Será mesmo que tudo começa depois do Carnaval? Não, não é verdade, tudo começa a partir do Carnaval. As pessoas permanecem esperando cerca de doze meses por esta festa popular, que é uma das maiores do nosso povo, para dar o pontapé inicial no novo ano. Não significa iniciar com o pé direito, é começar com os dois pés, as duas mãos e o corpo inteiro.
Carnaval não é o ópio do povo, é a alegria de um povo que sofre as decepções de um país combalido por corrupções e injustiças. Carnaval é vestir a máscara de uma ilusão passageira, que tem como ponto negativo a efemeridade e como ponto positivo repetir-se a cada ano.
Durante seu período, que estendemos o máximo possível, somos personas diversas, que externamos uma só coisa: a felicidade, que se manifesta no balançar de quadris e de ombros e no sorriso estampado no rosto.
O Carnaval é um daqueles poucos momentos em que não há falsidade, nem falsa idade. Todos somos sinceros e infantes e nosso puerilismo extravasa a pureza que se firma na cadência do tambor. A avenida carreia sonhos e esconde fantasias embaixo de fantasias.
No carnaval há flexibilização de regras, afrouxamento da autocrítica, abrandamento da autoexigência. Isso tudo nos favorece viver a espontaneidade de nosso momento infantil.Nossa fantasia nos proporciona uma festa de encontros, de compartilhamento de alegria, momentos de poucos assuntos, sem choques de opinião, de menos palavras e muitos toques. Ao lado disso há o uso abusivo da voz nas notas ardentes das canções carnavalescas.
Infelizmente há um lado ruim extraído de algo que deveria ser cem por cento bom e saudável. Estamos falando do consumo exagerado de álcool, do uso de drogas e da violência, que substituem a fantasia lúdica que carregamos dentro da alma por condutas maléficas, desproporcionais ao encantamento da época.
É quando vemos mais intolerância, preconceitos, furtos, roubos homicídios e outros tipos mais de violência, seja ela física ou psicológica. São fatos que comprometem a saúde mental, gerando estresse agudo e pós-traumático e outros transtornos psíquicos, com provável necessidade de intervenção médica e psicológica.
Em suma, o bom é aproveitar estes poucos dias de folia, sem excessos e degustando nestes quatro dias, que ampliamos para uma semana ou mais, a magia do carnaval. Perder a festa e a plenitude de sua beleza é perder o trem da alegria, é descarregar a agressividade nos trilhos, é dar vazão à tristeza, ao sentimento de incapacidade e de fracasso pelo não compartilhamento de algo que ainda não se desenvolveu: o sonho com uma realidade possível a estender-se por todo o ano.
Seria bom se tivéssemos dentro de nós um carnaval no dia a dia, que nos permitisse fantasiar, sonhar e, ao mesmo tempo, viver a realidade nua e crua, sempre com olhos que fantasiem, mas que se se mantenham dentro do mundo real.
Não obstante todas essas considerações, a exemplo de sérgio Sampaio, vamos botar nosso bloco na rua. Abaixo, apenas um pedaço desta bela canção. Tire um tempinho e a ouça integralmente.
Eu quero é botar meu bloco na rua
Brincar, botar pra gemer
Eu quero é botar meu bloco na rua
Gingar pra dar e vender
Fonte: primeirapagina