Semanas depois de passar por uma cirurgia, a ativista iraniana Narges Mohammadi, ganhadora do Nobel da Paz em 2023, conseguiu liberdade provisória e sairá da cadeia por determinação do governo do Irã. A informação foi divulgada pela Fundação Narges Mohammadi pelos Direitos Humanos e por seu advogado nesta quarta-feira, 4.
Diferentemente de uma licença médica, que permitiria que o período de recuperação fosse contado como parte de sua pena, essa suspensão significa que, ao retornar, a ativista será obrigada a cumprir mais 21 dias na prisão.
A saúde de Mohammadi se deteriorou durante seus quase dez anos confinada. Em 2022, ela sofreu múltiplos ataques cardíacos antes de ser transferida para um hospital. Em novembro deste ano, médicos descobriram uma lesão óssea na perna direita, suspeita de ser cancerígena, o que justificou sua soltura temporária.
“Narges nunca deveria ter sido presa em primeiro lugar por sua defesa pacífica dos direitos humanos e das mulheres — o trabalho que lhe rendeu o Prêmio Nobel da Paz”
Para a fundação, as condições insalubres da prisão, a frequência inadequada de trocas de curativos, a superlotação na ala feminina, seu sistema imunológico comprometido e o estresse da cirurgia recente foram os fatores que prejudicaram a saúde de Narges.
A ainda considera que a suspensão de pena por 21 dias é insuficiente, pois ela depende de “cuidados médicos especializados em um ambiente seguro e sanitário, um direito humano básico”. A entidade ainda declara que, segundo a equipe médica que atendeu a ativista, são necessários pelo menos três meses de recuperação.
Quem é Narges Mohammadi, ganhadora do Nobel da Paz de 2023
Narges Mohammadi nasceu em 1972 e formou-se em física aplicada pela Universidade Internacional de Qazvin, no Irã. Quando era estudante, ela e outros cinco alunos fundaram uma organização estudantil independente, que enfrentou oposição e ameaças da universidade e da organização estudantil governamental, o que causou suas duas primeiras prisões.
Narges começou sua carreira jornalística em 1996, quando escrevia artigos sobre os movimentos estudantil e feminino. A publicação de seus artigos em outros jornais levou à sua inclusão no sindicato dos jornalistas iranianos e sua contratação em uma popular revista do país.
Em 1999, ela perdeu o emprego numa época em que houve diversos fechamentos de jornais, mas sua formação em física lhe garantiu um trabalho estável. Apesar da carreira, Narges foi demitida por ordem direta do Ministério da Informação por causa de suas atividades em organizações em prol dos direitos humanos.
Sua luta pelos prisioneiros políticos e contra o confinamento solitário resultou em sua prisão em 2001, quando enfrentou a primeira experiência de isolamento na cadeia. Foi sentenciada a um ano de prisão. Já liberta, seu trabalho mais relevante foi a fundação do Conselho Nacional de Paz, grupo que reunia 82 líderes políticos, sociais, culturais e sindicais do .
Narges foi novamente presa em 2010, quando foi sentenciada a 11 anos de prisão, mas foi libertada sob fiança. Com o aumento de penas de morte no período, passou a lutar pela abolição das execuções no país, o que a levou de volta à prisão, em 2014.
Dois anos depois, foi julgada e condenada a 16 anos de prisão. Depois de ser libertada sob fiança, começou uma campanha contra o confinamento solitário e publicou dois livros e um documentário. Foi presa novamente em 2021 e permanece detida.
No total, Narges foi presa 13 vezes, julgada cinco vezes e condenada a mais de 32 anos de prisão e 154 chibatadas. Em 2023, Narges recebeu o Prêmio Nobel da Paz por sua luta pelos direitos das mulheres, pelos direitos humanos e pela liberdade. Seus gêmeos, Ali e Kiana, receberam o prêmio em nome dela.
Fonte: revistaoeste