Após quase três anos, a Brasil Game Show, maior feira de jogos digitais da América Latina, está de volta em formato presencial, com dezenas de visitantes passando diariamente pelos pavilhões do Expocenter Norte, em São Paulo (SP). Em sua imensa maioria, homens, o que é um retrato bem diferente do perfil gamer apontado por pesquisas sobre o mercado brasileiro.
Para entender um pouco essa diferença – que mostra que o público que visita a BGS ainda é o gamer ‘hardcore’, um dos principais perfis vistos na Pesquisa Game Brasil, por exemplo – o Game On conversou com as influenciadoras e criadoras de conteúdo Ana Xisdê e Diana Zambrozuski, veteranas consolidadas entre os fãs de jogos digitais, seja em lives ou nas redes sociais.
Mesmo com o cansaço de sete dias de feira, ambas comemoravam o retorno da BGS. “Fez muita falta todo esse tempo sem ver a galera, a gente fica em casa criando conteúdo e só vê fotos e números, não tem a dimensão de quantas pessoas são, da vida real“, conta Diana. “Estar na feira permite sentir o carinho da galera e lembrar porque fazemos conteúdo“, explica a streamer, que faz lives no Facebook Gaming. “Esse ano tá todo mundo com o gás acumulado desses 2 anos sem eventos, todo mundo com uma vibe muito pra cima”.
A narradora e apresentadora Ana Xisdê já foi caster de jogos como Overwatch e Free Fire, e concorda que o evento presencial faz muita diferença. “Poder encontrar os jogadores, tirar foto, essa conexão se perde quando tudo é online, estar de volta é muito bom“, diz a criadora de conteúdo, que elogiou também a duração estendida da BGS em 2022: “Sete dias de feira abrange muito mais gente“.
Questão de representatividade
Falando sobre a ausência de mais jogadoras e mulheres fãs de games entre os milhares de visitantes, Ana acredita que existe receio da jogadora em comparecer, mas que esse não é o único motivo. “Faltam iniciativas que abraçam as pessoas que são negras, que são mulheres, que jogam no celular. Essa representatividade ainda falta nos eventos e a gente precisa abraçar essas pessoas“, explica.
A apresentadora conta que no passado, teve a postura de “vir na cara e na coragem, mas não é todo mundo que é assim. Ninguém precisa se forçar a ser o que não é para ficar a vontade num ambiente que deveria abraça-la de outra forma“.
Diana também aponta que há muita diversidade no meio gamer. “O que falta é representatividade“, diz a streamer. “Dificilmente as marcas chamam para trabalhar, só em meses específicos, mês da Mulher, mês da Consciência Negra, LGBT, mas está faltando chamar para o ano inteiro“.
Para ela, a representatividade é fundamental. “A diversidade muda o meio como um todo, não é só para ser bem visto. No momento que você só tem o Clube do Bolinha jogando games, qualquer pessoa diferente é escorraçada. É legal que cada vez mais as marcas estão abraçando a galera, muitas por pressão, mas que bom que está melhorando um pouquinho!“
Referências para outras mulheres
Para Diana, encontrar fãs na Brasil Game Show e ouvir das meninas que é uma inspiração é muito tocante. “Quando tudo era mato, era ainda mais complicado“, diz a streamer, lembrando-se de quando ela começou a fazer lives em um ambiente muito menos diversificado. Porém, ela acredita que ainda há muito o que pode ser feito: “Por mais que hoje tenha muito mais mulheres, quando sai a lista de top streamers de qualquer plataforma, nunca tem uma mulher. Precisamos de mais representatividade feminina!“
Ana Xisdê acredita que hoje é mais fácil para as mulheres que sonham em ser criadoras de conteúdo de games seguir essa carreira. “Mas ser mais fácil não significa que é fácil“, avisa. “Eu comecei por não ter mulheres nos campeonatos que eu assistia. Eu gostava muito mas não me sentia representada, ‘será que não tem nenhuma mulher com a capacidade de me representar? Então eu vou lá’.”
A apresentadora explica que existe muita pressão sobre quem não é homem ou branco neste meio. “Tem essa preocupação de ‘será que a mulher está preparada? será que o negro está preparado?‘. Eu sempre me preparei muito para não ser contestada e mostrar que as mulheres podem sim ser profissionais“. Xisdê acredita que com iniciativas como a dela e de tantas outras mulheres o cenário melhorou, mas ainda não é 100% melhor. “A gente como público cobra muito das empresas grandes por representação, mas falta o meio do caminho para criar essas oportunidades“.