Oito meses depois da morte da rainha Elizabeth II, a coroação do rei Charles III, marcada para o próximo sábado, 6, vai servir como oportunidade para refletir como o Reino Unido mudou. O evento, financiado pelos contribuintes britânicos, tenta ser uma demonstração de estabilidade na casa real em tempos de drama familiar.
Apesar da maioria dos britânicos ser a favor da monarquia, cerca de 68% segundo uma pesquisa da Ipsos, o número vem caindo constantemente. Em 2012, por exemplo, 80% dos britânicos apoiavam a monarquia. Atualmente, os jovens tendem a ser mais antimonárquicos.
Embora o Reino Unido já tenha tentado diversas maneiras de atrair o público mais novo, há uma lista menor de convidados para este ano, cerca de 2 mil pessoas vão estar presentes na Abadia de Westminster, em comparação com mais de 8 mil em 1953. Algumas estrelas pop britânicas, como Elton John e as Spice Girls, recusaram convites para se apresentar.
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A última vez que uma cerimônia de coroação ocorreu para um rei e uma rainha consorte foi em 1937, na cerimônia do rei George VI e da Elizabeth I, a rainha-mãe. Na época, a rainha Elizabeth II tinha 11 anos.
“No caso de George VI e da rainha Elizabeth, foi realmente a oportunidade de mostrar que a monarquia estava em boa forma, após o trauma da abdicação que ocorrera apenas cinco meses antes”, disse Sally Bedell Smith, autora de “George VI e Elizabeth: o casamento que salvou a monarquia”, à revista Time.
O rei de 41 anos assumiu o cargo depois que Edward VIII abdicou do trono para se casar com a socialite americana Wallis Simpson. Legalmente, assim que o antigo rei abdicou, George VI já era rei oficialmente, porém a cerimônia era puramente religiosa e santificava o rei como monarca e herdeiro do direito divino dos reis. Na época, apesar da Segunda Guerra Mundial estar em desenvolvimento, os britânicos receberam bem a celebração.
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“Tínhamos Hitler no poder, ocupado em rearmar e se preparar para a guerra, a terrível depressão econômica – muitas situações ameaçadoras, principalmente na Europa, mas também na Grã-Bretanha”, disse Smith. “Mas, no entanto, a coroação foi muito elaborada. Milhões de pessoas estavam lá e acho que as pessoas realmente queriam ver uma grande celebração.”
O mesmo se repetiu com a rainha Elizabeth II. Quando ela foi coroada, o Reino Unido também estava em péssimas condições com as privações após a Segunda Guerra Mundial e escassez de bens básicos eram comuns. No entanto, os britânicos optaram por fazer uma cerimônia de coroação tradicional, que segundo a revista americana Time, custou 25 vezes mais do que a primeira.
Para Charles III, a cerimônia é vista como um evento simplificado, já que milhões de britânicos enfrentam uma crise de custo de vida devido à inflação e aos custos de energia. Enquanto que na coroação de Elizabeth II, mais de 800 deputados e 900 autoridades foram convidados para a celebração, este ano um número de vagas para parlamentares e membros da Câmara dos Lordes é alocada por votação entre partidos.
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Além disso, esta vai ser a primeira vez em quase três séculos que uma rainha consorte vai fazer modificações em uma coroa existente para o evento, em vez de encomendar uma nova. Camilla vai ser coroada com uma coroa feita em 1911 para a rainha Mary, bisavó de Charles.
A idade também é uma diferença notável entre o rei Charles III e seus predecessores. Quando Elizabeth II assumiu, ela tinha apenas 27 anos, enquanto Charles tem 74 e Camilla, 75. Na época, Elizabeth II caminhou sozinha pela Abadia de Westminster, representando “a promessa da juventude”, segundo Smith. Já George VI tinha 41 anos e a rainha-mãe tinha 36 anos no dia da coroação.
No entanto, a “promessa da juventude” ainda será representada na coroação de 2023 pelo filho mais velho de Charles, o príncipe William, que é o primeiro na linha de sucessão ao trono. Segundo o jornal britânico Sunday Times, ele será o único autorizado a se ajoelhar diante de seu pai e beijar sua bochecha direita durante a cerimônia.
Desta vez, o óleo em que Charles será ungido vai ser vegano e conterá azeite perfumado com gergelim, jasmim, canela, neroli, benjoim e âmbar, além de flor de laranjeira. Na coroação de Elizabeth, o óleo incluía âmbar cinza de intestinos de baleia.
Além disso, este ano meninas estarão entre os alunos da King ‘s Scholar, que em 1953 era exclusiva para meninos. Os estudantes vão ficar responsáveis por aclamar o rei com uma saudação em latim “Vivat Rex Carolus!” (“Viva o rei Charles!”).
Fonte: Veja