No final de março de 2023, o Papa Francisco desfilou nas ruas do Vaticano usando um casaco desenhado pelo estilista italiano Filippo Sorcinelli. Só que não. Essa história apareceu no site da revista Vogue Brasil, mostrando uma foto do pontífice que viralizou na internet. A imagem é falsa, e foi feita por um modelo de Inteligência Artificial (IA).
Não sabemos como o estilista foi inserido na história. Mas o fato é que a foto não enganou só os redatores da revista de moda, mas uma série de internautas. À medida que as IAs se tornam mais sofisticadas, também fica mais difícil distinguir se uma imagem, texto ou vídeo é real.
Para evitar situações como essa, o modelo de geração de imagem Dall-E não permite fazer imagens realistas de figuras públicas. Ele pertence à OpenAI, mesma empresa que criou o ChatGPT.
Mas o Dall-E não é o único modelo de geração de imagens por aí. A foto do Papa, por exemplo, foi feita com o Midjourney. Ele pode ser acessado por qualquer pessoa pelo Discord (uma rede social voltada à comunidade gamer) e não possui esse tipo de restrição.
Grosso modo, as IAs geradoras de imagem funcionam da mesma forma (entenda melhor nesta matéria). Isso significa que elas apresentam falhas e “dificuldades” semelhantes, que podem te ajudar a identificar se uma imagem é verdadeira.
Esses truques não funcionam sempre – e, em muitos casos, será impossível distinguir uma imagem falsa de uma real. Mesmo assim, alguns detalhes presentes na foto podem denunciar se ela foi fabricada.
Procure por letras e logotipos
IAs são boas em gerar imagens e textos, mas não os dois juntos. Se a imagem tiver letreiros, placas ou fachadas, as letras e logotipos aparecerão deformados – pois os modelos ainda não conseguem gerar textos críveis dentro das fotos. Se pegarmos a imagem de um jornal, por exemplo, não aparecerá uma manchete na primeira página, e sim um conjunto de caracteres e desenhos incompreensíveis.
Vale lembrar que esses detalhes podem ser alterados depois que a imagem foi gerada. Alguém poderia usar o Photoshop para escrever uma manchete e “colar” no jornal, por exemplo.
Então: a presença de palavras distorcidas indica que a imagem é falsa; mas a ausência dessas anomalias não confirma que a foto é verdadeira.
Fique de olho nas distorções
As distorções aparecem cada vez menos, mas vale ficar de olho nos detalhes da foto. As mãos costumam entregar: na foto acima, a mão direita do Papa parece estar cortada. O problema também aparece em imagens que viralizaram e mostram o ex-presidente Donald Trump sendo preso. Veja abaixo.
Todas as mãos que aparecem na foto têm alguma distorção. Também dá para notar que o emblema da polícia está ilegível. A imagem ainda mostra um sapato social sem deixar claro de onde ele está vindo. A iluminação que chega ao rosto de Trump também não parece natural.
Outros detalhes que podem vir com distorções são os dentes, óculos que se fundem com o rosto, sombras que não condizem com a iluminação, brincos que não combinam, cabelo esfumaçado, entre outros. Não é sempre que eles aparecem (a atualização mais recente do Midjourney já gera mãos realistas), mas vale procurar por esse tipo de detalhe caso esteja na dúvida sobre a veracidade de alguma foto.
Verifique a descrição e fonte
Fotos postadas por fotógrafos, jornais ou agências de notícias geralmente contém tags associadas e fontes (você pode ver o “Midjourney” abaixo das fotos anteriores). Bancos de imagens também colocam descrições da foto.
Caso encontre a imagem em algum site ou portal, verifique se ela está com a fonte. Dall-E, Midjourney e Stable Diffusion são nomes de geradores de imagem, então já pode saber que a foto foi feita por IA.
E aqui vale a mesma regra usada para identificar fake news: se a foto não estiver em nenhum site de notícias, (só for encontrada no Twitter, Facebook ou outras redes sociais), desconfie.
Ficar atento a esses detalhes não é garantia de que você conseguirá identificar se uma imagem foi feita por IA (afinal, a foto do Papa até tinha algumas imperfeições, mas eram tão sutis que passaram despercebidas). E com o avanço rápido das Inteligências Artificiais, pode ser que as dicas mostradas aqui fiquem ultrapassadas em breve. Mesmo assim, mais do que nunca é importante questionar a veracidade de imagens online – por mais realistas que pareçam.
Fonte: abril