O olhar sapeca da ativista sueca Greta Thunberg, carregada por policiais alemães, mal esconde a convicção de quem faz a coisa certa e sabe seu lugar no mundo. A bota suja, evidência de pés no chão, indica o trabalho incessante de quem abraçou uma causa e dela não se afasta. Aos 20 anos, a moça se transformou em ícone global. Por onde passa, chama a atenção e ilumina um problema da civilização moderna, na batalha para melhorar a sua relação com o meio ambiente. Na terça 17, ela foi detida depois de protestar contra a demolição de um vilarejo alemão nas cercanias da cidade de Luetzerath, no estado da Renânia, que deve dar lugar a uma mina de carvão a céu aberto. As atividades de mineração serão retomadas no local para atender à demanda energética provocada pela crise de abastecimento na Alemanha depois da invasão da Ucrânia pela Rússia. Trata-se de um enorme retrocesso ambiental — mais um efeito nefasto das agressões de Putin. Os agentes de segurança dizem ter ido atrás de Thunberg para “retirá-la de uma área perigosa”. De fato, não houve agressão e ela foi tratada com muito respeito, mas a imagem que rodou o mundo funciona como um grito de alerta: a humanidade precisa investir de forma mais intensa em maneiras alternativas de produzir energia, como a solar e a eólica — e não recorrer a métodos arcaicos. Vale lembrar o que disse a jovem militante a VEJA, em 2019, numa entrevista na seção Páginas Amarelas: “Há uma diferença brutal entre as gerações. Em comparação com os adultos, os mais jovens estão dispostos a aceitar os fatos e a promover mudanças nos hábitos”. O planeta agradece.
Publicado em VEJA de 25 de janeiro de 2023, edição nº 2825
Fonte: Veja