Centenas de vítimas de tráfico de pessoas e abuso trabalhista foram resgatadas nesta quarta-feira, 21, após uma operação de nível nacional da polícia de Portugal. Até o momento, foram identificados 243 imigrantes ilegais, de maioria asiática, que viviam em armazéns precários ao redor do país.
Liderada pela Polícia Marítima, a investigação tem como foco o combate redes de tráfico humano no país. Como resultado, as forças de segurança portuguesas prenderam ao menos quatro pessoas envolvidas no esquema, que podem responder também pelos crimes de auxílio à imigração ilegal e exploração.
Assim que aceitavam propostas de emprego, as vítimas tinham seus documentos confiscados, não recebiam salário e eram submetidas a moradias lotadas por outros residentes que também estavam sendo explorados em jornadas no comércio ilegal de mariscos.
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O portal de notícias CNN Portugal teve acesso às imagens de um dos armazéns da cidade de Montijo, próxima de Lisboa, capital do país. Colchões no chão, comidas em sacolas plásticas e sujeira intensa expõem as condições de vida as quais os estrangeiros eram submetidos.
Outras regiões, como Setúbal e Alcochete, também foram alvos da operação, com mais de 300 agentes envolvidos. Inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), da Autoridade Tributária e da Polícia de Segurança Pública (PSP) participaram da ação, que também contou com a colaboração do Serviço de Informação e Segurança (SIS).
Voltadas para o acolhimento das vítimas, equipes do Instituto da Segurança Social realocaram os imigrantes em instalações provisórias dos corpos de bombeiros. Homens e mulheres foram socorridos e, apesar dos policiais terem encontrado brinquedos, crianças não estavam nos locais investigados ao longo do dia.
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“São pessoas que vivem numa enorme pobreza, muitas em países onde há conflitos e perseguições, e são aliciadas pelos traficantes só pelo facto de poder sair dali, trabalhar e mandar dinheiro para famílias”, disse Pedro Neto, diretor-executivo da Amnistia Internacional Portugal, à CNN. “Pagam fortunas para fazer a viagem e vêm ao engano, a achar que vão ter melhores condições, e acabam por ficar cativas dos empregadores, sem os seus documentos”.
Em maio deste ano, a Câmara de Alcochete aprovou, por unanimidade, uma moção que demandava uma maior fiscalização no rio Tejo, principal zona de trabalho dos imigrantes cativos, para combater a coleta ilegal de amêijoa, principal molusco comercializado pelas redes criminosas, conhecido no Brasil pelo nome italiano “vongole”. Acredita-se que os criminosos embolsavam, anualmente, cerca de 7,7 milhões de euros por cerca de 5.600 toneladas de amêijoa.
A situação identificada na operação desta quarta-feira, no entanto, não é isolada. Autoridades acreditam que o setor agrícola é responsável pelo maior número de trabalhos análogos à escravidão, com denúncias frequentes de imigrantes presos sem pagamento nas fazendas de Alentejo. Ainda no ano passado, o Conselho da Europa informou que autoridades portuguesas localizaram 1.152 vítimas de tráfico no período entre 2016 e 2020.
Fonte: Veja