O apartamento privado de Maria Antonieta, mulher do rei francês Luís XVI e decapitada durante a Revolução Francesa vai reabrir para o público nesta terça-feira, 26, depois de passar por uma grande reforma que durou cinco anos. O espaço, cujo acesso se dá por uma porta escondida dentro de um cômodo, é composto por diversos quartos, incluindo uma biblioteca e uma sala de bilhar, e é dividido em dois pisos, com vista para o pátio interior do castelo.
Alguns historiadores afirmam que o apartamento foi o lugar em que a rainha impopular se escondeu pela primeira vez durante a marcha do povo, em 1789. A reabertura do discreto e luxuoso espaço onde a austríaca costumava a brincar com seus filhos e receber amigos é a etapa final do projeto de reforma que comemora 400 anos de Versalhes.
Maria Antonieta tinha 14 anos quando chegou à França para se casar com seu futuro marido. Os quartos privados começaram a ser decorados e mobiliados por ela logo depois de se tornar rainha, em 1774. O projeto de decoração durou até 1788, um ano antes da Revolução Francesa. A austríaca era conhecida por ser extremamente exigente na restauração dos quartos e sua impaciência com a demora do trabalho teria provocado a ira do arquiteto-chefe do rei, Ange-Jaques Gabriel.
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Diversos historiadores e pesquisadores passaram cerca de uma década consultando registros e relatos da época para tentar descobrir como os quartos eram originalmente. O resultado de tanto estudo é um santuário interno repleto de ouro e sedas, um testemunho do gosto extravagante da rainha, onde ela costumava ficar com suas damas de companhia mais próximas e um seleto círculo de amigos.
“Foi necessária a perseverança dos curadores do Château de Versailles ao longo de muitos anos para restaurar esta imagem perfeita para nós e unir as ligações entre a vida pública e privada da rainha”, disse Catherine Pégard, presidente do complexo de Versalhes.
De acordo com Pégard, as salas em que apenas amigos próximos e sua comitiva podiam entrar eram tão pequenas que cabiam no máximo 10 pessoas. Ela afirmou que os curadores extremamente atentos aos mínimos detalhes, conseguiram dar sentido a estas salas.
“Eles oferecem aos visitantes uma nova visão da vida de Maria Antonieta, uma jornada que levanta mil questões sobre etiqueta e intimidade”, acrescentou.
A diretora do palácio, Laurent Salomé, comentou que a reconstrução foi complicada pela falta de registros históricos, mas disse que o apartamento privado da rainha era um “espaço fascinante para os interessados na última glória da monarquia”.
“Esse mundo de refinamento praticamente desapareceu e deixou poucos vestígios nos arquivos, o que complicou o trabalho”, disse.
Os curadores acreditam que dois dos quartos, sendo um deles o boudoir da rainha, foram decorados com revestimentos de parede toile de Jouy com estampas de abacaxis, uma fruta trazida para a Europa por Cristóvão Colombo em 1493, cuja sua raridade tornou a fruta em um símbolo de riqueza e poder. A curadora responsável pelos apartamentos de Maria Antonieta em Versalhes, Hèlène Delalex, afirmou que os quartos eram a “grande paixão” da rainha.
“Ela demonstrou um gosto extraordinário, confiança e audácia. Apenas alguns meses depois de sua chegada a Versalhes, sem sequer pedir ao rei, ela ordenou que Gabriel realizasse grandes obras, que ele recusou e reclamou ao soberano. O tom foi definido. Mas essa paixão continuou inabalável e só a Revolução foi capaz de acabar com ela”.
Na madrugada de 6 de outubro de 1789, depois que uma multidão furiosa invadiu Versalhes, Luís XVI e Maria Antonieta deixaram o palácio real com seus filhos para nunca mais voltar. Em 1791, o casal tentou fugir da França, porém ambos foram capturados, presos e acusados de conspirar com potências estrangeiras para atrapalhar a Revolução. Em 1793, o rei foi enviado para a guilhotina. Nove meses depois foi a vez de Maria Antonieta.
A reabertura das salas privadas é um destaque do programa dos 400 anos de Versalhes. Atualmente, o palácio atrai quase 7 milhões de visitantes por ano, foi construído em 1623 e ampliado por Luís XIV alguns anos depois.
Fonte: Veja