Sophia @princesinhamt
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Maioria dos britânicos não quer Camilla como rainha, mas sucessão ao trono deve mantê-la como tal

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Ser coroada rainha aos 75 anos é um fato sem precedentes que Camilla está enfrentando ao seu jeito: a aparência mais “normal” possível, se a palavra pode ser empregada para as joias estonteantes e o incomparável ritual do qual fará parte no próximo sábado. Por trás do show de bom senso, uma enorme máquina de propaganda para torná-la palatável ao público, um projeto ao qual o marido que ela roubou de Diana se dedica continuamente.

A aura de ladra de maridos, uma característica que em geral as mulheres detestam, está se esvaindo com a passagem do tempo e todo o establishment britânico a trata como rainha — e só, a palavra consorte já está oficialmente cortada dos convites, de toda a comunicação oficial e da mídia.

Mas a imagem de Camilla, apesar de todos os esforços, ainda sente os efeitos dos que não esquecem como Diana foi traída, repudiada e isolada numa posição insuportável até sua morte precoce, em 1997.

Segundo uma pesquisa da YouGov, 39% dos britânicos acham que ela deveria ser tratada como princesa consorte — o título que Charles garantiu que ela usaria , no futuro, quando se casaram, em 2005, oficializando um relacionamento que,  com alguns tropeços, como os respectivos casamentos com outras pessoas, remonta a 1975, num jogo de polo ao fim do qual ela famosamente disse: “Minha bisavó foi amante do seu tataravô. Que tal?”.

Outros 23% acham que ela não deveria ter título nenhum. Ou seja, um respeitável total de 62% não quer que Camilla seja tratada como rainha. 

Uma pesquisa do Mirror mostra um resultado pior ainda: 35% acham que ela devia receber o tratamento de rainha consorte, 21% prefeririam que não tivesse título nenhum e só 2% são a favor de que seja rainha, pura e simples, como todas as esposas de monarcas.

Mas é exatamente assim que Camilla atingirá o ápice, às 11 horas do próximo sábado, quando entrar na abadia de Westminster usando um vestido branco de Bruce Oldfield, um de seus estilistas preferidos, e receber a coroa feita originalmente em 1911 para a bisavó de Charles, Mary, a princesa alemã por parte de pai que se tornaria rainha e imperatriz britânica. 

Muitos provavelmente esquecerão os ressentimentos?

A mágica da monarquia é tornar palatáveis e até admiráveis figuras que, se vivessem num espaço comum da política, seriam execradas. O comportamento impecável da rainha Elizabeth II e de seu pai, George VI, abriu intervalos  de exceção numa linhagem familiar cheia de pecados. George VI só se tornou rei porque o irmão mais velho abdicou para poder se casar com a americana divorciada Wallis Simpson, um escândalo que repercute até hoje — nem Elizabeth nem o filho Charles ascenderiam ao trono se isso não tivesse acontecido.

Não deixa de ser uma ironia que, agora, a primeira mulher divorciada se torne rainha, um desfecho improvável para a jovem de classe alta Camilla Rosemary Shand, nascida numa família bem de vida, frequentadora de altos círculos, com estudos na Suíça e na França, mas nada próxima da exclusividade da realeza.

Não foi só Charles que, no cruel mercado das aparências, trocou uma mulher mais jovem e mais bonita por outra mais velha. Andrew Parker Bowles, o marido por quem Camilla largou o príncipe, também era muito mais interessante, embora sexualmente compulsivo. A infidelidade serial, desde a época de namoro, criou uma situação verdadeira retratada na série The Crown: Parker Bowles namorou a princesa Anne, irmã de Charles, enquanto Camilla, por vingança, se envolvia com o príncipe.

Quando Charles e Camilla reataram a relação interrompida pelo casamento dela, Parker Bowles foi um marido compreensivo de uma maneira que só pode ser decifrada por quem conhece o estilo de vida das classe dominantes da Inglaterra, sempre envolvidas com cavalos, cachorros e casos extraconjugais devidamente administrados para não redundar em divórcio ou qualquer outra coisa imatura que prejudique o patrimônio familiar.

A exceção nesses arranjos foi Diana. Mesmo com criação aristocrática, como neta de conde e de barão por parte de pai e de mãe, a princesa rebelde imaginou, sem bases na realidade, um casamento por amor, alimentado por sua insegurança emocional e a instabilidade familiar que enfrentou quando .

Exatamente o oposto da sólida, segura e, reconheçamos, esperta Camilla, que cobria o amante de elogios enquanto o futuro rei se mordia de raiva ao ver a mulher oficial roubando todas as atenções, com sua hipnotizante beleza e uma qualidade inimitável, a empatia com o povão.

