Linhas de produção mais assertivas, conectividade, sustentabilidade e proximidade com um extenso time de colaboradores e parceiros são alguns dos benefícios que a BRF, uma das principais indústrias de alimentos do mundo, tem percebido ao adotar o uso de inteligência artificial (IA) em larga escala.
Na fabricante brasileira, dona das marcas Sadia, Perdigão e Qualy, a jornada tecnológica rumo ao chamado “Agro 4.0”, que tem a tecnologia como alicerce principal, vai do monitoramento inteligente de aves nas granjas a aplicativos voltados a extensionistas (profissionais que auxiliam na implementação de novas técnicas e tecnologias na cadeia produtiva, conectando produtores a conhecimentos e inovações) e parceiros que desejam acompanhar a produção e ter dados à disposição.
“Trazer IA e outras tecnologias para a operação é algo que, para nós, incorpora etapas de vão do campo à mesa”, avalia Antonio Cesco, diretor de tecnologia e digital da empresa, em entrevista ao GazzConecta.
O agro 4.0 da BRF
A jornada de inovação da BRF vem de longa data, conforme explica o executivo. De acordo com Cesco, o pontapé para a digitalização começou em 2018, quando foi criado um programa de transformação digital com o intuito de conectar a fabricante a representantes do setor capazes de aprimorar processos internos da companhia, além do investimento em capacitação da liderança no tema.
Desde então, pelo menos 50 iniciativas focadas nesses dois pilares foram desenvolvidas pela companhia por ano. Na prática, isso aconteceu com apoio do time de tecnologia interno, além da parceria com startups e grandes players do mercado — com os quais a empresa já tinha parceria.
Em outra frente, as bases do programa também foram desenvolvidas a partir de uma migração massiva à nuvem e a estruturação de uma base de dados robusta. Atualmente, 80% dos ambientes da empresa já estão na nuvem, o que impulsiona iniciativas diversas. Enquanto um data lake de 20 terabytes abastecido com informações que vêm de múltiplas bases como ERP (Planejamento de Recursos Empresariais), iniciativas de IoT (sensoriamento) apoiam na tomada de decisões estratégicas e desenvolvimento de novas tecnologias, especialmente modelos preditivos de IA, que têm sido desenvolvidos por, pelo menos, 15 cientistas de dados.
Um dos exemplos mais recentes a consolidar a visão está no sensoriamento inteligente das granjas. Um sistema da BRF monitora indicadores como o consumo de ração, água, temperatura e peso médio das aves com o intuito de predizer o peso médio final (e ideal) dos animais para o abate.
Acompanhar a evolução desses animais nas granjas, com tecnologia, é algo fundamental”, avalia. “Com esses dados, sabemos o melhor período para o abate, e isso otimiza nossa produção, nos torna mais assertivos e focados no bem-estar animal, reduz desperdícios e melhora a nossa eficiência operacional, diz.
Segundo Cesco, com o modelo preditivo, a empresa melhorou em até 20% a assertividade sobre o peso das aves. Atualmente, 102 granjas parceiras da BRF estão equipadas com balanças inteligentes.
A iniciativa não apenas beneficia a BRF por apoiar sua jornada tecnológica, mas serve de diferencial competitivo em um mercado de commodities cada vez mais acirrado. Com a predição do peso das aves, a fabricante também pode retirar esses animais de campo em diferentes momentos (e com diferentes tamanhos), atendendo a algumas especificidades de importadores por todo o mundo. “Tomar essas ações proativas é algo que tem nos destacado no mercado nacional e internacional”, conta.
Missão ESG
Se por um lado, a adoção de tecnologia colabora para que a BRF dispute por espaço e ganhe notoriedade ante uma extensa lista de concorrentes do setor, a inclinação para o uso de IA também pode ajudar em uma missão adicional: a da sustentabilidade.
A BRF estabeleceu, em suas diretrizes institucionais de ESG, a meta de ser NetZero (compensação total de emissões de carbono) até 2040, o que começa pela adoção de práticas sustentáveis no dia a dia. Um exemplo está na tecnologia voltada à rastreabilidade de matérias-primas, algo vital para garantir que a cadeia como um todo esteja operando de forma “limpa” e com o menor impacto ambiental possível.
No caso da BRF, o destaque vai para o acompanhamento do milho, principal item de engorda das aves, por meio de um sistema de rastreabilidade que cruza informações de satélites e certificações ambientais de fornecedores. “Somos responsáveis por 9% de todo o milho consumido no Brasil. Por isso, a rastreabilidade é fundamental. Nossa jornada tecnológica tem tudo a ver com a nossa missão sustentável por si só. O agro 4.0 para nós, é uma junção disso tudo”, revela.
Futuro da IA na BRF
Para manter a missão de levar modelos preditivos de IA em etapas que vão “do campo à mesa”, a BRF procura não limitar a adoção tecnológica aos bastidores da produção. A empresa também lançou dois diferentes aplicativos voltados ao acompanhamento e diálogo com produtores parceiros e extensionistas numa tentativa de digitalizar, também, as rotinas de quem está na ponta da operação.
Pelo Agro BRF, esses produtores podem acompanhar métricas, em tempo real, sobre o crescimento do lote e informar isso à empresa, sempre digitalmente. Já com a ajuda do aplicativo Next, extensionistas recebem orientações sobre como prestar suporte técnico, como gestão de recursos hídricos e de energia, aos produtores.
Recentemente, o aplicativo também ganhou um assistente virtual que, no momento, segue em teste com 25 extensionistas. “Temos extensionistas de diferentes expertises. Com esse assistente virtual e IA generativa, nivelamos o conhecimento e todos passam a ter na mão todas as orientações sobre o que tem que fazer”, explica Cesco.
Os chatbots generativos também são populares entre os times internos. Com mais de 95 mil colaboradores e 2 milhões de mensagens trocadas mensalmente entre funcionários, a BRF decidiu criar uma IA própria que permite a consulta de informações básicas, como agendamento de férias, benefícios e planos de saúde. “Nosso relacionamento com a tecnologia começou ali, com nosso colaborador. Esse foi o pontapé para levarmos os modelos preditivos adiante em outras etapas”, conta o diretor.
Agora, meses após os testes bem-sucedidos do sensoriamento inteligente em granjas e dos aplicativos, a intenção da BRF é pautar seu “Agro 4.0” do futuro na melhoria e extensão de seus modelos generativos atuais. “Nossa intenção é levar a IA generativa para todos os nossos chatbots e criação de conteúdos, além de estender os modelos preditivos sensoriais para outras granjas do país”, explica. “O principal objetivo é usar a IA para sermos mais competitivos, agora e no futuro. E acredito que estamos no caminho certo”, diz.
E vem aí o GazzSummit Agrotechs
Antonio Cesco é um dos palestrantes confirmados do GazzSummit Agrotechs, uma iniciativa pioneira do GazzConecta que vai debater o cenário de inovação em um dos setores mais relevantes do país. O evento será realizado na quinta-feira, dia 15 de agosto, com o propósito de conectar e promover conhecimento para geração de novos negócios, discussão de problemas e desafios, além de propor soluções para o setor.
O GazzSummit promove a disseminação de tecnologias e práticas de inovação que possam levar a cadeia produtiva ainda mais longe. Uma programação intensa de 10 horas de conteúdo, e mais de 25 palestrantes, espera os participantes que poderão interagir com players importantes do ecossistema como grandes empresas, cooperativas, produtores, entidades públicas, startups e inovadores. Garanta já a sua vaga.
Fonte: gazzconecta