Em junho de 1971, o jornal The New York Times deu início a uma série de reportagens que revelou dados de um relatório secreto do governo americano, mais tarde conhecido como Pentagon Papers (Papéis do Pentágono). A análise feita durante a Guerra do Vietnã, encomendada em 1967 pelo então secretário de Defesa Robert McNamara, apresentava evidências do envolvimento dos Estados Unidos com eleições fraudadas, assassinatos, além do conhecimento de que eram poucas as chances de vencerem o conflito — e, mesmo assim, o país continuou a enviar soldados americanos a campo. O vazamento das 7 000 páginas a que o jornal teve acesso — alvo de uma medida judicial do governo, driblada com a publicação paralela no concorrente The Washington Post — foi obra do analista militar Daniel Ellsberg. Alcunhado de “o homem mais perigoso dos Estados Unidos”, ele trabalhava para a RAND Corporation, instituição que desenvolve pesquisas para o Departamento de Defesa americano. Ele passou oito meses, em 1969, copiando a papelada. Condenado a 115 anos de prisão, teve a pena anulada, depois da revelação de que o FBI o espionava sem autorização judicial. A coragem de Ellsberg virou filme, The Post, dirigido por Steven Spielberg. Ele morreu em 16 de junho, aos 92 anos, de câncer no pâncreas.
O “caso número 1” de autismo
“Ele nunca demonstra alegria quando vê o pai ou a mãe. Parece fechado em sua concha e vive dentro de si.” Foi dessa forma que, em 1938, Beamon Triplett, advogado na pequena cidade de Forest, no Mississippi, descreveu seu filho, Donald, então com 5 anos, a um dos psiquiatras infantis mais respeitados nos Estados Unidos daquele período, o austríaco Leo Kanner (1894-1981), do Hospital Johns Hopkins. Em uma longa carta datilografada — eram 22 páginas —, Triplett relatava seu drama e o de sua mulher, Mary, com o garotinho, que nunca havia correspondido a um sorriso do casal que o tinha colocado no mundo — como se ele não pertencesse ao mesmo mundo dos pais. “Donald raramente vem quando o chamam, tem de ser pego e carregado ou levado aonde deve ir (…) parece estar sempre pensando, pensando e pensando”… dizia Triplett. Os pais do menino buscavam de Kanner uma resposta para o comportamento do filho. Pensaram em esquizofrenia. Não era. Timidez exagerada. Também não era. Cinco anos depois da conversa inicial com os Triplett, e de acompanhar outras dez crianças com comportamento semelhante, o médico austríaco deu um salto histórico ao denominar o que o garotinho Donald tinha de “distúrbio autista de contato afetivo”. Donald Triplett virou, assim, o “caso número 1” do transtorno autista. Ele morreu em 15 de junho, aos 89 anos, de câncer.
Publicado em VEJA de 28 de Junho de 2023, edição nº 2847
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Fonte: Veja