muita gente rebate com outra palavra: a meritocracia. Mas contra dados, é difícil manter o argumento. As mulheres estão preparadas para competir de igual pra igual.
Mas por que a palavra intencionalidade é importante neste contexto? Porque não é simples mudar essa realidade. Homens e mulheres estão engajados, mas se a sociedade mantiver as mesmas medidas para tratar a desigualdade de gênero, levaremos 131 anos para atingir a no mercado de trabalho.
Existem “pontos cegos” que precisam ser levados em consideração quando discutimos de peito aberto este assunto. Por um lado, os homens se sentem acusados por estarem em posição de tomada de decisão e não estarem sendo capazes de mudar os números; por outro lado, o comportamento das mulheres as mantém invisíveis para os altos cargos.
Um comportamento de autocrítica e cobrança, insegurança e autossabotagem fazem com que as mulheres não exponham sua intenção sobre ascensão profissional. Elas dificilmente declaram ambição. Ao contrário dos homens, mulheres precisam estar confiantes com pelo menos 90% das qualificações exigidas em uma vaga de emprego para concorrer a ela. Competir para os  homens é comum, fácil e até empolgante. Para as mulheres requer um esforço grande e gera desconforto.
Em termos comportamentais, demonstrar e agir com intenção de chegar mais alto é um desafio com que as mulheres precisam lidar e superar. Já em termos operacionais, é preciso que a sociedade aja com intenção de resolver a questão de gênero, aceitando ou, ao menos, entendendo essas subjetividades e trabalhando nelas. Ao invés de dizer: “ela não é confiante o suficiente para ocupar o cargo de liderança”, abrir espaço para que demonstre sua capacidade de liderar pelo exemplo e pelo conhecimento que lhe é peculiar.
Ao invés de dizer: “mas ela nunca falou que queria o cargo”, perceber que será necessário agir para incentivá-la a participar do processo seletivo.
É um esforço de vários lados, com ações afirmativas, por vezes práticas, por vezes sutis. Por isso é tão difícil mudar esse jogo. Olhar além dos “pontos cegos”. O problema é esperar do outro um comportamento igual ao nosso, prever e se decepcionar caso ele não aconteça. Projetar no outro nossas ambições e ações. As expectativas são individuais, já as ações são coletivas.
Ser intencional é agir para alcançar o resultado pretendido, com clareza sobre o resultado desejado e sobre as dificuldades enfrentadas para chegar lá.
Como comecei com filosofia, vou terminar com ela. O filósofo Daniel Dennett propôs uma situação para demonstrar a postura intencional: imagine-se jogando xadrez com um computador e observe que existe a intenção do computador em vencer a partida. O computador possui apenas instruções binárias sem nenhum tipo de consciência ou percepção, mas é percebido como possuidor de certa intenção pela postura intencional do jogador humano.
A intencionalidade é usada pela filosofia, mas também pela psicologia e até pela ciência. É multifacetada e diversa. Sejamos intencionais no propósito de tornar nossa sociedade de fato, diversa também.

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Fonte: gazzconecta

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Fábio Neves

Jornalista DRT 0003133/MT - O universo de cada um, se resume no tamanho do seu saber. Vamos ser a mudança que, queremos ver no Mundo