Estatísticas têm mostrado que o Irã possui um arsenal mais numeroso do que Israel. Dão a entender, com isso, que uma eventual guerra entre ambos culminaria com uma derrota catastrófica para o Estado Judaico. Números, no entanto, não ganham guerras, conforme garantem os especialistas consultados por . E, ao contrário, podem maquiar uma realidade e se encaixar ao interesse das narrativas.
A informação de que o número de 1.513 tanques de guerra e 1.285 veículos blindados do Irã, em comparação com os 400 tanques de guerra e 790 veículos blindados israelenses poderia assustar os que temem por Israel. No entanto, os números estão descontextualizados em relação à realidade da guerra e dos dois países.
“O Irã não tem como usar blindados ou tanques, pois teria de atravessar o Iraque”, afirma o professor Ricardo Gennari, diretor de inteligência da Associação de Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG), com especialização nos Estados Unidos (EUA).
“O teatro de operações seria aéreo, e tropas que seriam lançadas. Israel tem a melhor inteligência do mundo com apoio norte-americano da CIA, da Agência de Segurança Nacional [NSA] e de outras agências.”
O Irã levaria maior perigo caso garanta o apoio da Rússia ou da China em um confronto.
Segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, em inglês), o orçamento de defesa do Irã chegou a cerca de US$ 7,4 bilhões em 2022 e 2023. O de Israel foi de cerca de US$ 19 bilhões.
O fato de o Irã estar melhor classificado no ranking de potências militares pode não ser determinante.
Isso porque, na 14ª colocação do Global Fire Power, o arsenal iraniano pertence a um país com 88,6 milhões de habitantes. Suas características são diferentes das de Israel, o 17º, mas com uma população muito menor, de 9,6 milhões de pessoas.
Para Israel, é mais vantajoso direcionar investimentos para o setor de ataque e defesa aéreos.
O país tem 340 aeronaves militares, contra 320 do Irã. Além disso, os aviões israelenses são mais modernos, com jatos como o F-15 com alcance de ataque de longa distância, F-35 – aviões stealth de alta tecnologia, que driblam radares, e helicópteros de ataque rápido.
As aeronaves do Irã, em grande parte, foram feitas na década de 1960, como os F-4, F-5 e F-14.
“Israel possui a maior esquadrilha no Oriente Médio, com F22 e F35, o avião mais avançado do mundo.”
O fato de Israel ter menos blindados e tanques também tem como causa a própria geografia do país, com dimensões fronteiriças muito menores do que as do Irã. Por oito anos, o Irã foi obrigado a incrementar esse setor por causa da guerra contra o Iraque, entre 1980 e 1988, país com o qual tem uma extensa fronteira. O Irã tem 1,6 milhão de quilômetros quadrados. Israel tem 22,1 mil quilômetros quadrados.
Outro ponto em questão é a eficiência do sistema de defesa. O Irã tem o maior número de mísseis balísticos e de cruzeiro do Oriente Médio, cerca de 3 mil. O alcance de mísseis como o Sejjil e o Soumar pode chegar até Israel e o sudeste da Europa, de acordo com o IISS.
Mas a capacidade de contenção israelense também é muito grande. No ataque iraniano de abril, quando foram lançados em Israel cerca de 300 mísseis e drones, o gasto israelense para bloquear a ofensiva foi de US$ 1,35 bilhão, segundo informações do brigadeiro general Ram Aminach, ex-conselheiro financeiro do chefe de gabinete israelense, ao jornal Yediot Ahronot.
O sistema é complexo, formado, entre outros, pelo Iron Dome, que detona foguetes ou mísseis de curto alcance (até cerca de 70 km), o Estilingue de David, direcionado a conter mísseis de médio alcance (até cerca de 300 km) e o Arrow, com alcance de cerca de 2,4 mil km.
Bloqueio dos mísseis
O Irã possuiu uma tecnologia considerada inferior neste setor. Seus sistemas de defesa de alta altitude, como o Bavar-373, detectam alvos a no máximo 320 km de distância, conforme informa o Instituto de Washington para Política do Oriente Próximo. Há também o Khordad-15, que estaria sendo treinado na Síria, com alcance de 120 km.
“Israel tem a Marinha, Força Aérea e um Exército bem preparados e prontos, uma diferença fundamental que aumenta a velocidade de combate”, ressalta Gennari.
O bloqueio de praticamente todos os mísseis lançados pelo Irã, tanto em abril quanto em outubro, demonstrou o preparo atual das .
Claro que há vários outros fatores que não deixam de tornar o Irã um inimigo perigoso, como o desenvolvimento de mísseis e drones, iniciados por causa da guerra com o Iraque.
“Não sei se seria fácil para Israel repelir um ataque de aviões do Irã, porque são aeronaves russas, com pilotos treinados por russos”, afirma Jairo Gawendo, especialista em segurança, que já atuou pelas FDI e hoje é reservista.
“Mas as baterias antiaéreas israelenses fazem parte de um sistema testado e consolidado, com uma grande margem de segurança para repelir os ataques. E, se for realizar uma ofensiva aérea no Irã, acredito que Israel não teria uma resistência tão forte quanto a que ela oferece.”
Fonte: revistaoeste