Mendes defendeu que a adoção das câmeras representa uma “inversão de valores”, alegando que o foco das discussões deveria estar na criminalidade geral e não na atuação dos policiais. Ele minimizou os potenciais benefícios da medida, classificando-a como insuficiente para enfrentar problemas como homicídios e roubos.
“Colocar a câmera na farda dos nossos policiais é tratar como se eles fossem os bandidos desse país, que precisam ser vigiados, quando são eles que dão segurança. A câmera pode até inibir alguma coisa, mas hoje no Brasil menos de 0,0% dos crimes são cometidos pelos policiais. No que isso vai diminuir o roubo de celular ou os mais de 40 mil assassinatos anuais, em sua maioria cometidos por bandidos? É uma hipocrisia dizer que colocar câmeras nos policiais vai melhorar o ambiente de segurança pública no Brasil”, declarou Mendes.
As declarações do governador ocorrem em um momento de ampla repercussão de casos de violência policial. Em São Paulo, por exemplo, um policial militar jogou um homem de uma ponte de três metros de altura, enquanto outros episódios envolveram homicídios e agressões durante abordagens. No fim do mês passado, um policial militar matou um estudante de medicina que havia dado um tapa em uma viatura na Vila Mariana.
Também em novembro um policial de folga disparou várias vezes contra um homem que havia furtado sabão de um mercado na Zona Sul da capital. Os tiros foram dados pelas costas da vítima. Na semana passada, um policial agrediu uma idosa e deu um mata-leão em um homem durante uma abordagem em Barueri.
Em resposta, o governador Tarcísio de Freitas, que inicialmente era cético em relação às câmeras corporais, passou a defender sua adoção como forma de aumentar a transparência e mitigar abusos.
Especialistas apontam que, em estados onde o equipamento foi implementado, como São Paulo, houve redução significativa de registros de violência policial e maior segurança jurídica tanto para agentes quanto para cidadãos. Apesar disso, Mendes insiste que os dispositivos não são uma solução para os problemas de segurança pública.
Nesta segunda, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, definiu que é obrigatório o uso de câmeras corporais por policiais militares de São Paulo durante operações. Barroso atendeu a um pedido da Defensoria Pública do estado de São Paulo e tomou a decisão em meio a vários casos de violência policial registrados em São Paulo nas últimas semanas.
O magistrado lembrou que o governo de SP firmou recentemente um compromisso para implementação das câmeras em operações policiais.
O governador também criticou a cobertura midiática dos casos de violência policial, destacando que ações isoladas não deveriam manchar a imagem de toda a corporação. “É claro que aquele policial que jogou o cidadão na ponte tem que ser punido. Agora, pegar um fato desse e transformar isso num absurdo, manchando os milhares de policiais bons e corretos, é uma inversão completa de valores. Não vejo a mesma indignação contra os criminosos que matam, executam e cometem atrocidades. A Polícia Militar tem valorosos homens e mulheres que arriscam suas vidas para trazer segurança pública”, afirmou Mendes.
Fonte: Olhar Direto