Às vezes, me questiono se eu não sofro de ecdemomania, quando querer viajar constantemente é julgado um transtorno. No fundo, viajar para lugares que nunca estive é meu combustível vital que traz sentimentos e sensações muito próximas ao que sinto quando empreendo.
Senti o mesmo frio na barriga quando parti para iniciar um novo projeto, indo para o Oriente Médio. O desconhecido me empolgava pelo que estava por vir.
Considero-me um explorador de novidades e, nos últimos 10 anos, tive a oportunidade de ver com os próprios olhos a revolução das mais diversas regiões ao redor do planeta. Morei e empreendi no Vale do Silício, no auge das startups; estive na China e vivenciei a transformação digital que o país passava e, dessa vez, o destino foi a Arábia Saudita, para colocar o pé na água e conferir o que poucos – por enquanto – falam, mas que muito me chamava atenção.
Antes de falar da viagem, é importante contextualizar que, até meados dos anos 1930, a economia saudita era predominantemente agrícola, mas a descoberta de petróleo em 1938 marcou o início de uma era que transformou o país em uma potência global.
Por décadas, o país esteve envolvido diretamente nessa temática, mas com a nomeação de Mohamed bin Salman como príncipe herdeiro para o trono da monarquia árabe, em 2017, as coisas passaram a mudar e o país está vivendo uma transformação que talvez nunca tenhamos visto na história da humanidade. É um novo início de era para o país e para o planeta.
700 bilhões de dólares para impulsionar a inovação
Abrindo suas portas para o mundo, o programa de desenvolvimento “Visão Saudita 2030” vem para mudar suas estruturas econômicas ao longo dos próximos anos, desvinculando a dependência econômica do petróleo, buscando diversificar sua economia, que passa por inovações estruturais nos mais diversos setores.
O empurrão para tamanha inovação vem de seu fundo soberano, que existe há 50 anos, mas cujo perfil de investimentos mudou com o Vision 2030, passando a ser o braço responsável pela execução dessa visão.
Não é qualquer empurrão. Estamos falando de 700 bilhões de dólares disponíveis para fazer esse futuro (nada distante) se tornar realidade. Com isso em vista, cheguei para conferir essa modernização de perto.
Diário de bordo
Com uma conexão rápida em Jeddah para duas reuniões, uma delas com um executivo brasileiro da área de recursos humanos que está morando no país há 7 anos e vivenciou toda a transformação do ambiente de trabalho por lá, pude compreender mais sobre a participação das mulheres na economia do país desde então. A realidade da segregação entre homens e mulheres no país mudou consideravelmente. Hoje, a mulher é parte integrante e relevante do mercado de trabalho saudita.
Meu próximo destino foi a região de NEOM, próximo ao Mar Vermelho, onde um dos giga projetos vem para revolucionar o conceito de cidade. Nela, uma megalópole que corta o deserto com energia 100% renovável, sem carros, com zero emissões de carbono está sendo construída – essa é a proposta da The Line, a cidade futurista e comprometida com os princípios da economia verde e da sustentabilidade que a Arábia Saudita se propôs a fazer.
Com apenas 200 metros de largura e 500 metros de altura, mas se estendendo por impressionantes 170 quilômetros de comprimento, essa extensa linha atravessa paisagens montanhosas, desertas e costeiras. É possível, inclusive, ver sua demarcação e construção pelo Google Earth.
O fato de ser linear tem um propósito, tudo é projetado para que você esteja a cinco minutos a pé de qualquer lugar da cidade. Nela, o conceito de mobilidade vai para um patamar jamais visto. Além da The Line, outros três projetos envolvem a região de NEOM: Sindalah, voltada ao turismo de luxo; Trojena, que por mais inacreditável que pareça, vai receber os Jogos Asiáticos de Inverno em 2029; além de Oxagon, o maior complexo industrial flutuante do mundo, numa localização estratégica para a malha marítima que promete ser o berço das indústrias com zero emissão de carbono.
Em todos esses projetos milhares de profissionais do mundo todo, incluindo alguns brasileiros, vivem em comunidades de expatriados e trabalham para tornar essa visão em realidade. Vi de perto as obras acontecendo, conversei com profissionais que estiveram e estão por lá. A confiança é absoluta do que está por vir e saí com a mesma impressão.
Ao Sul de NEOM, visitei a cidade histórica de Allula. A região lembra muito Sedona, nos Estados Unidos, onde formações rochosas se misturam com a paisagem urbana. O turismo de luxo já está acontecendo com hotéis encravados em meio as montanhas, que garantem os likes daqueles que gostam de chamar a atenção nas redes sociais.
