A Polícia Federal (PF) não questionou o jornalista português Sérgio Tavares sobre a situação do visto para ele poder entrar no Brasil. No último domingo, 25, o comunicador ficou detido por cerca de quatro horas no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP).
Em vídeo publicado nesta quinta-feira, 29, em seu canal no YouTube, Tavares divulga o relatório de seu depoimento. No documento, não consta a informação de que ele foi questionado a respeito do visto ser de turismo ou de trabalho. Também não há registro de perguntas relacionadas ao passaporte. “É falsa”, disse, sobre a versão da PF.
De acordo com o relatório da Polícia Federal, o depoimento do jornalista foi conduzido pelo delegado Pedro Henrique dos Santos Maia. Para o interrogatório, o jornalista contou com a companhia do advogado Eduardo Borgo. Conforme o documento, ao qual obteve acesso, o comunicador lusitano foi confrontado a respeito de:
- vir ao Brasil para cobrir o ato pela democracia e, posteriormente, ir a Brasília para participar de audiência pública no Senado;
- ter reservado ou não hotéis na capital paulista e no Distrito Federal;
- contar com recursos financeiros para se manter no Brasil;
- dia de voltar para Portugal (que foi segunda-feira 26);
- ser professor e jornalista, além de manter um canal no YouTube;
Além disso, o relatório da PF consta que, por orientação de Borgo, Tavares se manteve em silêncio ao ouvir perguntas sobre ter afirmado que o Brasil vive uma “ditadura do Judiciário”, de que é um país “chefiado por um criminoso”, de ter feito comentários que possam ter atingido a honra de ministros do Supremo Tribunal Federal e a respeito de sua opinião em relação aos protestos de 8 de janeiro de 2023.
A íntegra do relatório — e que rendeu vídeo no canal de Tavares — destoa da versão da PF. Ainda no domingo, depois de liberar o jornalista português para deixar o aeroporto e de facto entrar no Brasil, a corporação garantiu, em comunicado, que realizou “procedimento padrão” para saber se ele estava a turismo ou a trabalho no país. Além disso, a PF se referiu ao profissional como “indivíduo”.
Livre, o jornalista conseguiu acompanhar o ato pela democracia. No palco montado na Avenida Paulista, ele esteve ao lado de autoridades e do ex-presidente Jair Bolsonaro. Tavares não conseguiu ir a Brasília e voltou para a Europa na noite de segunda-feira 26.
Em entrevista exclusiva a , o advogado do jornalista português, Eduard Borgo, avaliou que a prisão de Sérgio Tavares foi ilegal. Ele explicou que existem acordos do Brasil com outros países, incluindo Portugal, que permitem a entrada desses profissionais no país sem a exigência de visto. Ou seja, independentemente de a turismo ou a trabalho, o comunicador não deveria ter sido impedido durante horas de deixar o aeroporto.
“Só teria sentido se ele estivesse sendo remunerado por uma empresa brasileira, que não era o caso de Sérgio Tavares”, explicou o advogado. “Ele é um jornalista, veio aqui para cobrir o evento de forma independente. Então, nesse caso, não há previsão de exigência de visto para a permanência dentro do Brasil até 90 dias.”
O confirmou a declaração do advogado de Sérgio Tavares. “Cidadãos da União Europeia que viajem ao Brasil para exercer atividade jornalística estão isentos de visto para estadas de até 90 dias, desde que a atividade não seja remunerada por fonte brasileira”, informa o governo.
Fonte: revistaoeste