Num conto de fadas ao contrário, quem ficou com o príncipe foi a mulher sem charme, embora o infame telefonema gravado no passado onde ele diz que gostaria de reencarnar como seu tampão menstrual indique um relacionamento apimentado. Os dois evidentemente se amam, se respeitam e se dão bem. Charles ficou abalado quando o caçula Harry passou a chamar Camilla de vilã, madrasta má e manipuladora pérfida que vazava informações sobre o príncipe e Meghan em troca de uma cobertura favorável na imprensa.

Sobreviver ao repúdio da opinião pública, que a rejeitava como megera, e ao carma ruim que se espalhou depois da morte trágica de Diana, mostrou que Camilla tem estrutura, disciplina e força emocional. Mesmo que, durante muitos anos, preferisse subir num cavalo e desaparecer dos olhos do público. Aos poucos, foi se envolvendo, como é obrigatório para membros da realeza, com o patrocínio de boas causas. Entre as que ela gosta, estão entidades de proteção aos animais e de prevenção da osteoporose, doença que levou sua mãe, Rosalind, a uma morte dolorosa. O do livro, um de seus projetos favoritos, a coloca em contato com autores que admira e que retribuem: consideram-na uma mulher lida e interessada em assuntos múltiplos.

“Todo mundo no país tem uma opinião sobre ela, mas todos que a conhecem têm a mesma opinião, e é realmente positiva”, disse ao Telegraph uma fonte do entorno de Camilla no palácio — ou palácios, são vários.

Por causa da idade, ela desistiu recentemente de montar. A coroação vai trazer para o primeiro plano os dois filhos e cinco netos que sempre manteve mais afastados das atenções. As crianças levarão algumas das insígnias que ela usará ou tocará, incluindo um bastão de marfim encimado por uma pomba e um cetro com a cruz, objetos feitos para a coroação e sagração, em 1685, de Maria de Modena, a princesa italiana que se casou com James II.

Camilla entrará na igreja com um manto de veludo vermelho, orlado de pele de arminho canadense, feito para a rainha Elizabeth em 1953, e sairá com um manto roxo bordado em fios dourados com flores e insetos que está sendo terminado agora por mulheres da Escola Real de Bordado, um dos tesouros do artesanato britânico. Os mantos replicam os do marido.

Numa decisão política bem pensada, foi tirado o diamante mais famoso do mundo, o Koh-i-noor, da coroa que Camilla usará. A “montanha de luz”, com 105 quilates, é reivindicada pela Índia, mais para fazer encenação populista, e também pelos herdeiros hoje destronados do jovem rei sikh que foi coagido a cedê-la para o império britânico. Até o Talibã quis tirar uma casquinha, evocando a época em que o Afeganistão fazia parte de um dos impérios que se sucederam na região.

No lugar do Koh-i-noor, entrarão na coroa nada menos que três enormes gemas tiradas do fracionamento do Cullinan, o maior diamante do mundo — obviamente, reclamado pela África do Sul, onde foi encontrado em 1905. Elizabeth II usava-as montadas em broches fabulosos. A pedra principal, o Cullinan I, de 530 quilates, fica no cetro que será usado por Charles.

Camilla tem suas próprias joias, além das presenteadas pelo marido, como um colar de diamantes da Bulgari em formato de serpente articulada, coisa de 140 mil dólares — um objeto de desejo de ricas de várias latitudes. Ela manteve também sua própria casa de campo, comprada com dinheiro do divórcio de Andrew Parker Bowles. 

Depois da pandemia, apareceu mais magra, provavelmente sob influência do marido, que pula o almoço e faz constantes caminhadas. Deu uma renovada no cabelo, eternamente penteado com as pontas viradas para fora, e está usando roupas um pouco mais ajustadas ao corpo, até de cores vibrantes como vermelho, uma novidade num figurino todo pastel ou marinho, composto por peças que, se usadas por qualquer outra mulher fora da família real, ficariam ridículas. Os chapéus continuam criativos e espetaculares, assinados por Philip Treacy.

Uma vida inteira de sol e cigarro aparece nas linhas marcadas do rosto. Mas está, muito evidentemente, bem segura no papel que os membros da realeza desempenham, um teatro público em que conversam com convidados como se já fossem velhos conhecidos e são fotografados ao nível celular. 

A bisavó que Camilla mencionou, no primeiro encontro com Charles, foi a glamorosa Alice Keppel, amante principal de Edward VII, que ficou à cabeceira dele durante a doença que causou sua morte, em 1910, como uma presença apenas tolerada.

Camilla há muito passou dessa fase. Entra e sai pela porta da frente de palácios e igrejas, tratada com todas as deferências, ao contrário da época dos voos furtivos de jatinho que usava para se encontrar com Charles em viagens oficiais do príncipe, quando ele ainda estava casado com Diana.

E quem usará a coroa agora é ela.

Fonte: Veja

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