Sophia @princesinhamt
Política

Zambelli: ‘Os votos que recebi foram pela lealdade a Bolsonaro’

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A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) tornou-se alvo de críticas da direita depois de uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo nos últimos dias. Ela foi acusada de traição, tentar acordo com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e acabou comparada aos ex-aliados de Bolsonaro, como Alexandre Frota e Joice Hasselmann. A reportagem foi reproduzida por outros veículos de comunicação de esquerda sugerindo que Zambelli estaria “pulando do barco que está afundando”.

Tudo porque a manchete “Zambelli critica Bolsonaro, diz que pode ser presa e pede trégua ao STF e foco em Lula”, segundo a deputada, foi distorcida. Em entrevista a Oeste, Zambelli fala da relação com o ex-presidente, a tal conversa com Moraes — que não aconteceu — e a situação da direita no país.

Como está a sua relação com o Bolsonaro?

Como sempre esteve, normal. Nem melhor nem pior, do mesmo jeito que sempre esteve. 

A mídia insinuou que ele não teria gostado da sua entrevista à Folha. Você chegou a falar com ele?

Não cheguei a telefonar. Tento  perturbar o presidente o mínimo possível. Mas quando ele disse que não ia ler é porque ele não lê a Folha, não é que não ia ler a reportagem. Ainda bem que a gente tem jornalistas sérios, como o Paulo Figueiredo, para desmentir essa história de traidora porque a Folha,  com a Mônica Bergamo, inventou. Essa história de “interlocutores” do presidente. O Bolsonaro não é de falar sobre o que ele pensa de outras pessoas, então quando eu vi aquela matéria na coluna da Mônica Bergamo, já tinha certeza que era mentira e que foi colocada para tentar desestabilizar minha relação com os bolsonaristas. Na verdade, a esquerda quer, a todo custo, desestabilizar as relações dos deputados bolsonaristas com o nosso público. Eu continuo sendo xingada pela esquerda, ou seja, se a esquerda fala que eu sou traidora do Bolsonaro, teoricamente, a esquerda deveria passar a gostar de mim, né? E obviamente que não, continua me xingando do mesmo jeito, me ameaçando e mandando mensagem diariamente, eu sofro isso.

Você fez algum acordo com o Alexandre de Moraes, esteve ou conversou com ele?

Eu não estive com ele nem conversei com ele nem uma vez na minha vida. Eu tentei conversar sobre os presos do dia 8. Eu liguei para tentar me aproximar porque eu acho que não adianta agora a gente estressar a relação com o STF. Óbvio que o coração fala uma coisa e a cabeça outra, mas a gente agora tem que fazer de tudo para que a população brasileira não sofra. Como que a gente faz isso? Tentando minimizar os problemas para a população, por exemplo, os presos do dia 8. Por que a gente vai continuar estressando a relação com o STF se a gente precisa que o STF relaxe as prisões dos inocentes? Então não adianta eu continuar com “raivinha” porque fui prejudicada pessoalmente por ele e não resolver o problema. Dar murro em ponta de faca nunca resolveu o problema de ninguém. Mas eu não tive nenhum acordo com ele, nunca estive e nunca conversei com ele. O que eu fiz foi mandar um e-mail pedindo uma conversa e obviamente eu ia tocar no assunto também das redes sociais, porque eu fui a única  deputada que teve todas as redes bloqueadas. Alguns eleitos na época e agora deputados e reeleitos tiveram Instagram ou Twitter cortados, eu tive todas as nove redes sociais. Até o LinkedIn que é uma rede profissional, quer dizer, não tinha sentido nenhum cortar essa rede e eles cortaram. 

A mídia sugere que você estaria “saindo do barco antes de afundar” e até fez uma comparação com Alexandre Frota e Joice Hasselmann.

