O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se prepara para anunciar, nesta quinta-feira, 20, que aumentará para 500 milhões de dólares o repasse do país ao Fundo Amazônia durante os próximos cinco anos, segundo a Casa Branca. A solicitação, que quintuplica o valor estipulado originalmente, precisa da aprovação do Congresso americano.
O anúncio deve ocorrer no Fórum das Grandes Economias sobre Energia e Clima, uma cúpula online. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participará da reunião, que ocorre às 9h30. O fórum é composto pelas 26 maiores economias do mundo, inclusive China e Rússia.
De acordo com o comunicado da Casa Branca, Biden também pretende convocar outras lideranças a apoiar o Fundo Amazônia, programa que busca doações para prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento, assim como conservação e uso sustentável da Amazônia Legal.
O aceno de Biden ao governo brasileiro ocorre em meio a tensões diplomáticas. O mal-estar começou durante a viagem de Lula à China e aos Emirados Árabes Unidos, em que o petista fez declarações críticas à dependência do dólar nas transações comerciais e ainda acusou os Estados Unidos e a União Europeia de prolongarem a guerra na Ucrânia.
A vinda ao Brasil do chanceler russo Sergei Lavrov agravou o cenário. Ao lado de autoridades brasileiras, o representante de Vladimir Putin afirmou que Brasil e Rússia têm posições “similares” sobre o conflito. Em resposta, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, afirmou publicamente que o Brasil “papagueia a propaganda” de Moscou.
Embora o fórum climático já estivesse programado, está estrategicamente posicionado para baixar a fervura. Num assunto em que há total convergência com Washington, o Brasil pode virar a página da crise diplomática e reafirmar a equidistância nas disputas entre Ocidente e Oriente.
O aumento do repasse ao Fundo Amazônia parece sinalizar que a Casa Branca está trocando de marcha nas estratégias de relações exteriores. Ao invés de punir o Brasil pelos acenos à China e Rússia, o recurso age como incentivo para ampliar o interesse do governo Lula em uma parceria com os Estados Unidos.
A visita de Lavrov, afinal, pode ter algum saldo diplomático positivo. Em uma estratégia à la Getúlio Vargas, que flertou com a Alemanha e a Itália fascistas nos anos 1930 para pressionar os Estados Unidos a abrir os cofres para o Brasil em troca de lutar pelos aliados na II Guerra, Lula parece ter obtido uma espécie de concessão de Washington para evitar um alinhamento brasileiro com a Rússia.
Resta ver se vai durar. Os americanos e os europeus dispõem de instrumentos geopolítico-econômicos, como travar amplos acordos comerciais, para punir o governo petista.
Fonte: Veja