Neste domingo, 28, um grupo de venezuelanos que reside na região metropolitana de Vitória, no Espírito Santo, se reuniu em frente à Assembleia Legislativa do Estado para demonstrar apoio a María Corina Machado e Edmundo González, líderes da oposição ao ditador Nicolás Maduro na Venezuela.
Ao longo do dia, venezuelanos se reuniram em mais de 30 cidades ao redor do mundo para protestar contra a ditadura chavista. Além de Vitória, houve encontros em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.
A equipe de reportagem de passou a tarde no pátio da assembleia e conversou com alguns dos presentes. Muitos estavam com suas famílias, enquanto outros que vieram sozinhos aproveitaram para fortalecer os laços com os compatriotas. O sentimento de esperança e a expectativa de reconstrução estavam presentes em todos eles.
Hoje, passei a tarde com um grupo de venezuelanos que se reuniu em frente à Assembleia Legislativa do Espírito Santo.
Conheci um povo alegre, corajoso e totalmente apaixonado pelo seu país. Todos têm a esperança de ver uma Venezuela livre da ditadura chavista. pic.twitter.com/GuugQV4yGy
— Rachel Díaz (@racheldiaz_) July 29, 2024
O cidadão mais velho do local era Carlos, de 85 anos. Em entrevista, ele contou que foi funcionário da indústria petrolífera da Venezuela até a eleição de Hugo Chavez. Ele e mais 18 mil colegas foram demitidos no início do regime e impedidos de trabalhar em empresas estatais por “traição da pátria”.
Depois do episódio, ele começou a dar aulas de espanhol para executivos, onde também conheceu sua mulher. O casal passou os primeiros anos do casamento na Venezuela, mas se mudou para o Brasil em 2007 por causa dos problemas econômicos no país.
“Por muito tempo, a Venezuela foi conhecida como ‘Venezuela Saudita’”, contou. “Muitos de nós viajávamos para os Estados Unidos nos fins de semana e fazíamos compras sem nos preocupar com os valores. Depois do regime, tudo mudou. Nos tornamos pobres e tristes.”
Por sua idade, Carlos relatou que presenciou os anos de ouro da Venezuela e sua atual miséria, agravada depois da chegada de Maduro ao poder. Quando interpelado sobre suas expectativas, o professor de espanhol se mostrou confiante.
“Apesar de tudo que passamos, temos muita alegria”, relatou Carlos. “E, desta vez, temos a impressão de que o governo tirânico de Maduro está prestes a acabar. Cerca de 80% da população é contra o regime e esperamos melhoras há 25 anos, mas essa melhora nunca veio. Acredito que vamos ver um renascer da Venezuela, e que os dias de tristeza e pobreza irão acabar.”
“Eu fui embora da Venezuela para dar um futuro melhor ao meu filho”
Silvia Ramos, de 28 anos, é odontologista e afirmou que estava presente no local pois acredita no fim da ditadura. Ao longo da entrevista, ela relatou que tomou a decisão de ir embora da Venezuela pois não via um futuro para seu filho no país.
“Eu fui embora da Venezuela para dar um futuro melhor ao meu filho”, disse. “Lá, eu não teria estrutura para um pré-natal, um bom parto, todos os cuidados que uma mulher grávida precisa. Então, eu e meu marido nos mudamos para o Brasil”.
No evento, Silvia e sua família dançaram, conversaram com outros compatriotas e se divertiram. A odontologista também expressou sua gratidão aos brasileiros pela recepção e disse esperar que, um dia, seu filho possa conhecer a terra natal dos pais.
“O regime chavista me tornou anticomunista”
Em entrevista a , a venezuelana More Fernandéz, de 35 anos, relatou que soube que era a hora de ir embora da Venezuela quando sua família começou a ter dificuldades para manter o básico. Ela conta que sua família tinha boas condições de vida no país, porém, perderam tudo ao longo do avanço da ditadura.
“Nosso sonho era ter mais casas, carros… Os mesmos sonhos que as pessoas têm de evoluir na vida”, relatou. “Porém, quando vimos que comer duas vezes ao dia havia virado nosso sonho, percebemos que era a hora de sair da Venezuela.”
A decisão foi tomada em 2014. A família de More recebeu ajuda de um empresário brasileiro que morava em Minas Gerais. Como ele não podia receber a família em seu Estado, indicou uma pessoa de confiança em Vitória para acolher More e seus familiares.
Para More, o nome do Estado, Espírito Santo, já era um grande motivo para ter esperanças. Ela acredita que construir uma nova vida no Brasil foi uma vitória para sua família.
“Nos anos 70, 80 e 90, a Venezuela era a ‘Venezuela Saudita’”, relatou. “Eu lembro que, durante a minha infância, nós recebíamos presentes caríssimos. Com o regime chavista, isso acabou. Eu comecei a ver minha mãe preocupada pois ela não podia comprar o básico para a nossa sobrevivência.”
A estudante de nutrição ainda contou que já votou em Hugo Chávez no passado por influência de sua família, que costumava ser muito socialista. Ao longo do regime, ela mudou sua opinião e percebeu que não queria viver em meio à escassez.
“Hoje em dia, eu me considero antisocialista e anticomunista”, prosseguiu. “Já apoiei o socialismo por influência cultural, mas quando vivenciei o socialismo, percebi que não era aquilo que eu queria. Na Venezuela, muitos ainda apoiam essas ideologias por medo. Porém, quando falamos de pessoas que moram em outros lugares, acredito que quem apoia o socialismo e o comunismo nunca vivenciou ou estudou o impacto desses regimes.”
Para More, a expectativa sempre será de que o regime chavista caia. Ela afirma que não voltaria a morar na Venezuela, pois já tem uma vida estabilizada no Brasil, mas que retornaria ao país para ajudar em sua reconstrução. “A expectativa é de poder voltar e poder sair na hora que eu quiser, sem correr o risco de ser punida por uma suposta traição à pátria”.
“Ninguém quer abandonar o seu país”
José Alberto, mecânico de 38 anos, saiu da Venezuela com sua família em 2018. Ele relatou que demorou cerca de cinco anos para tomar a decisão de sair do país.
“Ninguém quer abandonar o seu país”, afirmou. “Eu tinha uma boa vida na Venezuela, porém, os problemas foram aumentando e agi para garantir o futuro dos meus filhos. Eu demorei cinco anos para tomar a decisão de ir embora”.
O mecânico também acredita que os apoiadores do socialismo não têm ideia do que é um regime socialista. “Na maioria das vezes, os candidatos socialistas se apresentam como democratas”, afirmou. “Porém, com o passar dos anos, eles começam a revelar suas intenções. No fim, quem paga é o povo”.
O resultado das eleições na Venezuela deve sair nas próximas horas da noite deste domingo. Os venezuelanos esperam dançar e comemorar a vitória e a glória do “bravo pueblo” (bravo povo, em português), mencionado em seu hino nacional, que novamente aguarda pela libertação e prosperidade de seu país.
Fonte: revistaoeste