A Guiana questiona a falta de um apoio “mais enfático” de países vizinhos na defesa de Essequibo. O território, rico em petróleo, corresponde a mais de dois terços do território guianês e está sob ameaça de invasão pela Venezuela.
Tal “ressentimento” teria sido comunicado em telegramas da Embaixada do Brasil na Guiana para o Ministério das Relações Exteriores (MRE) em Brasília. Os documentos foram obtidos pelo jornal O Globo, via Lei de Acesso à Informação.
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As mensagens datam de 25 de novembro a 10 de dezembro, em meio à crise de disputa pelo território, que já dura mais de um século, mas escalou nos últimos meses.
Em 3 de dezembro, eleitores venezuelanos teriam rejeitado em referendo a jurisdição da Corte Internacional de Justiça (CIJ), o Tribunal de Haia, da ONU. Apoiariam, assim, a anexação da região pelo ditador Nicolás Maduro.
Turma do deixa disso
O Brasil e países da Comunidade do Caribe começaram, então, a propor um acordo. Mas os telegramas, escritos pela então embaixadora, deixam claro que os guianenses não acreditam em uma negociação direta com Maduro.
Em 5 de dezembro, Maria Clara relatou ao MRE o teor de uma conversa reservada que manteve com Hugh Todd, ministro das Relações Exteriores da Guiana. Ela avalia que, dada a discrepância militar entre os dois países, “não haveria ambiente para qualquer negociação bilateral em bases equilibradas”.
“O que se busca, portanto, é o apoio da comunidade internacional, em especial dos mandatários da América do Sul, no sentido de manifestar seu apoio”, escreveu a embaixadora. “Esta seria a principal razão para que a Guiana insista em obter de seus parceiros menções específicas ao tratamento do tema pela CIJ.”
Referendo não confere legitimidade a Maduro, avalia Guiana
O governo guianês questiona a representatividade do referendo venezuelano. Afinal, “somente 50% dos eleitores responderam às perguntas apresentadas”, disse o chanceler Todd.
De acordo com os números do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão oficial da Venezuela, compareceram às urnas 10,4 milhões de votantes. Ou seja, pouco mais da metade dos 20,7 milhões de eleitores.
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Desses 10,4 milhões, 95% teriam aprovado a criação de um novo Estado venezuelano. Ele se chamaria Guiana Essequiba.
Na conversa, Todd avaliou que “o relativo apoio obtido não permitirá a Maduro justificar qualquer gesto unilateral para dar fim ao contencioso”, relata a embaixadora. No entanto, o ditador ainda poderia “‘subir o tom’ caso lhe seja proveitoso da ótica eleitoral”.
‘Falta de um apoio mais enfático’
“Uma vez que a Venezuela declara não aceitar a jurisdição da CIJ e não há nenhum sinal de que venha a reconhecer que a região pertence à Guiana”, prossegue Maria Clara, “o governo da Guiana ressente-se da falta de um apoio mais enfático da parte dos governos da região”. Ela não chega a mencionar o nome de nenhum país.
“Em conversa com o presidente Lula, o assunto já foi diversas vezes tratado e sabe-se que o presidente [da Guiana, Irfaan] Ali tem feito, junto a alguns países relevantes na região, gestões no sentido de contar com algum tipo de mediação do conflito.”
Maria Clara Duclos Carisio deixou o posto ainda em dezembro para representar o país na Bósnia. A sucessora, Maria Cristina de Castro Martins, ainda não assumiu, pois depende da publicação de sua nomeação no Diário Oficial da União.
Fonte: revistaoeste