A canção é uma das mais conhecidas de Bob Dylan, obra-prima de oito minutos e trinta segundos e 22 estrofes, do álbum Desire — o rock Hurricane, de 1976, em parceria com o compositor Jacques Levy, descreve a trajetória inglória do lutador de boxe Rubin Carter, injustamente acusado de assassinato em 1966. Diz a letra, em tradução de Caetano W. Galindo: “Agora os criminosos todos com seus paletós e gravatas / estão livres para beber martínis e ver o sol nascer / Enquanto Rubin fica sentado como Buda numa cela de três metros / Um inocente num inferno em vida / Essa é a história do Furacão / Mas não vai acabar enquanto não limparem o seu nome / E devolverem o tempo que pagou / Posto numa cela, mas um dia ele podia ter sido / O campeão do mundo”. A música, o relato de Dylan e a realidade inspirariam também um filme de 1999 estrelado por Denzel Washington, Hurricane — O Furacão.
Carter e um amigo, ambos negros, foram condenados pelo assassinato de três brancos em um bar de Nova Jersey, apesar das evidências, relatadas por testemunhas, de estarem em outro lugar no momento do crime. Não adiantou. Carter foi levado a cumprir pena de trinta anos em regime fechado e seu parceiro, quinze. Em 1976, a Suprema Corte dos Estados Unidos chegou a anular as decisões, mas uma reviravolta legal os pôs de novo atrás das grades. Em 1985, porém, o juiz federal Haddon Lee Sarokin, acionado por advogados, anulou a segunda condenação. Sarokin considerou o veredicto como um “apelo do racismo, e não da razão”. Libertado, Carter morreu em 2014, aos 76 anos, de um câncer na próstata. Sarokin morreu em 20 de junho, aos 94 anos.
O pai das baterias
O mundo seria outro — pior, certamente — sem as baterias de íons de lítio, mecanismo pelo qual os aparelhos eletrônicos podem ser recarregados. Como a maioria dos avanços tecnológicos do século XX, elas são resultado da combinação de ciência com interesses comerciais — mas nada andaria, contudo, sem o brilhantismo do americano John Goodenough, capaz de unir as pontas da química, da física e da engenharia como poucos. Em 2019, já com 97 anos, ele dividiu o Nobel de Química com o conterrâneo Stanley Whittingham e o japonês Akira Yoshino. Goodenough foi o mais velho premiado com o Nobel. Morreu em 25 de junho, aos 100 anos.
Publicado em VEJA de 5 de Julho de 2023, edição nº 2848
Fonte: Veja