Eles querem enfraquecer quem está bem na mídia. Veja os meus números de alcance de rede social nos últimos dois anos, antes de cortarem… Eu era a primeira colocada em nível de interações e alcance no Congresso inteiro; pela segunda vez fui a deputada eleita como a Melhor do Brasil, pelo voto popular no concurso Congresso em Foco; um mês antes de me cortarem eu tive um bilhão de interações no Instagram; segundo um levantamento do Globo, dos 10 deputados mais influentes do Facebook, por exemplo, eu sozinha tive 20% das interações de toda a Câmara dos Deputados. Se fizer uma projeção, é interação suficiente para 88 deputados. Então, pegar uma pessoa dessa forma, que teve quase um milhão de votos, foi a mulher mais votada do Brasil, e querer colocar essa deputada no mesmo rol de pessoas traidoras é muito fácil. A única coisa que eles não tiveram é consciência de que o barco não está afundando, muito pelo contrário, a eleição do Lula só vai fazer com que a direita se reforce no Brasil. Eu sei que é estranho pensar assim agora, e obviamente eu não queria isso, eu preferia que a direita fosse sendo construída a partir do amor e não com a dor, mas a gente tem duas formas de aprender na vida: com amor ou com a dor. Infelizmente, com a faixa sendo entregue para o Lula, a gente vai aprender com a dor, haja vista os R$ 18 de aumento do salário mínimo, o maior desmatamento do mês de fevereiro da história desde que começou a ser contabilizado, a inflação sendo 11 vezes revista para cima. Em dois meses, foram só notícias ruins. Tudo o que ele tem feito é pelo plano de poder.

Na campanha eleitoral você trabalhou o tema lealdade. E agora é acusada de traição. Acha que é uma provocação?

Com certeza. Logo depois que eu recuperei minhas redes, simplesmente querem me colar a pecha do que eu mais aprecio numa pessoa. Lealdade é você conforme você prometeu, ter constância. Eu tenho 12 anos de carreira pública, antes com o Movimento Nas Ruas, durante sete anos, e agora estou no quinto ano de legislatura. Então, me chamar de traidora é a pior coisa que pode acontecer. Jamais faria isso, tenho consciência de que o número de um milhão de votos que recebi foi pela lealdade que eu tive com o presidente Bolsonaro durante os quatro anos e esse barco não está afundando. Eu preferia que o Bolsonaro tivesse ganhado. Engraçado porque vi quantas pessoas não eram Bolsonaro em 2018 e quantas acabaram gostando do governo dele. Então a gente não diminuiu, a gente está aumentando, o barco não está afundando, o barco está se tornando cada vez mais forte.

A manchete foi feita para chamar a atenção, causar confusão?

Eu acho que não só faltou profissionalismo como faltou também esperteza, porque o grande problema que eu tive é que as pessoas leram o título, mas não clicaram na entrevista. Por exemplo, o Fernando Holiday, no começo do dia, falou que eu era traidora porque eu tinha criticado o Bolsonaro, e no final do dia ele pede desculpas — porque a Folha levou ele a pensar mal de mim. Pediu desculpas publicamente e claro foi desculpado, porque esse tipo de erro é normal. Mas quando as pessoas veem esse tipo de manchete pronta elas não clicam. Além de antiético, porque eu não critico o presidente, muito pelo contrário, eu digo que estou sentindo falta do presidente estar no Brasil liderando a oposição, mas eu compreendo a falta dele, porque sei dos problemas que ele está vivendo. Isso aí não é uma crítica, estou exaltando a figura do presidente, dizendo o quanto ele é importante para direita e para o conservadorismo no Brasil. Eles não só deturparam o que eu falei, distorceram e colocaram exatamente o contrário. Foram burros, né? Porque perderam cliques.

Por que a senhora deu a entrevista ao jornal sabendo dos riscos de ter sua fala distorcida?

A intenção de dar entrevista para a Folha, como todos os anos eu faço,  é sair da bolha, chegar até as pessoas que a gente não alcança pelas redes sociais. É como se fosse um desafio, e até me coloco na posição de eventualmente ter problemas, eu sei que é um prejuízo calculado, digamos assim, mas pode ser uma forma de trazer pessoas para as nossas redes sociais. 

Fonte: revistaoeste

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