Sophia @princesinhamt
Política

Relação entre PT e chavismo: amor, desafios e gratidão

2024 word2
Grupo do Whatsapp Cuiabá

Às vésperas de um processo eleitoral, que o mundo ainda aguarda para saber se será um processo de eleições ou de “eleições”, bem entre aspas, o ditador chavista da Venezuela, Nicolás Maduro, fez questão de cercar o momento com uma atmosfera de ameaça e terror. Ele afirmou que o país poderá enfrentar um “banho de sangue” ou uma “guerra civil” caso a triunfe.

O comentário desalmado rendeu reações inusitadas e desencontradas em nosso governo federal. O assessor da Presidência para assuntos internacionais e ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, concedeu entrevista na condição indevida de advogado de Maduro, “ponderando” que o tirano estava, na verdade, se referindo metaforicamente a um conflito de classes que se estenderia a longo prazo, não a um desastre sanguinolento concreto.

No entanto, o próprio presidente Lula não fez coro com seu assessor e foi surpreendentemente enfático com seu companheiro de Foro de São Paulo, organização que reúne as forças de esquerda (extrema esquerda!) da América Latina: “Fiquei assustado com a declaração do Maduro dizendo que, se ele perder as eleições, vai ter um banho de sangue. Quem perde as eleições toma um banho de voto. O Maduro tem de aprender, quando você ganha, você fica; quando você perde, você vai embora”. Está certíssimo, é claro; mas, como diz o nome do filme, “sei o que vocês fizeram no verão passado”. Está claro que Lula está demonstrando cansaço com os desgastes provocados por sua ligação umbilical com o autoritarismo esquerdista latino-americano, mas é tarde para querer reconstruir a própria .

O desencontro entre Lula e Amorim terminou pouco depois, quando ambos se uniram para dizer asneiras. Segundo Amorim, a eleição é uma ocasião de demonstrar que “a democracia venezuelana está consolidada” (?). Lula, por sua vez, garantiu que o que os governos Temer e Bolsonaro fizeram no Brasil “é o que o Netanyahu está fazendo na Faixa de , lá na Palestina” — reproduzindo logo em seguida todas as narrativas do Hamas sobre como Israel é o vilão da história.

A conclusão da lógica lulopetista é que o Brasil antes de Lula voltar ao poder era um desastre terrorista, mas a Venezuela que deixou o próprio Lula assustado é uma democracia vibrante. O lulopetismo é um vazio de ideias e um pacote farto de paradoxos aberrantes.

Nada disso justifica, seja qual for o nível de decência ou indecência da vítima, uma das maiores manchas morais que o ser humano pode expressar: a ingratidão. Não tenho nenhuma pena de quem dedicou tanto tempo a defender a “democracia relativa” da Venezuela, tendo agora de ver um ataque do grande mandatário “democrático” venezuelano à “democracia relativa brasileira”. Entretanto, não posso deixar de me impressionar com o fato de que bastou Lula se dizer “assustado” com referências a “banho de sangue” e “guerra civil” que Maduro o mandou “tomar chá de camomila” e, para usar as palavras de nossos ilustríssimos juristocratas, “cometeu um atentado à democracia brasileira” e reproduziu o discurso de que as urnas eletrônicas brasileiras não são auditáveis.

Deixemos o mérito da confiabilidade das urnas de lado. Um comentário de Lula dizendo que está assustado, de repente, apagou, para Maduro, todo o apoio diplomático, político e econômico que o Brasil lulopetista sempre deu à Venezuela chavista, sem paralelo em praticamente qualquer outro país. A dívida venezuelana com o Brasil, segundo a CNN, pode chegar a R$12,5 bilhões, mas, mesmo assim, ele se sente à vontade para fazer esse tipo de comentário sobre o nosso país em tom jocoso e de desafio. Vai entender…

: revistaoeste

Sobre o autor

Avatar de Redação

Redação

Estamos empenhados em estabelecer uma comunidade ativa e solidária que possa impulsionar mudanças positivas na sociedade.