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Gabriel Medina busca medalha de ouro nas Olimpíadas ao retomar parceria com padrasto-técnico

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A vida de um surfista é baseada no balanço do mar. Nessa medida, entre os anos 2020 e 2022, a de Gabriel Medina, de 30 anos, viveu um verdadeiro maremoto. Foi o período em que Medina se relacionou com uma famosa modelo e se afastou da família, principalmente da mãe, Simone, e do padrasto, Charles Saldanha, o Charlão.

Durante a maior parte da carreira de Medina, Charlão fez ao mesmo um papel de pai (apesar de Medina se relacionar com seu pai biológico, Cláudio) e de treinador. Dessa maneira, Medina, nascido em Maresias, no litoral paulista, em 1993, desenvolveu seu talento para se equilibrar nas ondas.

Mas, na vida, nem sempre é possível se manter em pé e diante da linha do horizonte. A familiar foi tão grande que a mãe de Medina entrou na Justiça, depois de críticas em relação à gestão da carreira do surfista, que chegou a reduzir o repasse financeiro para ela.

Marés, no entanto, mudam na transição da noite para o dia. Medina foi superando aquele tubo de emoções e, depois que paixões se arrefeceram, se viu novamente em águas navegáveis. Diferentemente do mar, o ser humano, em parte apenas, é verdade, pode controlar alguns turbilhões de seu oceano interior.

Foi um movimento natural, como o de uma onda que cresce e se dobra suavemente, que levou a família à reconciliação, já em 2024. Medina já não vivia o relacionamento anterior e pôde rever alguns conceitos. Chamou Charlão para voltar a ser seu técnico.

Charlão e Medina estão juntos novamente nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. O tricampeão mundial de surfe (2014, 2018 e 2021) confirmou no último dia 18 que contaria de novo com o apoio de seu padrasto e treinador em Teahupo’o, Taiti, a 15,7 mil quilômetros de Paris. O objetivo é conquistar a medalha de ouro olímpica, o único título que falta em sua carreira.

“Eu resolvi chamar o Charlão para estar comigo nos Jogos Olímpicos”, afirmou Medina ao portal do Comitê Olímpico Brasileiro (COB).

Desde menino, Medina aprendeu a ouvir as orientações do padrasto, que o conhecia dentro e fora do mar. À distãncia, enquanto sua silhueta se elevava e se aproximava das nuvens ao fundo, Charlão percebia se Medina estava seguro ou indeciso. Confiante ou temeroso. Alegre ou triste, conforme conta o próprio surfista.

“Eu senti no coração e fico feliz de ele ter aceitado o convite. É uma pessoa que eu confio bastante e eu quero deixá-lo orgulhoso. A gente tem uma oportunidade muito grande aqui. Se Deus quiser a gente vai ser abençoado com uma medalha. Mas é passo a passo. A gente gosta de levar as coisas no passo a passo, mas é um momento bem especial.”

Ao lado de Charlão, Medina conquistou dois títulos mundiais (2014 e 2018), além de ter vencido diversas etapas do Circuito Mundial de Surfe (WSF, em inglês). Ganhou estofo como surfista e pôde, no período em que o padrasto esteve ausente, mostrar que consegue “surfar com sua própria prancha”, ao quase chegar ao pódio olímpico em Tóquio 2020 e conquistar seu terceiro mundial (2021).

Tal experiência o fez amadurecer como esportista. Agora, ao retomar o trabalho com o padrasto, ele fortaleceu a convicção em relação ao próprio potencial. Pode, com isso, desfrutar da confiança e do conforto de ter Charlão ao seu lado, com muito mais leveza.

“São muitos anos juntos e é a confiança mesmo”, ressalta o surfista. “Eu me sinto bem com ele do meu lado, então é o que faz sentido para mim. Tudo isso que eu faço, tudo isso que eu vivi e que eu vivo, eu acho que surfar para minha família sempre vai fazer sentido. Então é bom que ele esteja aqui.”

Diante de ondas perigosas

A trajetória de Medina até os Jogos Olímpicos de 2024 foi intensa. Em 2023, ele quase se qualificou diretamente, mas foi derrotado por Jack Robinson na de Teahupo’o. A última esperança veio nos ISA Games, em Porto Rico, onde, com apoio de Filipe Toledo e Yago Dora, Medina brilhou e garantiu a vaga olímpica.

O ouro é o maior sonho de Medina. As competições serão realizadas entre os dias 27 e 30 de julho. Ele busca coroar sua carreira com uma medalha . “Meu maior sonho é conquistar uma medalha olímpica de ouro”, admite o surfista, o maior de todos os tempos no Brasil.

“É algo muito especial para qualquer pessoa e, para mim, que já tenho três títulos mundiais, também é algo muito grande. O mundo inteiro está de olho, então, seria um sonho realizar isso.”

Medina está confiante em seu desempenho. “Eu me preparei muito para este momento”, revela ele, que conhece muito bem a intensidade e os perigos de Teahupo’o, considerado o mais difícil mar para os surfistas.

Em Teahupo’o, que em taitiano significa cabeça raspada, a onda se forma de uma profundidade enorme (em torno de 1,5 mil metros) mas quebra em uma bancada muito rasa (em torno de meio metro), repleta de corais e recifes cortantes. Muitos surfistas já se acidentaram, com a ocorrência de mortes, por lá.

Os picos dos tubos das ondas lá são conhecidos como chopes e ganham forma com cerca de 2 metros. A onda então se transforma em uma montanha- natural, com uma entrada vertical que envolve uma caverna de parede espessa, que se rompe com muita força. Medina, porém, sente que o prazer supera o medo nesse desafio. Ele se vê em casa nas ondas tubulares do local, onde já obteve bons resultados.

“Feliz de estar nas Olimpíadas no Taiti”, revela o experiente surfista. “Eu queria muito estar aqui, significa muito para mim. É um lugar que é muito especial para mim. Já tive ótimos resultados, e a onda aqui é muito perfeita. É a minha favorita. É uma onda que eu gosto de surfar, que me desafia e respeito muito.”

é uma competição diferente das do WSF.

“É diferente do que estamos acostumados no circuito mundial”, conta Medina. “Os Jogos Olímpicos são a maior competição que existe no mundo. São poucas pessoas que podem estar aqui presentes hoje, então eu me sinto honrado. Todo mundo que faz esporte sonha estar nas Olimpíadas, porque é o seu país. Você mexe com a nação inteira, então é muito grande isso aqui.”

Da praia, Charlão, observará todos os seus movimentos. Ele sabe que as conquistas de Medina sempre estão mais próximas quando, em meio ao perigo e a força das ondas, seu enteado surfa em um mar de tranquilidade.

Fonte: revistaoeste

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