A jornalista e advogada Laura Zommer, conselheira da International Fact-Checking Network (IFCN), entidade que reúne veículos independentes de checagem de fatos de todo o mundo para confirmação da veracidade de informações divulgadas na internet, afirmou que a plataforma Brasil contra Fake, lançada na semana passada pelo governo Lula, é “viciada desde a origem”.
Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, Laura, que é diretora-geral do portal argentino Chequeado, disse que a proposta contraria os princípios da checagem de fatos estabelecidos pela IFCN, já que não se trata de jornalismo independente. “Essas ‘agências de checagem’, na realidade, são agências dependentes de secretarias de comunicação do governo, como ocorre no México e como entendo ser no Brasil. É algo viciado desde o início”, declarou.
Ela explicou que “a posição que a IFCN sempre manteve é de que quando um governo faz algo a que chama de fact-checking, na realidade está fazendo comunicação institucional ou político-estratégica”. Não há, portanto, “autonomia e equidistância em relação aos distintos atores do debate público”, o que são requisitos para a checagem de fatos, disse a ativista.
Segundo Laura, a iniciativa do Brasil não é original e governos de alguns países da América latina lançaram “serviços” semelhantes. Entre eles, estão México, peru, argentina, Colômbia, Guatemala e Bolívia. Mas, falta isenção nessas iniciativas e transparência nessas iniciativas. “Nas iniciativas oficiais, há um conflito de interesse que não necessariamente fica transparente ao público. E não há garantias de que o governo vai tratar com a mesma régua os seus e os outros. A própria razão de ser de um governo anula a possibilidade de apartidarismo. Os governos representam a maioria, não a minoria, já que sempre alguém ganha e alguém perde nas eleições”, declarou a ativista ao Estadão.
A jornalista disse que em vez criar “agências de checagens”, os governos deveriam investir em educação midiática e que “há conversas pendentes sobre exigir por parte das big techs mais transparência e mais investimentos em programas de educação midiática”.
Fonte: revistaoeste