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Cuiabano mantém loja de ‘mimos regionais’ por duas décadas após aprender artesanato com o pai: ‘quero mais 15 anos de sucesso’

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O artesão Gean Cassio Correa da Costa, de 50 anos, cresceu vendo o pai trabalhar com artesanato, fosse na montagem de violas de cocho ou de figuras dos animais do Pantanal de Mato Grosso. À medida em que se tornava adulto, as manualidades também continuaram sendo presentes na vida de Gean, que mesmo quando passou em um concurso público, não deixou o ofício para trás e vende na loja que funciona há duas décadas no bairro Bela Vista, em Cuiabá. 


“Faço isso aqui por amor mesmo, se não fosse por amor, já tinha fechado faz horas”, brinca o artesão sobre a dificuldade de se viver da arte. “Peguei de experiência a produtividade e a calma do meu pai, além dos macetes de fechar as peças, porque ele faz sem molde, no olhômetro”, lembra. 
Gean conta que desde criança sempre se interessou por fazer artesanato com o pai. “Tenho mais seis irmãos, mas quem está seguindo o caminho do artesanato sou só eu”, diz. Era comum que ele ajudasse a montar as violas de cocho enquanto observava a rotina de trabalho no ateliê. Atualmente aposentado, o cuiabano agora se dedica à produção artesanal. 
O espaço onde vende os artesanatos regionais também funciona como um ateliê livre, onde Gean busca receber os interessados por aprender qualquer tipo de arte com materiais recicláveis, MDF ou gesso. A experiência do artesão não se resume a apenas uma técnica, algo que é possível notar através das peças expostas nos três cômodos da loja, que são repletos de souvenirs pantaneiros, licores, cachaças e doces regionais. 
No estabelecimento, Gean também fomenta a arte de outros artesãos mato-grossenses. Sentado em uma cadeira de palha, ele se balança para frente e para trás enquanto conta que o item é produzido por um idoso de 90 anos. “Quero fazer um curso aqui no futuro”, comenta. 

A loja de artesanato começou há 20 anos, quando Gean e o pai começaram a expor algumas esculturas de gesso no canteiro da avenida Oátomo Canavarros, no bairro Bela Vista, em Cuiabá. A movimentação de clientes chamou a atenção do cuiabano que, por ser comunicativo, costuma engatar conversas que duram horas enquanto mostra cada uma das peças. 
“Minha casa virou um ateliê aberto, quando saio e encontro alguém ali na frente, é conversa de 2 horas ou mais”, comenta aos risos. “Sei que é um local bem diferente dos outros que estamos acostumados, aqui é tudo sem protocolo, você chega aqui e pode sentar na cadeira de balanço e conversar. Fico aqui assim”, continua. 
Por ser de uma geração diferente da que o pai nasceu e cresceu, Gean viu o mundo se modernizar e se conectar, algo que ele tenta fazer o artesanato acompanhar também. A loja, por exemplo, ganhou uma filial no VG Shopping, em Várzea Grande. No entanto, ele sonha com feiras noturnas em parques da cidade, como Tia Nair. 
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“Os shoppings são os espaços do futuro, onde as pessoas estão concentradas, porque o artesanato tem que estar onde as pessoas estão concentradas. A minha luta é para ter feiras temporárias nos parques de Cuiabá, durante a noite, para deixar os artesanatos lá para os turistas conhecerem. Tenho essa visão de onde o artesanato pode entrar”. 
Gean explica que, por conta do contato direto que têm com turistas que visitam Cuiabá, ele notou que todos buscam por “mimos regionais” durante a passagem pela cidade. 
“Eles querem uma lembrança da cidade, não adianta oferecer outra coisa, eles querem algo da cidade. Temos convênios e parcerias com os guias, que trazem os turistas aqui, semana passada teve um ônibus do Pará que parou aqui com 50 pessoas. 
Outra onda de inovação que o artesão aproveitou para surfar foi a chegada dos aplicativos de entrega, como o IFood, onde ele cadastrou a loja de artesanato. “Às vezes, às 22h, alguém pede uma paçoca de pilão, Canjinjin ou doces e são pedidos que vão para áreas nobres de Cuiabá. É um diferencial”. 
Quando pensa no futuro, Gean se preocupa com a extinção dos artesãos como ele e o pai. “A nova geração está desmotivada, não têm mais artesãos, fico pensando que daqui uns 20 anos vai acabar o artesanato. Violas de cocho, por exemplo, são só as pessoas mais velhas que fazem”. Apesar do receio, o cuiabano ainda se vê trabalhando com as mãos quando vislumbra a si mesmo daqui alguns anos. 
“Por enquanto não penso em parar, acho que ainda dá para segurar mais uns 15 anos aqui”, diz sorrindo enquanto se balança na cadeira de palha. 

 

Fonte: Olhar Direto

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