A Síria pode levar até quatro anos para realizar novas eleições, afirmou o novo líder do país, Ahmed al-Sharaa, nome original de Abu Mohammed al-Jolani, relata a Reuters. Em entrevista à Al-Arabiya, Sharaa disse ainda que a elaboração de uma nova Constituição pode demorar até três anos, e mudanças drásticas só devem ocorrer em um ano.
É a primeira vez que Jolani menciona um calendário eleitoral desde que assumiu o comando da Síria, depois da queda do regime de Bashar al-Assad, em 8 de dezembro. Ele lidera a Organização para a Libertação do Levante (HTS) e busca passar a imagem de um governo moderado para a comunidade internacional.
Analistas, porém, alertam para seu histórico extremista, que remonta a 2016, ressalta a agência. Jolani ganhou notoriedade por seu papel no conflito sírio, inicialmente como líder da Frente al-Nusra, que era afiliada à terrorista Al-Qaeda. Posteriormente, ele se distanciou da Al-Qaeda e formou o HTS, para consolidar seu poder na região.
Um temor crescente é que, como no Afeganistão, o líder sunita imponha a lei islâmica, a sharia, no país. Essa legislação exige que os homens se cubram da barriga até os joelhos e que as mulheres se cubram completamente, deixando apenas o rosto, mãos e pés à mostra.
Preocupação com confrontos na Síria
No momento, a preocupação de Jolani é evitar confrontos entre os diversos grupos rebeldes e as minorias da. Quando tomou o poder, a HTS encerrou 24 anos de regime de Assad, mas deixou questões sobre o futuro da nação e suas relações com a Turquia e a Rússia.
O sul da Síria tem a presença da SOR, coalizão composta por várias organizações da região. Os principais grupos envolvidos incluem drusos da província de Suwayda e facções sunitas da região de Daraa. Há também diversos grupos locais na área de Quneitra, mas as informações sobre suas operações são limitadas.
Várias áreas estratégicas no sul da Síria estão agora sob controle da SOR, incluindo a zona fronteiriça com Israel nas Colinas de Golã, conforme relatado pela Alma Research, entidade especializada em estratégia militar israelense.
Durante a guerra civil, iniciada em 2011, essas organizações combateram o regime de Assad, o ISIS, o Hezbollah e as milícias iranianas, além de se enfrentarem com facções que hoje estão aliadas ao HTS. Alguns desses grupos operaram de forma independente, enquanto outros faziam parte do Exército Livre da Síria (ELS).
Depois que as forças do regime de Assad retomaram o sul em 2018, muitos rebeldes se transferiram para Idlib como parte dos “acordos de reconciliação”, enquanto outros preferiram permanecer no sul, sob supervisão russa e do regime. A ofensiva rebelde de dezembro de 2024 uniu diversas dessas facções na luta contra o regime sírio.
Na entrevista, Jolani também mencionou que a HTS será dissolvida durante um futuro diálogo nacional. Ele diz não se opor ao apoio da Rússia ao ressaltar que a Síria tem interesses estratégicos em comum com o país e que as relações com Moscou devem ser alinhadas para atender a esses interesses.
O , Serguei Lavrov, destacou que o status das bases militares russas na Síria será discutido com a nova liderança.
Esta aparente disposição para o diálogo vale até mesmo para o governo de Donald Trump, cujo discurso é implacável contra grupos radicais islâmicos. Ele espera que o próximo presidente norte-americano suspenda as sanções contra a Síria.
Fonte: revistaoeste