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Ron DeSantis é o conservador que Trump encena ser – e isto atrai adeptos

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“Por uma série de razões, acho que está na hora de avançarmos para a nova geração”. Com essa frase, Ken Griffrin, dono de um banco de que virou uma das maiores fontes de dinheiro do Partido Republicano, sinalizou uma mudança importante.

Ter doadores graúdos – e Griffin colocou nada menos que 60 milhões de dólares em candidatos republicanos na eleição do último dia 8 – é uma das colunas de qualquer campanha de qualquer partido. Donald Trump tem passado a maior parte do tempo em seu palacete em Mar-a-Lago levantando dinheiro.

A outra coluna do conservadorismo são os evangélicos, que hesitaram em apoiar um candidato repleto de tantos pecados mundanos como Trump, mas depois embarcaram com entusiasmo no barco que prometia tanto.

Nesse espaço, também estão aparecendo rachaduras. Um dos exemplos foi o artigo que Mike Evans, integrante do conselho de evangélicos que davam aconselhamento espiritual na Casa Branca no governo Trump, escreveu para o Washington Post. Disse ele:

“Donald Trump não pode salvar a América. Não pode nem salvar a si mesmo. Ele nos usou para chegar à Casa Branca. Tivemos que fechar a boca e os olhos quando ele dizia coisas que nos horrorizavam. Não posso mais fazer isso.”

O próprio Evans, que é da corrente cristã sionista, reconhece que Trump foi até além das promessas em relação a Israel. Também nomeou três juízes conservadores para a Suprema Corte que derrubaram, em nível federal, a decisão sobre o aborto. Mas nem isso o faz continuar no barco.

A terceira coluna é a Fox News, o canal a cabo que se transformou inteligentemente na única alternativa da televisão para eleitores de direita. Os dois jornais principais do império de Rupert Murdoch já romperam com Trump e críticas até recentemente impensáveis começam a aparecer na Fox.

Todos esses fatores apontam, obviamente, para Ron DeSantis, o governador da Flórida que foi a única fonte de alegria sem limites para os republicanos, sem a angústia de resultados apertados e até da perda de disputas que pareciam garantidas.

DeSantis atende a todos os requisitos dos três sustentáculos mencionados. Faz um governo competente, dedicado a atrair empresas e profissionais de outras partes dos Estados Unidos – num estado que já tem o atrativo da inexistência de imposto de renda, uma das razões que torna a Flórida a versão mais próxima do paraíso na terra, excetuando-se os furacões.

“Ele tem um histórico de conquistas inacreditáveis”, elogiou Griffin, que deu cinco milhões de dólares para a campanha de reeleição de DeSantis – um dinheiro que nem era necessário, dando do favoritismo do governador, embora seja sempre bom fazer amigos. No total, DeSantis levantou 201 milhões de dólares, uma quantia impressionante até pelos padrões americanos de campanhas megamilionárias.

DeSantis, que é católico como os antepassados italianos, também seduziu o eleitorado evangélico com a lei que proibiu tratar de questões de gênero do maternal à terceira série. Não é preciso ser conservador para simpatizar com a ideia de que soa a doutrinação falar de transexualidade para crianças de cinco anos de idade – ficando os pais, obviamente, com a opção de conversar com os filhos sobre o que quiserem e da maneira que quiserem.

Quando a Disney, a maior empregadora do estado, se colocou contra a lei, DeSantis aprovou a revogação de privilégios fiscais e administrativos da gigante do entretenimento infantil.

Retaliar empresas não se encaixa bem no modelo de um governo que venera a livre iniciativa. Mas DeSantis mostrou que está disposto a ir bem longe na guerra cultural.

Ele certamente exagera a mão e até vai a lugares onde nem Trump se sentiria à vontade. Não deixou a imagem de estadista magnânimo, bem ao contrário, quando fretou dois aviões para levar imigrantes irregulares da Venezuela para Martha’s Vineyard, um dos balneários mais chiques dos Estados Unidos, onde o casal Obama tem uma casa de 11 milhões de dólares.

É claro que os venezuelanos não ficaram mais do que algumas horas no território dos milionários democratas, demonstrando o argumento de DeSantis queria provar sobre a hipocrisia dos liberais, mas ele também passou por manipulador da miséria alheia.

Outra bola fora: um projeto de lei proibindo o ensino, em escolas e lugares de trabalho, de Teoria Crítica Racial e outras modalidades de pensamento que façam “uma raça se sentir culpada”. É claro que o projeto foi derrubado na justiça, com base, para começar, no primeiro artigo da Constituição americana. O juiz Mark Walker ainda citou, literalmente, um trecho de 1984 e chamou a bobagem toda de “definitivamente distópica”.

Uma parte do destaque dado a DeSantis na imprensa americana é motivada pelo antitrumpismo extremado ou pelo simples desejo de renovação, de falar de algum assunto – nem que seja para falar mal, considerando-se que a mídia é esmagadoramente anticonservadora.

Uma pesquisa do YouGov feita logo depois da eleição do dia 8 mostrou uma virada que outros levantamentos não confirmam: 46% dos republicanos preferem Ron DeSantis; 39% favorecem Trump. É preciso ter mais pesquisas para comparar.

O lançamento prematuro da campanha de Trump pela candidatura presidencial pode ser atribuído, em parte, a uma briga pelo espaço que DeSantis vem ganhando.

Trump também vem tentando a tática de colar um apelido negativo no potencial adversário, chamando de DeSantimônio. Além de dizer que sabe coisas sobre o governador que talvez nem a mulher dele saiba, que ele o procurou desesperado na primeira campanha eleitoral, que imolou ajuda etc etc etc. Corre o risco de soar como um idoso implicante que vive repetindo as mesmas rabugices.

DeSantis segue a única tática possível: bico calado. Ele é disciplinado e o discurso populista oculta uma formação intelectual sólida – história em Yale, direito em Harvard, carreira no ramo jurídico da Marinha e até um posto de assessoramento legal dos legendários SEALS no Iraque.

E tem a mesma idade do filho mais velho de Trump, Donald Jr, 44 anos.

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