O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer propor à administração de Donald Trump a criação de um grupo de trabalho conjunto para tratar das deportações de migrantes brasileiros. A é do jornal Folha de S.Paulo.
Segundo interlocutores do governo brasileiro, o objetivo é dialogar com as autoridades norte-americanas para “garantir segurança no transporte e um tratamento digno aos deportados”.
A decisão foi tomada em uma reunião no Palácio do Planalto entre o presidente Lula, ministros e demais autoridades, depois de relatos de maus-tratos e uso de algemas durante as deportações. O encontro durou mais de uma hora.
Depois da reunião, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, declarou que um dos focos do governo brasileiro é estabelecer um canal de diálogo com os Estados Unidos para assegurar que as deportações atendam a “requisitos mínimos de dignidade e respeito aos direitos humanos”.
“Objetivo da reunião, além de transmitir ao presidente o que aconteceu e relatar a situação, foi também discutir formas de tratar o tema daqui para a frente e dialogar com as autoridades americanas para que as deportações para os Estados Unidos e as repatriações para o Brasil sejam realizadas atendendo aos requisitos mínimos de dignidade e respeito aos direitos humanos, com a devida atenção às passageiras em uma viagem dessa extensão”, disse Mauro Vieira.
Nos bastidores, membros do governo revelam que o Brasil vai buscar diálogo moderado com os EUA, sem confrontos nem provocações. A avaliação é que uma postura mais agressiva não traria resultados concretos e poderia alimentar tensões com a administração Trump.
Durante a mesma reunião, foi decidido que o governo brasileiro vai montar um posto de acolhimento para deportados no Aeroporto de Confins, em Minas Gerais, mas ainda não foram divulgados detalhes sobre o funcionamento da unidade.
Também ficou estabelecido que não serão utilizados voos da para trazer de volta os brasileiros deportados, como tem feito a Colômbia depois da crise entre o presidente colombiano, Gustavo Petro, e Donald Trump. O entendimento do governo brasileiro é que essa responsabilidade cabe aos Estados Unidos.
Inicialmente, o governo Lula considerou a possibilidade de utilizar aviões da FAB para buscar os deportados nos EUA. No entanto, essa alternativa foi descartada, pois, segundo a análise do ministro Mauro Vieira, o envio de aeronaves brasileiras poderia ser interpretado como uma afronta pelos norte-americanos.
Vieira afirmou que, na reunião desta terça-feira, 28, o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, Gabriel Escobar, forneceu esclarecimentos ao Itamaraty na segunda-feira, 27, sobre a “atipicidade” do voo que trouxe 88 brasileiros de volta ao país.
Na leitura da diplomacia, enviar aviões da FAB para os EUA poderia sinalizar uma falta de confiança nas explicações dadas pelos norte-americanos.
Fonte: revistaoeste