Um ministro-chave do governo da Finlândia foi forçado a renunciar ao cargo nesta sexta-feira, 30, dez dias depois de ter feito comentários com apologia ao nazismo. Vilhelm Junnila deixou o governo e pediu desculpas pela escolha de palavras, admitindo que fez uma “piada de mau gosto”.
“Pela continuação do governo e da reputação da Finlândia, vejo que é impossível para mim continuar como ministro de maneira satisfatória”, afirmou no discurso de renúncia ao ministério da Economia.
Junnila, que é membro da legenda de extrema direita Partido dos Finlandeses, fez piadas com a saudação do Terceiro Reich, “Heil Hitler”, e também deu uma palestra em um evento com a presença de neonazistas. Além disso, vieram à tona comentários do parlamentar pedindo que a Finlândia apoie o uso do aborto na África como ferramenta para combater a crise climática.
O ex-ministro da Economia escreveu em 2019 que “seria justificado que a Finlândia promova o aborto climático”, que ele afirmou ser “um grande salto para a humanidade”.
+ Suécia aprova protesto com queima de Alcorão na frente de mesquita
“Nas sociedades subdesenvolvidas da África, o número de crianças pode ser enorme, e o problema se agrava ainda mais à medida que as mudanças climáticas as levam, devido à fome, doenças e condições climáticas extremas, a buscar uma vida melhor em áreas com uma pegada de carbono ainda maior”, afirmou Junnila, segundo os registros oficial do Parlamento.
O ex-ministro passou a ser visto com desconfiança após viralizarem imagens dele discursando em um evento de 2019 da Coalizão de Nacionalistas, um grupo guarda-chuva de extrema direita.
No mesmo ano, Junnila brincou sobre o número 88 em um evento de campanha do Partido dos Finlandeses, usado pela extrema direita como um código para a saudação nazista “Heil Hitler” (“H” é a oitava do alfabeto).
Na ocasião, ele parabenizar um colega de legenda por seu número de candidato, 88.
“Antes de mais, parabéns pelo excelente número eleitoral. Eu sei que é uma carta vencedora. Este 88 refere-se, é claro, aos dois ‘H’s, mas não vamos nos alongar sobre isso”, afirmou Junnila.
Mais tarde, nas redes sociais, ele se desculpou pelos “erros”. “Espero que esteja claro para todos que condeno forte e absolutamente o Holocausto, o antissemitismo e todos os atos antissemitas”, escreveu o ex-ministro no Twitter.
Haluan täydentää aikaisempia lausuntojani: toivottavasti kaikille on selvää, että tuomitsen holokaustin, antisemitismin ja kaikki antisemitistiset teot jyrkästi ja ehdottomasti.I condemn holocaust, antisemitism and all antisemitic acts completely.
— Vilhelm Junnila (@vilhelmjunnila) June 22, 2023
+ Finlândia entra formalmente na Otan, que dobra fronteira com a Rússia
O caso desestabilizou o frágil governo de coalizão, formado após 11 semanas de negociações. O primeiro-ministro, Petteri Orpo, formou uma aliança de quatro partidos que incluía a legenda de extrema direita, que controla sete dos 19 ministérios.
O novo governo é considerado o mais direitista da história da Finlândia por causa de seu programa de austeridade e redução da imigração.
Para os políticos de esquerda do país, Junnila não teve outra opção além de renunciar.
“Isso já causou uma grande quantidade de danos à Finlândia”, disse Li Andersson, líder do partido de oposição Aliança de Esquerda. “Este também foi o primeiro teste da liderança do primeiro-ministro Petteri Orpos, e ele falhou. É muito embaraçoso que eles tenham votado a favor da confiança de Junnila apenas dois dias atrás.”
+ Ponte desaba e fere crianças que voltavam de viagem escolar na Finlândia
Na quarta-feira 28, os parlamentares governistas votaram pela permanência de Junnila no cargo. Na ocasião, mais de mil manifestantes se reuniram do lado de fora do parlamento para criticar o governo.
Anna Moring, secretária do Partido Verde, disse que as opiniões do ex-ministro estão refletidas no programa do governo, que planeja endurecer as regras de cidadania e o acesso dos imigrantes a programas de benefícios do Estado.
“Essas atitudes racistas são visíveis em todo o governo”, acusou Moring. “O mundo teve uma imagem positiva da Finlândia sob o governo anterior, como um país acolhedor com um histórico positivo em direitos humanos, mas este governo agora está cortando as asas dessa imagem.”
Fonte: Veja