Quanto mais a estrela de Ron DeSantis sobe, mais calado ele fica.
E, se continuar como indicam pesquisas mais recentes, a tática correta de não falar nada antes da hora sobre ambições presidenciais vai acabar reduzindo-o ao silêncio total.
A última, do Wall Street Journal, confirmou uma tendência quase inacreditável. Entre eleitores que pretendem votar nas primárias do Partido Republicano, 52% escolhem DeSantis contra 38% favoráveis a Trump.
Entre esses eleitores, obviamente os mais comprometidos com os valores republicanos, 86% têm uma imagem favorável do governador da Flórida, reeleito em novembro com 19 pontos de vantagem, a melhor notícia que os conservadores tiveram nesse ciclo eleitoral.
Em compensação, a aprovação a Trump caiu de 85% para 74%, um fenômeno que parecia impossível para um homem que havia provocado níveis de entusiasmo sem precedentes desde Ronald Reagan (os saltos de popularidade dos Bush, pai e filho, foram passageiros, relacionados a acontecimentos externos).
A favorabilidade de DeSantis entre o conjunto do eleitorado cai para 43% (36% no caso de Trump). Mesmo assim, numa pesquisa do USA Today, ele venceria Joe Biden com 47% dos votos contra 43%.
São resultados nada menos do que espantosos – e, obviamente, como todas as pesquisas, devem ser vistos à luz dos acontecimentos do momento, com a inflação ainda alta, apesar de declinante e um presidente de 80 anos, o que não provoca muito entusiasmo nem em democratas arrebatados.
No caso de Trump, também pesa o desgaste natural, acelerado pela impressão de que ele perdeu a mão. Não tem mais o senso de timing que o levou à Casa Branca, contra todas as expectativas, e só fala do passado – a eleição presidencial que diz ter sido roubada. Eleitor gosta de ouvir sobre o futuro e o que será feito para melhorá-lo.
Atitudes que soavam como provocação ao establishment quando ele explodiu no cenário político agora parecem não apenas mal concebidas, como lamentavelmente erradas. Nenhuma delas foi mais prejudicial a ele mesmo do que convidar para um jantar Kanye West, em pleno surto antissemita, e o convidado não anunciado que o cantor levou junto, Nick Fuentes, que concentra tudo o que há de errado na extrema direita de pendor neonazista e é repudiado pelos reais conservadores.
Trump sabotou tanto a si mesmo que nem conseguiu se beneficiar das revelações sobre os bastidores do Twitter na decisão de bloquear todo o jornal New York Post por causa de uma reportagem mostrando como Hunter Biden usava o nome do pai, então vice-presidente, para fazer negócios.
A censura aconteceu semanas antes da eleição de 2020 e nunca saberemos se poderia ter influenciado na vitória de Joe Biden.
Assim que entrar na arena da política nacional, Ron DeSantis passará a ter um outro nível de avaliação, muito mais intenso. É possível que a decisão mais escrutinada seja a legislação que proíbe professores de discutir questões de identidade sexual com crianças até a terceira série.
A lei foi apelidada pelos adversários de “Don’t say gay”, um nome que pegou. É óbvio que democratas e a maioria esmagadora da mídia apresentaram DeSantis como um brucutu homofóbico, embora a lei soe razoável a 51% da opinião pública, com rejeição de 35%.
Assumir uma atitude beligerante na guerra cultural pode esquentar os ânimos do eleitorado republicano e esfriar o dos independentes. Os democratas mais convictos, claro, já não votariam nele de jeito nenhum.
Joe Biden já disse que vai anunciar depois das festas de fim de ano se pretende disputar a reeleição. Suspense zero. Claro que vai ser candidato.
DeSantis vai continuar de bico calado, no senso estrito. No senso amplo, lança uma biografia logo no começo do ano intitulada, nada modestamente, A Coragem de Ser Livre. E continua a levantar doações. Dos 200 milhões de dólares que sobraram de sua campanha a governador, sobraram 90.
Se ele anunciar que é candidato a presidente, tem que renunciar como governador. As primárias só começam em 2024 e ele sabe que se entrar no páreo, vai ter que aguentar os ataques não só dos democratas, mas principalmente de Donald Trump.
Por que não esperar enquanto o ex-presidente faz um trabalho tão bom em destruir a si mesmo?
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Fonte: Veja