Falando em chamar a atenção, pude conhecer Maraya, que em árabe significa “espelho” ou “reflexo” e é exatamente isso que se vê. É o maior prédio espelhado do mundo, construído em meio ao deserto e suas rochas, que permite refletir e realçar a beleza do seu ambiente. O efeito é surreal.
A região é, também, repleta de muita história, como é o caso de Hegra, sítio histórico que foi povoado 20 mil anos atrás pelos Nabateus, os mesmos que construíram Petra na Jordânia. Porém, Allula é uma versão que, por enquanto, tem muito menos turista e já tem muito a oferecer.
Os dias seguintes na Arábia Saudita foram investidos na sua capital, Riade. Eu já tinha pesquisado a respeito, mas, ao chegar, realmente me impressionei com seu tamanho. As distâncias entre os projetos e áreas relembram São Paulo e sua região metropolitana. A modernidade de alguns bairros relembram Dubai ou Doha, mas o que mais chama atenção é a quantidade de obras e o tamanho impressionante delas.
Não é apenas NEOM que virou um canteiro de obras, é a Arábia Saudita toda. Em Riade é descomunal a quantidade e a proporção delas. Megaprojetos de turismo e infraestrutura por todos os lados. E há muitas oportunidades para nós brasileiros neste novo mundo.
Oportunidades para brasileiros na Arábia Saudita
Em Riade, pude me reunir com executivos estrangeiros de diversos projetos, entre eles Qiddiya, a cidade do entretenimento, esportes e arte que está sendo construída ao norte da capital saudita. Esse projeto é um entre tantos em que sobram oportunidades para brasileiros que têm interesse em fazer parte da revolução que o país está passando.
Desde prestadores de serviços a profissionais com experiências em grandes projetos e obras complexas para grandes construtoras brasileiras, tem vaga praticamente garantida para todos, segundo um dos diretores responsáveis por sua execução. Eles estão contratando diversos profissionais e são centenas de vagas abertas, além de inúmeras possibilidades para empreiteiros e profissionais na área da construção civil.
Estive também na sede da Red Sea Global, um projeto recente que transforma a costa oeste da Arábia em um dos destinos turísticos mais ambiciosos do mundo, criando o que tem de mais sustentável na relação entre o turismo e o meio ambiente. Nessa reunião, pude confirmar que não serão somente os mais endinheirados como foco de turistas para o país, apenas o início dos projetos é voltado para esse tipo de público. Felizmente, eles também estão pensando em nós, pobres mortais.
Pude, também, conversar com um brasileiro que está trabalhando na Ceer, a primeira marca de veículos elétricos da Arábia Saudita e confirmei, também, que as opiniões de todos são muito parecidas e convergem: a bola da vez é a Arábia Saudita e o país está disposto a trazer os melhores profissionais para dar agilidade e eficiência a todos esses planos gigantescos.
Tive a oportunidade de me reunir com um dos diretores do PIF, o Fundo Soberano Saudita, responsável por alavancar toda essa visão. E, no alto do centro financeiro de Riade, tive noção do apetite desses investimentos.
Mas uma coisa me chamou a atenção nessa conversa. Diferentemente dos Emirados Árabes, onde majoritariamente a população é de expatriados e estrangeiros, lá 80% da população é local e o reino tem e vê como sua responsabilidade desenvolver a população para sustentar sua economia nessa nova visão para o seu futuro.
Fechei minha viagem passeando pelos pontos turísticos, acompanhado pela brasileira Juliane Follador, que vive por lá e já está recebendo brasileiros que buscam conhecer e se encantar com as belezas do país.
Foi uma semana extremamente produtiva. Voltei ao Brasil com a certeza do potencial dessa nova fase da Arábia Saudita e quem estiver disposto a ajudá-los nessa transformação, será muito bem-vindo. Eu já estou com passagem de volta marcada, não quero ficar de fora deste movimento.
Todo o material que aparece no site Dia de Ajudar ("conteúdo") é protegido por direitos autorais. Você não pode copiar, reproduzir, distribuir, publicar, exibir, executar, modificar, criar trabalhos derivados, transmitir ou de qualquer forma explorar tal conteúdo, nem distribuir qualquer parte deste conteúdo em qualquer rede, incluindo uma rede local , vender ou oferecer para venda, ou usar tal conteúdo para construir qualquer tipo de banco de dados.