O Exército ucraniano contrata cidadãos de outros países que se voluntariam para lutar contra a Rússia. Entre eles estão brasileiros, que formam a Legião Estrangeira em Defesa da Ucrânia ao lado de colombianos, mexicanos, argentinos e até alguns franceses.
O contrato mínimo de serviço militar é de seis meses — quem sai antes é considerado um desertor. Por mês, os combatentes ganham 20 mil grívnias, o equivalente a R$ 2,8 mil por mês. O valor pode aumentar se a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) pagar um bônus de 100 mil grívnias (cerca de R$ 14 mil), mas não é obrigatório.
Até 15 de janeiro, 16 brasileiros já haviam morrido no conflito, de acordo com o Memorial Internacional de Voluntários da Ucrânia. O último foi o paranaense Gabriel Lopacinsk.
O total de estrangeiros lutando na Ucrânia é incerto. Segundo o jornal norte-americano The Washington Post, mais de 20 mil combatentes de 50 nacionalidades diferentes estariam no país.
Brasileiros dizem que motivação não é financeira
Dois brasileiros que estão combatendo pelo Exército da Ucrânia falaram sobre a guerra. Eles dizem que decidiram viajar porque conhecem uma realidade que “a mídia não mostra”. Informados por colegas e por redes sociais, afirmam ter estudado o conflito e acusam a Rússia de cometer chacinas.
Os soldados dizem que a motivação para o alistamento não foi financeira. Segundo eles, o que os levou ao front foi a “admiração pelo mundo militar”, o “patriotismo” e o “desejo de fazer um mundo melhor”.
Matheus Jandres quer ajudar as “crianças que sofrem”
Um deles é Matheus Jandres, natural de Soledade (RS). Ele desembarcou na Ucrânia um dia antes do Natal de 2024.
Jandres assinou contrato para lutar na guerra e deixou no Brasil a mulher e a filha de seis meses. Ele diz que pretende cumprir o contrato e voltar para o primeiro aniversário da menina, que nasceu prematura e teve câncer diagnosticado logo nas primeiras semanas de vida.
“Eu já estava acompanhando a guerra e já tinha sido militar”, contou o soldado ao portal Uol. “Estudei muito a situação das crianças, como elas sofrem, como perdem as casas, os pais, como estão em abrigos. Isso é muito triste. Lembro como se fosse hoje, estava olhando para minha filha e falei: ‘Tenho que fazer alguma coisa’.”
Jandres compartilha algumas situações vivenciadas na Ucrânia em seu perfil no Instagram.
A família resistiu à ideia, mas aceitou a decisão depois de ele explicar suas razões. Para evitar represálias russas, ele evita divulgar informações pessoais.
Outro brasileiro na guerra no leste europeu, Ezequiel Rocha, de Londrina (PR), também serviu ao Exército brasileiro antes de se alistar na Ucrânia. Ele contou que, três dias depois de chegar ao país, já recebeu o equipamento e iniciou os treinos.
Ezequiel diz que a situação no front é muito mais grave do que o noticiado. Segundo ele, mulheres ucranianas são vítimas de estupros e crianças também sofrem com a violência em vilas invadidas.
“Meu propósito é ajudar a Ucrânia na parte do combate”, diz. “Se você pensa em vir para fazer um pé de meia, esquece. Aqui não é brincadeira.”
O soldado teme não conseguir voltar ao Brasil e até enfrentar punições. “Meu maior medo é não conseguir voltar”, afirma. “Não por estar ferido, mas por ser extraditado pra Rússia e condenado por crime de guerra.”
Fonte: revistaoeste