Desde a última segunda-feira, 23, o jornalista Godofredo Brito, de 43 anos, teme pela própria vida. O medo de ser assassinado é consequência de ato protagonizado por Antonio Carlos Camelo de Pinho, o Carlão do PT, vereador de Cocal (PI). Brito foi esfaqueado pelo petista.
Vídeo gravado pelo jornalista mostra o momento da agressão — que o próprio Brito classifica como tentativa de homicídio. Sem cortes, o material de quase um minuto e meio mostra o comunicador dirigindo, na companhia de um colega, até o local de uma obra de pavimentação de estrada. Ao se aproximar do ponto, ele é abordado por Carlão. O conteúdo (veja abaixo) exibe o vereador Carlão do PT desferindo socos e tentando esfaquear Brito.
Conforme o vídeo, Brito nem conseguiu descer do carro. Só deu tempo de abrir a porta do ao chegar ao local da obra. Carlão do PT surge empunhando uma faca e parte para cima do jornalista.
Agredido, Brito registrou boletim de ocorrência. Apesar do vídeo e dos ferimentos, o caso foi registrado pela delegacia do município como mero caso de “lesão corporal”. Nesta segunda-feira, 30, uma semana depois de ser esfaqueado e agredido com socos, o jornalista segue com o olho esquerdo inchado, além de contar com hematomas no braço direito, na região do tórax e nas costas.
“Está muito arriscado para mim”, relata Brito, em entrevista a Oeste, ao reforçar que teme ser assassinado. “Se eu não conseguir apoio urgente, os caras vão acabar comigo.”
Ex-feirante e dono de uma loja de assistência técnica e acessórios para celular em Joaquim Pires, município a 100 quilômetros de Cocal, Brito passou a trabalhar com comunicação social em 2014. Desde então, por meio das redes sociais e do canal no YouTube no qual se apresenta como “fiscal do povo” de Cocal, sua cidade natal, ele divulga denúncias contra lideranças da política local. Era o que pretendia fazer no dia em que foi esfaqueado pelo vereador do PT.
“A obra de pavimentação nem tem placa com os valores gastos, que é o que deveria ocorrer”, afirma o jornalista. “Chegando ao local, vi que o Carlão estava, digamos, executando a obra. Vereador não executa, ou não deveria executar uma obra.”
Até o momento, segundo Brito, não ocorreu nada com Carlão do PT. Acompanhado de advogado, o vereador prestou depoimento. Liberado, o petista segue exercendo normalmente o mandato no Legislativo municipal.
Jornalista esfaqueado por vereador do PT já foi alvo de tentativas de agressão
O fato da semana passada não foi o primeiro que teve Godofredo Brito como alvo. A Oeste, ele afirma que foi alvo de “capangas” de Rubens Vieira em duas oportunidades, em 2020 e 2022. Eleito deputado estadual pelo PT do Piauí no ano passado, Vieira foi prefeito de Cocal por dois mandatos consecutivos, ficando no cargo de 2013 a 2020.
Acusado por Brito de ser o político que “manda na cidade” até hoje, Vieira seguiu o mesmo caminho de Carlão. O vereador esfaqueador e o ex-prefeito hoje militam pelo PT, mas já foram filiados — e disputaram eleições — pelo PSDB. Para o jornalista, o fato mostra que não existe oposição dentro da estrutura política do município piauiense. O atual prefeito de Cocal, Nonatinho do Sindicato (PT), integra o mesmo grupo político.
A fim de tentar mudar essa história, Brito, que se apresenta como um homem de direita, resolveu tentar se eleger. Filiado ao Patriota em 2020, ele se candidatou a vereador de sua cidade natal — e que é o foco de suas denúncias —, mas não teve sucesso. No ano passado, concorreu pelo PL ao cargo de deputado estadual no Piauí, mas também não conseguiu o número necessário de votos.
O jornalista, que segue filiado ao partido do ex-presidente Bolsonaro, clama por apoio do PL diante das recorrentes agressões e ameaças. “Preciso que me ajudem”, diz ele. “Passei a denunciar o que acontece na cidade, e a minha vida só piorou. Temo ser agredido, ameaçado ou, quem sabe, coisa pior.”
Entidades de jornalismo repudiam agressão
Esfaqueado por um vereador do PT de Cocal, Brito afirma que não contou com apoio institucional dos órgãos da cidade. De acordo com ele, nem a prefeitura nem a repudiaram o caso protagonizado pelo petista, que está em seu primeiro mandato como vereador.
O diretório do PT no Piauí limitou-se a divulgar um comunicado em que, de forma genérica, “repudia veementemente toda e qualquer forma de agressão”. O nome do agressor não foi nem sequer citado no conteúdo assinado por João de Deus Sousa, deputado estadual e presidente do PT piauiense.
O silêncio, contudo, não imperou entre entidades de jornalismo. Em conjunto, quatro entidades se uniram e divulgaram nota repudiando a agressão sofrida por Brito. Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Federação Nacional dos Jornalistas, Intervozes — Coletivo Brasil de Comunicação Social e Repórteres Sem Fronteiras cobraram providências e a “devida apuração dos fatos”.
“São preocupantes a radicalização e a violência que cercam o jornalismo local em muitos municípios brasileiros”, afirmam as entidades, em . “Na maioria das vezes, são esses comunicadores que fazem a cobertura cotidiana dos fatos em suas cidades e são as principais fontes de informação dos demais moradores. Violações contra esses profissionais são ameaças à liberdade de imprensa e devem ser combatidas com rigor. Aos comunicadores é preciso dar a segurança para que exerçam seu papel na sociedade.”
Apesar do posicionamento e do acompanhamento por parte de quatro entidades de jornalismo, o temor segue acompanhando Brito. Sem conseguir conter o choro, ele afirma que as agressões físicas e as ameaças não atingem apenas ele, mas afetam toda a família, sobretudo a mulher e os dois filhos, de 10 e 17 anos.
Conteúdo atualizado em 30/10/2023, às 16h47, para acréscimo de informações — com a inclusão da nota de entidades de jornalismo denunciando a agressão sofrida pelo jornalista Godofredo Brito.
Fonte: revistaoeste