Foram dois massacres em apenas três dias. Em 21 de janeiro, um homem de 72 anos de origem asiática matou onze pessoas e deixou outras nove feridas em um estúdio de dança de salão em Monterey Park, na Califórnia, onde a comunidade local celebrava o Ano-Novo lunar do Oriente. O criminoso foi depois encontrado morto dentro de uma van. A vigília à luz de velas em homenagem aos corpos caídos, no dia 24, coincidiu com uma outra barbaridade na véspera — o assassinato de sete ex-colegas de trabalho de um senhor de 67 anos, na cidade costeira de Half Moon Bay, todos sino-americanos. O acusado foi preso. As investigações avançam rapidamente. Os inaceitáveis episódios iluminam um drama: apenas em 2023, em todos os Estados Unidos, houve 37 ataques a bala. “É tragédia após tragédia”, resumiu o governador da Califórnia, Gavin Newsom. Mas a melhor definição — que chama a atenção para uma catástrofe global, e não apenas americana — está nas palavras de um cartaz da noite de luto: “O problema são as armas”. Nos Estados Unidos, desde a extinção da lei que proíbe fuzis de assalto em 2004, que não foi renovada por falta de um acordo entre os partidos Republicano e Democrata, o que se instalou foi uma guerra. Nesse período, a indústria armamentista faturou mais de 1 bilhão de dólares. O espanto é uma boa lição para o Brasil. É excelente, para dizer o mínimo, que o país comece a recuar nesse campo, depois da liberalidade dos últimos quatro anos.
Publicado em VEJA de 1º de fevereiro de 2023,
Fonte: Veja